Lista negativa de microrganismos
- Sobre a lista negativa de microrganismos
- Histórico
- Microrganismos listados
- Identificação comprobatória
- Fichas técnicas e metodologias de identificação
- Legislação
Sobre a lista negativa de microrganismos
A publicação da Portaria Ibama 180, de 23 de dezembro de 2024, regulamenta o registro de agentes microbiológicos de controle e de biorremediadores através de uma lista de espécies que não deverão constar na formulação dos produtos. A portaria considera os potenciais impactos ambientais da introdução dos táxons microbianos listados no meio ambiente.
A listagem é um desdobramento da publicação da Instrução Normativa Ibama 5, de 26 de agosto de 2016, que determinava o indeferimento dos pleitos de registro de agrotóxicos biológicos e biorremediadores formulados com espécies sem comprovação de ocorrência natural no Brasil. O objetivo da instrução normativa era prevenir a introdução de espécies exóticas invasoras, alinhando-se aos compromissos firmados pelo Brasil junto à Convenção sobre Diversidade Biológica.
Dessa forma, a publicação da portaria busca a regulamentar alternativas biotecnológicas seguras, equilibrando o seu uso com a proteção ambiental e a conservação da biodiversidade brasileira.
Histórico
Em 26 de agosto de 2016, o Ibama publicou a Instrução Normativa Ibama 5, que determina o indeferimento dos pleitos de registro e registro especial temporário de agentes microbiológicos de controle, bem como de registro e de pesquisa e experimentação com biorremediadores, caso não seja comprovada a ocorrência natural, no Brasil, dos ingredientes ativos microbianos da formulação.
A publicação da norma foi motivada pelas disposições da Convenção sobre Diversidade Biológica, que estabelece, no item 'h' do seu artigo 8º, que cada país membro deve impedir que se introduzam e controlar espécies exóticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espécies.
Espécies exóticas invasoras estão entre os cinco principais fatores responsáveis pela perda de biodiversidade no planeta. Assim, considerando a ausência de critérios para a avaliação dos riscos da introdução de espécies microbianas como ingredientes ativos de agrotóxicos biológicos e biorremediadores em território brasileiro, a instrução normativa foi elaborada com o objetivo de prevenir potenciais impactos ambientais e proteger a biodiversidade brasileira.
Por outro lado, a introdução de microrganismos a serem empregados como agentes microbiológicos de controle e biorremediadores, quando considerada segura e realizada de forma controlada, pode trazer benefícios no controle de organismos nocivos ou na recuperação de ecossistemas contaminados. Portanto, a definição de critérios para a avaliação dos riscos da introdução de espécies sem comprovação de ocorrência natural permitiria a regulamentação da Instrução Normativa Ibama 5/2016 e a disponibilização de novas alternativas biológicas para o controle ambiental e a remediação.
Por meio do Projeto GEF Pró-Espécies, organizado pelo Ministério do Meio Ambiente, a Diretoria de Qualidade Ambiental desenvolveu critérios para avaliação de microrganismos a serem introduzidos no Brasil para o emprego como agrotóxicos biológicos e remediadores ambientais. Uma consultoria técnica foi realizada para levantar legislações internacionais, informações científicas sobre microrganismos e os impactos ambientais da sua introdução, e propor parâmetros para a avaliação.
O processo de consolidação da Portaria 180/2024 envolveu uma ampla discussão técnica e científica, incluindo contribuições de outros órgãos governamentais, pesquisadores, organizações não governamentais e associações de empresas, além de consulta pública. Como resultado, foi proposta a elaboração da lista negativa e de fichas técnicas que justificam cientificamente a inclusão de cada táxon na lista, além de fornecerem metodologias de identificação detalhadas. Essa abordagem visa equilibrar o uso sustentável de tecnologias biológicas com a preservação ambiental, contribuindo para uma gestão mais responsável e eficiente do meio ambiente no país.
Microrganismos listados
O Anexo I da Portaria Ibama 180/2024 lista todos os táxons microbianos que, em função dos possíveis impactos ambientais decorrentes da sua introdução no ambiente, não deverão ser registrados como biorremediadores, agrotóxicos, produtos de controle ambiental ou afins, à base de agentes microbiológicos.
