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Perímetro Irrigado de Sumé: um marco de transformação no Cariri Paraibano
O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) tem sua história entrelaçada às paisagens áridas do Nordeste, onde cada projeto nasce como um gesto de esperança e coragem. No coração do Cariri Paraibano, o Perímetro Irrigado de Sumé (PIS) despontou como um oásis construído pela determinação humana, revelando que, mesmo em terras sedentas, a água da dedicação e do trabalho pode fazer florescer novas possibilidades.
Segundo estudo realizado por Ricardo Mendonça, para a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o PIS foi idealizado pelo DNOCS com um objetivo ambicioso e socialmente relevante: demonstrar a viabilidade da irrigação como ferramenta de desenvolvimento, estimular práticas agrícolas modernas, fixar famílias agricultoras em regiões pouco dinâmicas e fomentar a formação de uma classe média rural.
Da concepção à implantação do projeto
As obras iniciais começaram em 1967, quando equipes técnicas com experiência em outros perímetros do DNOCS chegaram à região, integrando trabalhadores locais à construção da infraestrutura. De acordo com Mendonça, os primeiros colonos foram instalados em 1970, começando com apenas duas famílias. Todo o processo de implantação, que envolveu a seleção das famílias, distribuição dos lotes e organização das áreas, ocorreu entre 1970 e 1976.
Pesquisas acadêmicas, incluindo as de Ricardo Mendonça, denominam o período entre 1970 e 1983 como os “anos de glória” do PIS, devido ao sucesso produtivo, à reorganização social e ao fortalecimento econômico que o projeto proporcionou ao município.
Além das obras físicas, o DNOCS também teve forte atuação na gestão do perímetro. Conforme aponta Mendonça, técnicos especializados em socioeconomia, agronomia, extensão rural e cooperativismo ofereciam treinamento de três meses aos agricultores selecionados, além de acompanhamento periódico. A equipe administrativa recebeu ainda capacitação em projetos consolidados, como o perímetro de São Gonçalo.
Modernização e impacto na vida urbana
O perímetro provocou uma profunda transformação na vida de Sumé. Uma nova dinâmica urbana se estabeleceu a partir da chegada de serviços e tecnologias associados à modernização: luz elétrica em substituição aos antigos geradores a diesel, telefonia que rompeu o isolamento regional e instituições financeiras que passaram a apoiar a produção agrícola.
Para a população local, que havia recentemente alcançado autonomia administrativa, o perímetro significou um novo ciclo de desenvolvimento. O empreendimento se alinhava ao amplo programa governamental de combate aos efeitos da seca, baseado na racionalização técnica e no aumento da produtividade, oferecendo emprego, maior disponibilidade de alimentos e perspectivas de estabilidade.
Em seu trabalho, Mendonça descreve o contexto social anterior à implantação do PIS: muitos trabalhadores rurais eram submetidos a relações de compadrio nas grandes propriedades, o que gerava dependência e limitava alternativas de mobilidade social. O Perímetro de Sumé surgiu como uma oportunidade inédita tanto para famílias selecionadas como irrigantes quanto para aqueles que se tornaram trabalhadores assalariados temporários.
O pesquisador também destaca que os resultados positivos do PIS inspiraram pequenos agricultores que, mesmo sem serem proprietários de terra e com poucos recursos, passaram a produzir hortaliças nas margens do açude, garantindo sustento e autonomia.
Produção agrícola e integração comercial
Segundo Mendonça, a produção agrícola do PIS concentrou-se principalmente em tomate e milho industrial. Esses produtos, cultivados em escala e com qualidade elevada, eram integralmente comercializados no Estado de Pernambuco, o que assegurou estabilidade econômica às famílias e fortaleceu a integração regional.
Um legado de desenvolvimento e transformação
A trajetória do Perímetro Irrigado de Sumé evidencia o potencial transformador das ações do DNOCS. A combinação entre infraestrutura hídrica, gestão técnica qualificada e articulação comercial gerou empregos, fixou famílias no campo e promoveu desenvolvimento social sustentável no Semiárido.
Mais do que um projeto de irrigação, o Perímetro Irrigado de Sumé consolidou-se como um símbolo de progresso para o Cariri Paraibano e permanece como referência na história das ações do DNOCS.