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Navio de Pesquisa Soloncy Moura, do ICMBio, realiza expedição científica sobre tubarões e raias no litoral catarinense
As atividades ocorreram especialmente nas proximidades da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo. Foto: Vanessa Soares
O Navio de Pesquisa Soloncy Moura, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul (CEPSUL/ICMBio), realizou, em novembro, uma expedição científica de cinco dias pelo litoral de Santa Catarina para ampliar o conhecimento sobre raias e tubarões — ambos pertencem ao mesmo grupo de peixes cartilaginosos (Chondrichthyes), essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas marinhos e ainda pouco estudado no país.
As atividades ocorreram especialmente nas proximidades da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e reuniram especialistas de diferentes instituições em uma iniciativa integrada de pesquisa, conservação e inovação tecnológica. A expedição ajudará a preencher lacunas relacionadas à distribuição, saúde, deslocamento e uso de habitat dessas espécies.
Segundo o Analista Ambiental do CEPSUL, Isac Simão Neto, o estudo busca compreender a ecologia das raias e avaliar o papel das áreas marinhas protegidas para sua conservação. “Ainda sabemos muito pouco sobre onde as raias vivem, do que se alimentam e o quanto se deslocam. O principal objetivo da pesquisa é entender o quanto a existência de áreas protegidas pode impactar positivamente a vida dessas espécies e garantir sua conservação”, afirma.
A expedição integra um projeto de doutorado desenvolvido no âmbito do ICMBio, com apoio da Diretoria de Biodiversidade (DIBIO/ICMBio), do Projeto Genômica para a Biodiversidade Brasileira (GBB/ICMBio–ITV) e financiamento da FAPESC.
Principais atividades da expedição
Foram capturadas 206 raias por meio de método controlado de pesca científica. Dessas, 50 indivíduos receberam coleta de sangue e tecido muscular — número definido para evitar sobrecarga de manipulação e garantir bem-estar. As análises laboratoriais, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), irão investigar vírus e parasitas; contaminantes como mercúrio, chumbo e outros metais; e isótopos estáveis, que ajudam a identificar a dieta e a origem de possíveis fontes de contaminação.
A equipe também utilizou filmagens subaquáticas com estruturas equipadas com câmeras em dupla (BRUVs), capazes de registrar imagens tridimensionais e medir o tamanho dos animais atraídos por iscas naturais. O método complementa as capturas e auxilia na identificação da riqueza de espécies presentes na área, incluindo indivíduos que não são avistados em mergulhos tradicionais. Outra frente aplicada foi a coleta de água em diferentes profundidades para análise de DNA ambiental, técnica que detecta fragmentos genéticos deixados pelos organismos na água e permite saber que espécies passaram pelo local recentemente, mesmo sem serem observadas. Mais pontos de coleta serão realizados em futuras saídas para completar o conjunto de amostras planejado.
Na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, foram instalados 11 receptores acústicos para monitorar a movimentação das espécies ao longo dos próximos dois anos — período de duração das baterias dos transmissores. Cinco indivíduos da espécie Zapteryx brevirostris, considerada ameaçada, já receberam dispositivos inseridos de forma cirúrgica. A pesquisa tem como alvo quatro espécies de raias ameaçadas, e novas campanhas serão realizadas para ampliar o número de indivíduos marcados e aprofundar o acompanhamento dentro da Unidade de Conservação. Trata-se do primeiro monitoramento desse tipo para o grupo na região.
Parceiros
A iniciativa contou com a participação do NGI Florianópolis, responsável pela gestão da REBIO Marinha do Arvoredo, além de instituições como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), o Projeto Meros do Brasil e o Oceanic Aquarium de Balneário Camboriú (SC). Os dados produzidos fortalecem o entendimento sobre a relevância das Unidades de Conservação marinhas para a manutenção das populações de raias e irão subsidiar futuras ações de gestão e conservação ao longo do litoral brasileiro.Comunicação ICMBio