Pesquisas em andamento
Densidade e fatores que influenciam a seleção de habitat de aves ameaçadas da Mata Atlântica do Nordeste
Mecanismos que impulsionam a seleção de habitat, ocupação e demografia dos animais dão suporte para compreender quais variáveis do habitat contribuem para a persistência de espécies, como são os seus padrões de comportamento espacial, apoiam medidas de conservação e são de suma importância para aprimorar o conhecimento sobre o risco de extinção das aves brasileiras. Dados demográficos fornecem a primeira base para estimativas de tamanhos populacionais em escala local. No entanto, é importante associar tais informações com o melhor entendimento sobre a seleção de habitat por parte das espécies. Espera-se que os indivíduos utilizem os habitat que oferecem melhores condições para sobrevivência e reprodução. Desta maneira, características locais do habitat podem afetar a ocupação das espécies dentro de manchas florestais.
Este projeto tem como finalidade estimar a densidade populacional e entender quais variáveis do habitat podem influenciar seleção de habitat de aves ameaçadas da Mata Atlântica do Nordeste. Tento em vista que, as aves constituem um grupo valioso para examinar os padrões de persistência das espécies em paisagens antropogênicas. Considerando que, os indivíduos utilizem os habitats que oferecem melhores condições ambientais para sua sobrevivência entre uma variedade de habitat disponível. Testaremos essa hipótese analisando quais fatores ambientais inerentes a história natural de Pyriglena pernambucensis, Xenops minutus alagoanus, Platyrinchus mystaceus niveigularis, Automolus lammi, Xiphorhynchus atlanticus, Momotus momota marcgravianus, Schiffornis turdina intermedia e Myrmoderus ruficauda podem influenciar a probabilidade de sua ocupação.
Para realização das estimativas populacionais utilizaremos uma abordagem de amostragem de distâncias perpendiculares (Buckland et al. 1993, 2001, Cullen & Rudran 2004). Cada ave detectada visualmente ou auditivamente, sua distância perpendicular entre o ponto de detecção inicial e a linha do transecto será mensurada usando uma ferramenta de medição a laser (HT Instruments, 5 cm até 40 m).
Para responder quais variáveis do habitat influenciam a probabilidade de ocupação dos táxons alvo do estudo, selecionaremos 20 sítios, distribuídos aleatoriamente no fragmento florestal Mata da Sucupira e REBIO Guaribas, com uma distância mínima de 300 metros entre eles. Cada sítio constitui em uma área circular com aproximadamente 100 metros de diâmetro. Todas as espécies e subespécies selecionadas são categorizadas como ameaçadas de extinção nacionalmente (MMA, 2022) e são táxons dependentes de ambientes florestais (RODA et al., 2011).
Cada sítio será amostrado no mínimo cinco vezes, onde gravadores automatizados ficarão captando e gravando a acústica do sítio, entre setembro de 2025 e fevereiro de 2026 (caracterizando uma estação), no período de maior atividade das aves entre 5h e 9h na manhã, em dias não consecutivos. Posteriormente as gravações serão ouvidas por ornitólogos treinados que anotarão a presença ou ausência do táxon. Cada registro será obtido pela manifestação espontânea, sem utilização de playback.
Selecionaremos nove variáveis ambientais como potenciais fatores que caracterizam o habitat das espécies: umidade, cobertura do dossel, altitude, distância para riacho, distância para borda, média da circunferência na altura do peito das árvores (CAP), altura média das árvores, densidade de árvores e quantidade de invertebrados nos substratos.
Como teste piloto usaremos o sistema de rádio telemetria de aves para calcular área de vida de Myrmoderus ruficauda. Acoplaremos no dorso da ave um transmissor VHF com peso de 0,4 g, tipo mochila.
