Em primeira reunião, Fórum das Catadoras dá voz a mulheres na linha de frente da reciclagem no Brasil

Com o objetivo central de fortalecer a participação social das mulheres catadoras de materiais recicláveis no Brasil, o Ministério das Mulheres por meio da Secretaria Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados (SENAEC), realizou nestas segunda e terça-feira (8 e 9/06) a primeira reunião do Fórum para a Promoção da Autonomia e Inclusão Socioeconômica de Mulheres Catadoras de Materiais Recicláveis.

Com a participação de pelo menos dez representantes da categoria de trabalhadoras, a atividade englobou na programação o debate sobre o regimento interno do fórum e uma oficina de orientação de submissão de projetos em parceria com a Secretaria-Geral da Presidência da República, que coordena o Comitê Interministerial para Inclusão Socioeconômica de Catadoras e Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis (CIISC).

O instrumento reafirma o compromisso do Ministério das Mulheres com a equidade de gênero no mundo do trabalho, o fortalecimento da autonomia econômica e o desenvolvimento de políticas de cuidado voltadas às mulheres catadoras, que representam a maior parcela da força de trabalho do setor.  

Há mais de duas décadas trabalhando como catadora, Lindaci Maria Gonçalves, integrante do MESC e membro do fórum, ressaltou que as discussões precisam abranger, além das pautas das mulheres que já estão organizadas, os pleitos das trabalhadoras que atuam de modo individual. “Se eu, que faço coleta seletiva, já tenho vários afazeres e fico na rua o dia inteiro, imaginem quem fica no chão o tempo todo, na insalubridade. Então, dentro desse fórum a gente pede que haja um olhar para as mulheres que ainda não têm essa escuta, que não têm essa voz para chegar e falar as demandas delas. Nós estamos aqui e temos sorte de podermos falar sobre nossas dores, de trazermos parte de nossas demandas. Estamos aqui buscando soluções não apenas para nós, mas para todo um conjunto de mulheres, para todas as catadoras do Brasil”, disse a trabalhadora.

Também membro titular do fórum e representante do MNCR, Roselaine Mendes, mais conhecida como Neguinha, afirmou que as necessidades das mulheres catadoras vão além das nuances do trabalho. “A gente já vem de um serviço pesado e de aspecto diferente, né? Com diferentes horários. Então, a necessidade da mulher catadora vai além do trabalho. Tem a questão dos filhos, tem a questão hormonal, tem a questão de invisibilidade. Discutir cada problemática é a importância de estar aqui nesse fórum, debatendo todos esses aspectos, inclusive o da violência, a violência doméstica, pois são vários os tipos de abuso que a mulher em si sofre”, concluiu a catadora.

Conduzindo o diálogo, a secretária nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados, Rosane da Silva, reforçou a relevância do fórum como ambiente de convergência entre as políticas públicas e quem mais precisa delas. "O Fórum das Mulheres Catadoras emerge como uma resposta fundamental às demandas específicas das mulheres organizadas em seus diversos movimentos – sejam eles nacionais, regionais ou locais. Esse espaço de escuta e discussão, instituído pelo Ministério das Mulheres no governo federal, visa primordialmente a formulação de políticas públicas que atendam diretamente às necessidades das mulheres catadoras, promovendo assim uma aproximação efetiva das políticas públicas do país com aqueles que mais necessitam", ressaltou a gestora.

Também presente na reunião, a secretária-executiva do Ministério das Mulheres, Eutalia Barbosa, representou a ministra das Mulheres, Márcia Lopes, e reafirmou o compromisso da pasta com a autonomia econômica e a política de cuidados voltada às mulheres.

“Estamos juntas com vocês numa atuação que coloque as mulheres na centralidade, pois, o patriarcado, nós sabemos, infelizmente não está só na estrutura dos grandes espaços. Ele também prevalece nos espaços de organização da classe trabalhadora. Por isso discutimos a construção de um outro mundo, mas se nesse outro mundo não houver o debate do feminismo, se não houver o debate da questão da igualdade de gênero, ele também não vai servir para nós. A gente pode até construir uma outra sociedade com igualdade econômica, mas se a gente não interseccionar com a pauta da igualdade de gênero, da questão racial, da questão da diversidade, ainda não vai ser a sociedade que serve para as mulheres”, afirmou a secretária.

Fórum de Mulheres Catadoras de Materiais Recicláveis

Composto por doze integrantes oriundas de duas organizações – Movimento Nacional Eu Sou Catadora/or (MESC) e Movimento Nacional das/os Catadoras/es de Materiais Recicláveis (MNCR) –, o fórum tem como principais atribuições: 

• fortalecer a participação social dessas mulheres, promovendo seu protagonismo nas decisões e nas políticas públicas; 

• construir trilhas de formação e qualificação socioeconômica, ampliando suas oportunidades no mercado de trabalho; 

• identificar os impactos socioambientais da atividade de gestão de resíduos e seu reflexo na vida social; 

• discutir estratégias pelos serviços ambientais prestados, assegurando o reconhecimento econômico da atividade e 

• debater políticas de cuidado e autonomia econômica, considerando as especificidades de gênero e os desafios enfrentados pelas catadoras.

Saiba mais sobre o Fórum para a Promoção da Autonomia e Inclusão Socioeconômica de Mulheres Catadoras de Materiais Recicláveis aqui.