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Pesquisador brasileiro integra grupo da Organização Meteorológica Mundial que avalia modelos climáticos
Grupo trabalha para tornar as informações científicas mais acessíveis aos usuários, como tomadores de decisão
Um cientista brasileiro é o único da América Latina a integrar o grupo que vai avaliar o novo conjunto de modelos climáticos globais. O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lincoln Alves, integra o time de ‘Acesso a Dados Climáticos ’ do CMIP7. A primeira reunião do grupo foi realizada no início de abril (4).
A modelagem climática consiste em equações matemáticas que representam a dinâmica do sistema climático, incluindo atmosfera, oceano, superfície terrestre. Esses modelos são utilizados para simular o comportamento dos componentes do sistema climático para o futuro e também recriar os cenários climáticos do passado. “Quanto melhor esse modelo consegue representar as condições do sistema climático do passado, mais confiança tem-se de analisar os dados que o sistema projeta para o futuro”, detalha o pesquisador.
Alves integra o grupo ‘Acesso a Dados Climáticos’, que reúne 13 pesquisadores de nove países. Esse é um dos sete grupos de trabalho do Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados que encontra-se no sétimo ciclo (CMIP7, na sigla em inglês). O projeto é conduzido pela Organização Meteorológica Mundial e coordena os esforços para melhorar a qualidade geral e a confiabilidade dos resultados do modelo com o objetivo de entender as mudanças climáticas passadas, presentes e futuras.
“É um projeto de longo prazo que tem por objetivo a intercomparação de modelos, ou seja, tem o propósito de colocar em um único ambiente os modelos produzidos por diferentes centros”, sintetiza Alves.
Para ilustrar, os modelos climáticos são a base dos cenários apresentados nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC). O relatório síntese do AR6 utilizou os resultados do CMP6, disponibilizados recentemente. Esses modelos climáticos também estão na plataforma AdaptaBrasil , que, combinados com variáveis de capacidade adaptativa e fatores socioeconômicos, definem o risco climático.
Segundo Alves, as recomendações do CMIP são direcionadas aos centros de modelagem climática que executam os experimentos sob os protocolos do projeto. Com isso, além de padronizar variáveis e séries temporais, entre outros aspectos, é possível ter comparações entre os modelos. O início das simulações está previsto para 2024.
Atualmente, os principais centros climáticos que dispõem de infraestrutura computacional para desenvolver e processar modelos climáticos estão em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Europa, Ásia e Austrália. Ainda não há centros com essa capacidade na América Latina e África.
Reduzir distância entre provedores de informações e usuários
O objetivo do grupo “Acesso a Dados Climáticos” é compreender quais são as dificuldades que tanto os provedores como os usuários dessa informação têm para otimizar ao máximo o uso dessas informações, em particular para os países do Sul Global, que possuem menos infraestrutura tecnológica para trabalhar com volume de dados como o que esses projetos requerem. “Estamos falando de petabytes de dados. Precisa de uma infraestrutura grande”, explica Alves. Petabytes quer dizer dados na casa do quatrilhão.
A ideia é verificar quais aspectos podem ser melhorados na apresentação dos dados para ampliar o acesso para além da comunidade científica. “Há uma crescente demanda por essas informações, como economia e saúde, que não têm o conhecimento técnico para manipular e interpretar esses dados. Vamos discutir sobre as principais barreiras e vamos elaborar recomendações para os demais grupos de trabalho, que estão relacionados com o CMIP7”, destaca o pesquisador. “Não temos a responsabilidade de implementar, mas de criar um guia sobre como os demais grupos podem trabalhar para reduzir a distância entre os provedores e os usuários”, complementa.
Os cientistas que integram o projeto são selecionados por edital . Alves relata que o trabalho que tem desenvolvido no Brasil, de realizar a interface entre a ciência e os usuários das informações ou tomadores de decisão, estava alinhado com os objetivos propostos para discussão no grupo e o motivou a se candidatar no processo seletivo. “Eu trabalho como provedor da informação, mas a ideia aqui [no grupo] é ser uma ponte para compreender quais são as barreiras para melhorar o acesso e a interpretação dos usuários dessas informações”, explica Alves sobre como a experiência brasileira pode contribuir.
Por email, um dos coordenadores do grupo, professor Robert Pincus , da Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, afirmou que tem expectativa de que o trabalho do grupo se prolongue além de alguns meses. Inicialmente, o cronograma indica 18 meses de trabalho. Pincus destacou que o grupo tem uma responsabilidade importante à medida que os dados produzidos pelos esforços do modelo climático internacional têm sido acessíveis a uma população relativamente restrita, enquanto o problema da mudança climática afeta muitas pessoas. “A equipe de trabalho trabalhará para identificar e, principalmente, reduzir as barreiras de acesso a informações climáticas de ponta, para que pessoas de todo o mundo possam fazer planos de adaptação e mitigação”, explicou.