Apoio financeiro: Edital DIBIO/ICMBio
Responsável: Diego Mendes Lima (diego.lima@icmbio.gov.br)
Turismo de Observação de Aves na APA Barra do Rio Mamanguape: construção de um roteiro metodológico de base comunitária adaptável a outras UCs
Considerados destinos ideais para observação de aves, as unidades de conservação ainda são deficitárias e não estão estruturadas para lidar com esse tipo de turista (Carvalho e Hingst-Zaher, 2019). Contudo, a demanda pela observação de aves vem crescendo e o CEMAVE publicou “Código de Ética dos Observadores de Aves” (Brasil, 2021), visando orientar sobre os cuidados necessários na prática da atividade, de modo a evitar impactos e danos às aves nativas.
Atualmente, o CEMAVE/ICMBio desenvolve uma pesquisa e diagnóstico com o objetivo de “avaliar a observação de aves nas unidades de conservação federais do Brasil e identificar as potencialidades e desafios para implementação da atividade no rol de serviços das UCs” (Brasil, 2024d). Frequentemente, gestores de UCs federais procuram o CEMAVE para apoiar atividades relacionadas à pesquisa e visitação direcionadas à observação de aves. Porém, desenvolver esse potencial é um grande desafio, haja vista a limitação de recursos humanos e materiais.
A maioria dos observadores de aves brasileiros viaja em dupla (34%) ou em grupos de até 5 pessoas (28,5%), com parte considerável viajando só (23,3%) (Barbosa et al., 2023). Tal característica sinaliza a oportunidade de estimular nas UCs uma articulação entre o Turismo de Base Comunitária (TBC), capaz de organizar de forma gradual uma rede de serviços e estruturas de hospedagem com protagonismo de atores locais (Braghini; Santos; Vieira, 2020). Especialmente em unidades de conservação de uso sustentável (ou direto), mas não exclusivamente nesse grupo, os povos e comunidades tradicionais e locais possuem conhecimento prático sobre os ecossistemas e sua biodiversidade. Com orientação e planejamento, é possível criar fluxos de trabalho e rotinas para que as UCs promovam esse segmento do ecoturismo, garantindo inclusão social, repartição de benefícios e gestão monitorada do turismo de observação de aves.
Atualmente o CEMAVE se organiza para a criação de um “Observatório de Aves” na Paraíba, iniciativa que visa integrar ações de pesquisa, conservação (e monitoramento de longo prazo) e ações de educação/comunicação. A região do NGI Mamanguape (APA Mamanguape e Reserva Biológica Guaribas), apresenta-se com grande potencial para essa iniciativa, pela extensão e diversidade de uso das UCs, pelo fluxo turístico crescente, pela existência de comunidades locais e arranjos iniciais de TBC e pela existência de estudos prévios sobre a avifauna na região. Almeida e Teixeira (2010) publicaram uma lista de aves da Rebio Guaribas (Mamanguape, PB), contemplando 187 espécies em 38 famílias.
Na APA Mamanguape já existe um pequeno fluxo de observadores de aves, mas o turismo inicialmente se concentra nas atividades de veraneio e concentrado nas praias. A rede de hospedagem local também vem crescendo e o acesso foi pavimentado para boa parte das comunidades contidas na UC. O objetivo geral do projeto é estabelecer um roteiro metodológico para a gestão e estímulo do turismo de observação de aves, seguindo princípios técnicos, éticos e de base comunitária, na APA Barra do Rio Mamanguape, adaptável a outras unidades de conservação.
Objetivos específicos:
• Atualizar a lista de espécies de aves que ocorrem na APA Mamanguape;
• Definir trilhas apropriadas para o turismo de observação de aves;
• Elaborar um Guia de Aves da APA Mamanguape;
• Sugerir estruturas de apoio para o turismo de observação de aves;
• Orientar gestores da UC e atores locais sobre práticas recomendadas para a atividade;
• Elaborar e publicar um “Roteiro Metodológico para Gestão do Turismo de Observação de Aves em UCs com Base Comunitária”.
• Incentivar o turismo de observação de aves em UCs federais atendendo aos princípios técnicos, éticos e com participação social.
