Notícias
Coremas de vila à cidade: uma história desenhada pelo DNOCS
A história do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) é inseparável da história do semiárido nordestino. Em geral, a narrativa se concentra nas construções de grandes açudes, símbolos de resiliência contra a estiagem. Contudo, uma parte fundamental desse legado, que moldou a vida social e urbana de diversas cidades, reside nas obras de engenharia social e arquitetônica: as Vilas Operárias.

- .
A construção do Açude Estevam Marinho foi uma grande impulsionadora do desenvolvimento nessa região do estado. No entanto, no quadro "Nossas Histórias" de hoje queremos nos aprofundar na vida que floresceu ao redor da obra. A historiadora Jocilene da Silva Souza, em seu trabalho “Coremas de vila à cidade: açude Estevam Marinho como impulsionador da vida urbana nas décadas de 1930-1940”, argumenta que a construção do açude foi o elemento-chave para a formação da cidade.
A Vila Operária, erguida pelo DNOCS, não era um mero canteiro de obras temporário. Ela foi concebida como uma estrutura de apoio permanente, com casas padronizadas, ruas traçadas e infraestrutura básica, destinada a abrigar engenheiros, técnicos e suas famílias, além de servir como sede administrativa da autarquia na região.
A presença do DNOCS no sertão, através dessas vilas, representou a interiorização do governo federal e a chegada de um novo modelo de vida e trabalho. A antropóloga Fernanda Lucchesi, em seu artigo “As obras contra as secas e a interiorização da burocracia: a ação do DNOCS no sertão da Paraíba”, detalha como a instalação do DNOCS em Coremas gerou impactos sociais profundos, transformando a dinâmica local.

- .
Além dos técnicos, a construção do açude mobilizou milhares de trabalhadores rurais, que, embora não residissem nas casas da Vila Operária, formavam a base da mão de obra e contribuíram decisivamente para o crescimento populacional e econômico do entorno. A autora Jocilene da Silva Souza destaca que a Vila Operária, ao se tornar um polo de atração, foi o embrião da futura cidade de Coremas, que se emancipou politicamente em 1953.
Um Legado Urbano
O caso de Coremas ilustra como as obras do DNOCS iam muito além da engenharia hídrica. Elas eram projetos de desenvolvimento territorial que, ao criar infraestrutura para a água, inevitavelmente criavam infraestrutura para a vida urbana. A Vila Operária, com sua história de superação e transformação, é um patrimônio vivo que merece ser lembrado como uma das mais significativas contribuições do DNOCS para a formação de cidades no semiárido.