A justificativa técnico-científica para a inclusão de cada táxon está incluída nas fichas técnicas de cada microrganismo. A inclusão, exclusão ou alteração de táxons do Anexo I poderá acontecer, quando necessário, após solicitação.
As solicitações deverão apresentar justificativa técnica referenciada e embasada em publicações de revistas científicas indexadas, com revisão por pares, publicações de instituições de pesquisa ou pareceres emitidos por entes internacionais que tenham similaridade de medidas e controles em relação aos requisitos de avaliação aplicados no Brasil. Os pedidos serão avaliados pelo Ibama e o resultado e as possíveis alterações da norma deverão ser submetidas à consulta pública.
|
Agrupamento Taxonômico Superior |
Hospedeiros Afetados |
Família |
Táxon Restrito |
|
Domínio Bacteria |
Patógeno de Plantas |
Comamonadaceae |
Acidovorax citrulli |
|
Burkholderiaceae |
Burkholderia caryophylli |
||
|
Rhizobiaceae |
Candidatus Liberibacter sp. |
||
|
Acholeplasmataceae |
Candidatus Phytoplasma sp. |
||
|
Microbacteriaceae |
Clavibacter michiganensis |
||
|
Curtobacterium flaccumfaciens |
|||
|
Leifsonia xyli |
|||
|
Pectobacteriaceae |
Dickeya spp. |
||
|
Enterobacteriaceae |
Erwinia amylovora |
||
|
Pseudomonadaceae |
Pseudomonas cichorii |
||
|
Pseudomonas savastanoi |
|||
|
Ralstoniaceae |
Ralstonia solanacearum |
||
|
Spiroplasmataceae |
Spiroplasma kunkelii |
||
|
Xanthomonadaceae |
Xanthomonas sp. |
||
|
Xylella fastidiosa |
|||
|
Patógeno de Animais |
Anaplasmataceae |
Anaplasma sp. |
|
|
Ehrlichia ruminantium |
|||
|
Brucellaceae |
Brucella abortus, Brucella melitensis e Brucella suis |
||
|
Brucella ovis |
|||
|
Campylobacteraceae |
Campylobacter fetus |
||
|
Sem Classificação |
Candidatus Hepatobacter penaei |
||
|
Coxiellaceae |
Coxiella burnetii |
||
|
Dermatophilaceae |
Dermatophilus congolensis |
||
|
Hafniaceae |
Edwardsiella sp. |
||
|
Pasteurellaceae |
Mannheimia haemolytica |
||
|
Enterococcaceae |
Melissococcus plutonius |
||
|
Mycoplasmataceae |
Mycoplasma agalactiae |
||
|
Mycoplasma gallisepticum, M. synoviae, M. iowae e M. meleagridis |
|||
|
Paenibacillaceae |
Paenibacillus larvae |
||
|
Alcaligenaceae |
Taylorella equigenitalis |
||
|
Reino Fungi |
Patógeno de Plantas |
Pucciniaceae |
Aecidium glycines |
|
Endophyllum kaernbachii |
|||
|
Gnomoniaceae |
Apiognomonia errabunda |
||
|
Apiognomonia erythrostoma |
|||
|
Discula destructiva |
|||
|
Sirococcus clavigignenti-juglandacearum |
|||
|
Venturiaceae |
Arkoola nigra |
||
|
Sphaerophragmiaceae |
Austropuccinia psidii |
||
|
Sclerotiniaceae |
Botryotinia porri |
||
|
Ciborinia allii |
|||
|
Monilia polystroma |
|||
|
Nectriaceae |
Calonectria pseudonaviculata |
||
|
Gibberella circinata |
|||
|
Gibberella indica |
|||
|
Gliocephalotrichum bulbilium |
|||
|
Coleosporiaceae |
Chrysomyxa sp. |
||
|
Thekopsora areolata |
|||
|
Didymellaceae |
Didymella fabae |
||
|
Botryosphaeriaceae |
Botryosphaeria berengeriana f.sp. pyricola |
||
|
Diplodia seriata |
|||
|
Magnaporthaceae |
Harpophora maydis |
||
|
Magnaporthe oryzae Triticum pathotype |
|||
|
Bondarzewiaceae |
Heterobasidion sp. |
||
|
Helotiaceae |
Hymenoscyphus fraxineus |
||
|
Saccotheciaceae |
Kabatiella zeae |
