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ICMBio avança na construção de Política Nacional de Segurança na Visitação em Áreas Naturais
Pedro Menezes, diretor do Departamento de Áreas Protegidas do MMA e Carla Guatainelli, coordenadora geral de Uso Público e Serviços Ambientais do ICMBio, abrem o seminário com o tema: “Por que precisamos de uma estratégia nacional de segurança do visitante em Unidades de Conservação e nas trilhas do Brasil?”. Foto: Rubens Nemitz
O Brasil vive um expressivo crescimento da visitação em Unidades de Conservação (UCs), impulsionado pela nova Lei de Visitação em Parques Nacionais e pela consolidação da Rede Nacional de Trilhas e Conectividade. Somente os Parques Nacionais federais registraram mais de 12,5 milhões de visitas em 2024, o maior número da série histórica. O total monitorado de visitantes em UCs federais ultrapassou 25,5 milhões de pessoas, um aumento de 4,9% em relação a 2023. Considerando sistemas estaduais e municipais, a visitação nacional já supera 15 milhões de pessoas por ano, distribuídas em mais de duas mil unidades de conservação.
Diante desse cenário, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Ministério do Turismo (MTur), junto a demais órgãos, entre eles o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e ampla rede nacional, realizou em Curitiba (PR), nos dias 9 e 10 de dezembro, o I Seminário sobre Segurança nas Atividades de Visitação em Áreas Naturais. O encontro reuniu representantes dos 27 Corpos de Bombeiros Militares, dos 27 órgãos estaduais de Meio Ambiente, gestores federais, especialistas, organizações voluntárias e profissionais do setor, em uma potente convergência de saberes e práticas.
Uma agenda estratégica para o Estado brasileiro
A expansão do turismo de natureza exige políticas de Estado capazes de acompanhar a transformação do perfil do visitante brasileiro. Para o diretor do Departamento de Áreas Protegidas do MMA, Pedro Menezes, o Seminário se insere em um esforço mais amplo de construção de doutrina nacional para a segurança em ambientes naturais. Ele ressalta que, apesar de as instituições já acumularem experiências relevantes, o país ainda carece de referencial comum capaz de orientar ações coordenadas.
“Não se trata apenas de mostrar o que cada instituição faz, mas de construir uma doutrina compartilhada, capaz de orientar ações em escala nacional”, indica Pedro Menezes (MMA)
Menezes também apresentou duas premissas estruturantes que perpassaram toda a programação. A primeira: o direito ao risco é sagrado, elemento essencial da relação do ser humano com a natureza e da própria existência das atividades de aventura, montanhismo e longa duração; a segunda: informação de qualidade é a base da prevenção. Entre esses dois extremos, “o direito ao risco e o dever de prevenir, se constrói o espaço de atuação das políticas públicas”, afirma o diretor.
Cooperação e cultura de segurança
A diretora de Criação e Manejo de Unidades de Conservação (DIMAN) do Instituto, Iara Vasco, reforçou que a ampliação da visitação e a diversificação dos perfis de público elevam a necessidade de integração institucional. “A forma como trabalhamos integrados, instituições federais, estaduais, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e organizações voluntárias, é determinante para fortalecer a cooperação e a capacidade de minimizar riscos. Tragédias nos convocam a revisar práticas, aprender e evoluir. Este encontro trata da vida, da alegria e do bem-estar que as áreas protegidas devem proporcionar” diz a diretora.
A presença de todos os estados da federação, com diferentes realidades e níveis de maturidade na implementação de protocolos, evidenciou um consenso: a segurança na visitação não é um tema setorial, mas transversal, envolvendo biodiversidade, turismo, proteção civil, ordenamento territorial e economia local.
Gestão de riscos como fundamento da política pública
O debate sobre prevenção ganhou densidade com a apresentação de Carla Guaitanelli, coordenadora geral de Uso Público e Serviços Ambientais do ICMBio. Ela ressaltou que, para além de casos isolados ou incidentes específicos, o país precisa consolidar pensamento sistêmico sobre prevenção, responsabilidade compartilhada e comunicação estratégica com os visitantes.
Ao explicar o funcionamento interno das ferramentas institucionais, Carla destacou as ferramentas da autarquia. “Em unidades de alta visitação ou com concessões, aplicamos o Sistema de Gestão de Segurança (SGS); em outras, escalonamos quando usar o SGS completo ou o protocolo de gestão de segurança da visitação”, diz. Segundo ela, a abordagem preventiva é o eixo central: “Nosso foco é levantar perigos, riscos, causas e consequências para prevenir cada vez mais e saber como agir em emergências”. Carla ressaltou ainda que o SGS utilizado pelo Instituto é uma adaptação de referências internacionais consolidadas, reforçando a importância de metodologias robustas.
Guaitanelli lembrou que o crescimento da visitação, somado à popularização das trilhas de longo curso e ao aumento de atividades incentivadas por redes sociais, cria novos desafios para equipes de campo. O cenário inclui desde selfies em bordas de cânions até travessias complexas sem preparo técnico, exigindo sinalização mais clara, comunicação preventiva eficaz e monitoramento constante.
Casos em UCs federais inspiram uma estratégia nacional
Ao longo do Seminário, gestores apresentaram iniciativas concretas que já demonstram os benefícios da integração. O Parque Nacional da Tijuca (RJ) mostrou como mapas interativos, georreferenciamento e sinalização padronizada reduziram incidentes e ampliaram a autonomia dos visitantes. No Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), exercícios simulados envolvendo bombeiros, brigadistas, servidores e guias locais têm diminuído significativamente o tempo de resposta a ocorrências em ambientes remotos.
Esses exemplos reforçaram a necessidade de diretrizes nacionais de sinalização, protocolos unificados de acionamento, planejamento preventivo institucionalizado e modelos replicáveis de baixo custo para todos os biomas.
Rede integrada: prevenção, resposta e capacitação
A construção de uma rede nacional de prevenção e resposta emergiu como eixo transversal do seminário. Representantes da Defesa Civil e dos Corpos de Bombeiros enfatizaram que a segurança depende de coordenação de inter-agências, fluxo claro de comunicação e responsabilidade compartilhada com operadores turísticos.
Foi nesse contexto que trechos das falas de Menezes sobre interoperabilidade voltaram a orientar discussões técnicas: a necessidade de “levar o modelo aos estados de forma massiva”, alinhando protocolos ainda distintos entre si e promovendo integração especialmente em mosaicos, apontados por ele como “um bom locus para começar a implementar soluções conjuntas”.
Programas consolidados de capacitação conjunta, como os realizados na Serra do Mar, no Lagamar e nas serras do Sudeste, foram apresentados como referências que devem se tornar modelo nacional: treinamentos técnicos, manejo de trilhas, busca e salvamento, resgate em altura e atendimento pré-hospitalar em ambientes remotos.
Um marco para o futuro da visitação segura no Brasil
O I Seminário sobre Segurança nas Atividades de Visitação em Áreas Naturais consolida um ponto de virada para a política ambiental brasileira. Ao trazer prevenção, governança e informação qualificada para o centro da agenda, o país inicia a construção de uma política nacional que reconhece o direito ao risco, fortalece a responsabilidade compartilhada e orienta a ação integrada do Estado.
Mais do que um evento, o Seminário inaugura um novo ciclo: o da segurança como valor essencial da visitação, da conservação e da experiência do visitante nas áreas naturais do Brasil.



