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Nordeste é Lindo!
Um dos maiores publicitários brasileiros e expert em marketing político, Nizan
Guanaes publicou recentemente um artigo nos principais jornais do país
intitulado “Nordeste is beautiful”, no qual faz alusão à onda recente de
preconceito contra nordestinos por indivíduos ou facções de grupos difusos.
Fazendo um comparativo entre o que acontecia nos Estados Unidos nos anos 60 do
século passado, o publicitário escreveu esse interessante artigo que deve ser
lido e entendido por toda a sociedade brasileira. Abaixo, seu conteúdo:
“ANDREW YOUNG foi duas vezes prefeito de Atlanta, para onde ajudou a levar a
Olimpíada, e embaixador dos Estados Unidos perante a ONU durante o governo Jimmy
Carter. Mas, acima de tudo, o embaixador Andrew Young já tinha entrado na
história como um dos principais parceiros do doutor Martin Luther King na luta
pelos direitos civis nos Estados Unidos.
Sua conversa brilhante me anima e me aquece numa noite muito fria da Geórgia.
Existem conversas que -assim como grandes ondas- não temos estatura para
enfrentar. É melhor ouvir. E seria uma burrice falar. Porque, a cada momento em
que Andrew Young se cala, perdemos um pouco de história.
Os filhos de Martin Luther King estão sentados à minha frente na mesa de
jantar e ouvem o embaixador Young com respeito e reverência: Young foi um dos
principais ativistas da luta contra o racismo no sul dos EUA.
Inspirado por Gandhi, ele ajudou a conceber uma resistência pacífica contra
leis racistas que ainda vigoravam em alguns Estados da Federação americana.
Andrew Young esteve sempre ao lado de Martin Luther King, inclusive num dos
momentos mais icônicos daquela dura luta: o assassinato do próprio King no motel
Lorraine, em Memphis, em 4 de abril de 1968.
Jamais vou me esquecer das palavras de Young. Ele me disse: "Meus netos não vão
sofrer mais racismo organizado. A luta pelos direitos civis na América acabou
com isso. O que eles poderão sofrer é o racismo desorganizado, eventual,
espasmódico".
ATLANTAS BRASILEIRAS
“Ao voltar ao Brasil e encontrar tolices escritas aqui e ali contra os
nordestinos, as palavras do embaixador Andrew Young me alentam e me ajudam a
organizar o pensamento. Não vou levar essa burrice a sério. Porque burrice
acontece em qualquer lugar.
Uma das portas do crescimento deste país hoje é o Nordeste: é a nossa China
estatística, a base da pirâmide, a nova fronteira. Não há grande empresa que não
esteja preocupada em levar os seus produtos para onde o país se desenvolve.
Os nordestinos ajudaram a construir São Paulo e agora estão desenvolvendo o
Nordeste. O IBGE já detecta mudança nos fluxos migratórios. A mobilidade da
força de trabalho é mãe da competitividade.
É um dos segredos da riqueza dos EUA, foi assim que a Atlanta de Andrew Young
tornou-se um dos motores econômicos do sul, sede da Coca-Cola, da CNN e de
tantas outras corporações globais. Quantas Atlantas brotarão do Nordeste neste
Renascimento econômico da região e do país?
São Paulo também é uma cidade que abraça a todos. Plural. Não fosse isso, sua
principal rede de varejo não se chamaria Casas Bahia. Eu amo São Paulo, cidade
que me acolheu e me deu tudo.
Quem derrotou primeiro o preconceito no Brasil foi o sexo. Os portugueses não
trouxeram portuguesas. O Brasil sempre resolveu melhor suas misturas na prática
do que no discurso.
Não conseguimos sequer responder com clareza à mais básica das perguntas nesse
debate: há racismo no Brasil hoje? Como Andrew Young, acredito que não de forma
organizada.
Mas o racismo institucionalizado de séculos passados ainda aparece na
desigualdade entre, por exemplo, a renda de brancos e a de pretos, na
denominação utilizada pelo IBGE.
É uma herança que confunde o pensamento e o comportamento, um racismo herdado,
não mais cultivado.
A solução para essa dívida secular finalmente chegou. E da maneira mais óbvia. O
desenvolvimento econômico é a única cicatriz para essa ferida. Estamos em plena
cura. Tardia, mas eficiente."