||
|
Hymenochaetaceae |
Pyrrhoderma noxium |
||
|
Erysiphaceae |
Phyllactinia guttata |
||
|
Ophiostomataceae |
Raffaelea lauricola |
||
|
Sporocadaceae |
Seiridium cardinale |
||
|
Glomosporiaceae |
Thecaphora frezii |
||
|
Tilletiaceae |
Tilletia controversa |
||
|
Pleosporaceae |
Trichoconiella padwickii |
||
|
Pileolariaceae |
Uromycladium spp. |
||
|
Phragmidiaceae |
Gerwasia sp. |
||
|
Hamaspora sp. |
|||
|
Kuehneola sp. |
|||
|
Mainsia rubi |
|||
|
Glomerellaceae |
Glomerella gossypii |
||
|
Ochropsoraceae |
Ochropsora ariae |
||
|
Crossopsoraceae |
Neoolivea tectonae |
||
|
Leptosphaeriaceae |
Plenodomus tracheiphilus |
||
|
Patógeno de Animais |
Chytridiaceae |
Batrachochytrium dendrobatidis |
|
|
Batrachochytrium salamandrivorans |
|||
|
Pseudeurotiaceae |
Pseudogymnoascus destructans |
||
|
Grupo Vírus |
Patógenos de Plantas |
Geminiviridae |
Begomovirus sp. (East African cassava mosaic virus, Squash leaf curl virus, Tomato leaf curl New Delhi virus, Tomato yellow leaf curl virus, Tomato severe rugose virus, Pepper huasteco yellow vein virus, Watermelon chlorotic stunt virus, Cotton leaf curl geminivirus, Bean golden mosaic virus, Sida common mosaic virus, Sida micrantha mosaic virus, Sida mottle Alagoas virus, Sida yellow mosaic virus, Sida micrantha. Euphorbia mosaic virus, Euphorbia yellow mosaic virus, Macroptilium golden mosaic virus, Passion flower little leaf mosaic virus, Passion fruit severe leaf distortion virus e Tomato chlorotic mottle virus) |
|
Alphaflexiviridae |
Cassava virus |
||
|
Secoviridae |
Cheravirus sp. (Apple latent spherical virus, Cherry rasp leaf virus, Stocky prune virus) |
||
|
Nepovirus sp. (Cherry leaf roll virus, Raspberry ringspot virus e Potato black ringspot virus) |
|||
|
Satsuma dwarf virus |
|||
|
Betaflexiviridae |
Citrus tatter leaf virus |
||
|
Potato latent virus |
|||
|
Solemoviridae |
Cocksfoot mottle virus |
||
|
Rice yellow mottle virus |
|||
|
Closteroviridae |
Crinivirus sp. (Cucurbit yellow stunting disorder virus, Abutilon yellows virus, Tomato infectious chlorosis virus e Lettuce infectious yellows virus) |
||
|
Cucurbit yellow stunting disorder virus |
|||
|
Little cherry virus 1 |
|||
|
Virgaviridae |
Cucumber green mottle mosaic virus |
||
|
Potyviridae |
Cucumber vein yellowing virus |
||
|
Wheat streak mosaic virus |
|||
|
Luteoviridae |
Cucurbit aphid-borne yellows virus |
||
|
Rhabdoviridae |
Eggplant mottled dwarf alphanucleorhabdovirus |
||
|
Nanoviridae |
Faba bean necrotic yellows virus |
||
|
Tospoviridae |
Groundnut Bud Necrosis Virus |
||
|
Orthotospovirus sp. (Tomato spotted wilt virus, Watermelon silver mottle virus, Groundnut bud necrosis orthotospovirus, Groundnut ringspot orthotospovirus, Groundnut yellow spot orthotospovirus, Impatiens necrotic spot orthotospovirus, Iris yellow spot orthotospovirus, Polygonum ringspot orthotospovirus, Tomato chlorotic spot orthotospovirus, Watermelon bud necrosis orthopovirus, Watermelon silver mottle orthotospovirus, Zucchini lethal chlorosis orthotospovirus e Tospovirus Bean necrotic mosaic virus) |
|||
|
Betaflexviridae |
Peach mosaic virus |
||
|
Pospiviroidae |
Tomato apical stunt viroid |
||
|
Patógenos de Animais |
Arteriviridae |
Artervirus sp. (Porcine Reproductive and Respiratory Syndrome, Equine Viral Arteritis, Lactate dehydrogenase-elevating Virus, Simian Hemorrhagic Fever Virus) |
|
|
Baculoviridae |
Baculovirus penaei |
||
|
Nudiviridae |
Penaeus monodon nudivirus |
||
|
Dicistroviridae |
Acute bee paralysis virus |
||
|
Black queen cell virus |
|||
|
Kashmir bee virus |
|||
|
Taura syndrome virus |
|||
|
Iflaviridae |
Deformed wing virus |
||
|
Sacbrood virus |
|||
|
Paramyxoviridae |
Canine distemper virus |
||
|
Newcastle disease virus (Avian avulavirus 1) |
|||
|
Picornaviridae |
Avihepatovirus A |
||
|
Roniviridae |
Gill-associated virus |
||
|
Parvoviridae |
Infectious hypodermal and hematopoietic necrosis virus |
||
|
Iridoviridae |
Ranavirus sp. (Bohle Iridovirus, Epizootic hematopoietic necrosis virus, European catfish virus, European sheatfish virus e Saint-Cooper ranavirus) |
||
|
Rhabdoviridae |
Vesicular stomatitis virus |
||
|
Nimaviridae |
White spot syndrome virus |
||
|
Unassigned Viruses* |
Chronic bee paralysis virus |
||
* Este vírus não possui classificação definida segundo o ICTV. Porém consta disponibilizada no site deste órgão a informação sobre suas características estruturais e moleculares para auxiliar na identificação e tomada de decisão sobre a identificação do vírus.
Identificação comprobatória
Deverá ser feita uma identificação comprobatória para descartar a presença dos microrganismos restritos, seguindo as fichas técnicas de metodologias de identificação publicadas abaixo, sempre que a identificação dos microrganismos presentes nas formulações mostrar relação filogenética com qualquer um dos microrganismos listados no Anexo I.
Os táxons filogeneticamente relacionados que deverão passar pela investigação comprobatória também estão indicados nas fichas técnicas.
Fichas técnicas e metodologias de identificação
As fichas técnicas incluem a justificativa científica para inclusão de cada um dos táxons na lista negativa. Além disso, o documento apresenta a metodologia de identificação para cada um dos microrganismos listados.
Durante a identificação dos táxons microbianos, qualquer desvio nas instruções propostas nas fichas deverá ser tecnicamente justificado. O emprego de métodos alternativos dependerá de autorização prévia do Ibama.
- Fichas técnicas com metodologias de identificação de táxons de bactérias e justificativas para inclusão na lista (PDF, 827 KB)
- Fichas técnicas com metodologias de identificação de táxons de fungos e justificativas para inclusão na lista (PDF, 981 KB)
- Fichas técnicas com metodologias de identificação de táxons de vírus e justificativas para inclusão na lista (PDF, 736 KB)
Legislação
|
Estabelece a lista de espécies microbianas que não deverão constar na formulação de biorremediadores, agrotóxicos ou produtos de controle ambiental ou afins, à base de agentes microbiológicos, para fins da avaliação ambiental realizada pelo Ibama. |
|
|
Estabelece o procedimento a ser adotado pelo Ibama quando do recebimento de pleito de registro e de registro especial temporário referente a agente biológico ou a produtos à base de agentes microbiológicos, exóticos ou sem comprovação de ocorrência natural no País |