Em articulação com a equipe gestora do NGI Mamanguape, o projeto seguirá várias etapas necessárias para o alcance do produto desejado, permitindo o registro e replicação/adaptação em outras unidades de conservação. Etapas do projeto:
1 - Identificar, mapear e selecionar áreas com potencial para observação de aves, com determinação de hotspots (locais principais para observação de aves), considerando variações de ambientes, riqueza e abundância de espécies, compatibilidade com o plano de manejo da UC e impacto reduzido;
2 - Identificar comunidades para o envolvimento no projeto, com interesse em desenvolverem a atividade de observação de aves;
3 - Levantamento de espécies (literatura, registro visual e sonoro), produção de lista, organização de acervo fotográfico e elaboração de proposta de Guia de Aves da APA Mamanguape (publicação digital e possivelmente impresso – caso a UC tenha recursos);
4 - Proposição de estruturas assessórias para observação de aves e sugestão dos locais, adequadas aos ambientes e comportamento das espécies como torres, passarelas e abrigos camuflados;
5 - Oficina de capacitação para o desenvolvimento da atividade de observação de aves com atores locais e equipe da UC, incluindo temas como: “Código de Ética dos Observadores de Aves” e “Rotinas e Práticas na Observação de Aves com Base no Turismo de Base Comunitária”; Avaliar o grau de conhecimento local (atores locais nas comunidades) sobre a avifauna e impressões sobre o potencial de desenvolvimento da atividade;
6 - Elaborar e publicar um documento final do projeto contendo uma proposta de “Roteiro Metodológico para Gestão do Turismo de Observação de Aves em UCs com Base Comunitária”.
Apoio financeiro: Edital DIBIO/ICMBio
Responsável: Fabiano Gumier Costa (fabiano.costa@icmbio.gov.br)
Modelagem de Distribuição de Espécie (MDE) e desenho amostral piloto para análise de probabilidade de ocupação do beija-flor-de-gravata-vermelha (Augastes lumachella) na região do PARNA e APA do Boqueirão da Onça
Em maio de 2022 uma equipe do CEMAVE/ICMBio realizou uma atividade de campo exploratória na região da APA e PARNA Boqueirão da Onça, no estado da Bahia, voltada à identificação e caracterização de potenciais impactos de empreendimentos eólicos sobre a avifauna local (detalhes na Informação Técnica nº 17/22 – SEI nº 11355254). Um dos resultados obtidos neste diagnóstico preliminar foi o registro na área do beija-flor-de-gravata-vermelha (Augastes lumachella), espécie endêmica da Caatinga e categorizada como Em Perigo (EN) na Lista Nacional de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção (Portaria MMA nº 148/22). O registro foi realizado em 14 de maio de 2022, em ambiente de campo rupestre (coordenadas 10°27’28.19” S / 41°23’29.30”), no interior do empreendimento denominado “Complexo Eólico Campo Largo I e II”, da empresa ENGIE Brasil, na APA do Boqueirão da Onça, município de Umburanas, BA.
Conforme informações atualmente disponíveis, o habitat do beija-flor-de-gravata-vermelha restringe-se a ilhas de campos rupestres acima de 950 m de altitude, na porção setentrional da Cadeia do Espinhaço, na Chapada Diamantina, Bahia, e locais onde existem manchas desse mesmo ambiente, como na região do Boqueirão da Onça. Indivíduos da espécie utilizam essas ilhas de campos rupestres e acredita-se que a espécie esteja sendo impactada pela redução e perda da qualidade do seu habitat, que está em declínio em toda sua área de ocorrência, em função de incêndios, exploração de matas nativas para transformação em carvão, atividades recreacionais e turismo desordenados. Ratificando essa percepção, na área onde a espécie foi recentemente registrada, a equipe do CEMAVE constatou que partes do ambiente de campo rupestre haviam sido destruídas para construção de estradas de serviço, instalação de linhas coletoras/transmissão de energia, instalação de aerogeradores e construção de pátios de armazenamento de estruturas de apoio. Essas observações de campo indicam que na região do Boqueirão da Onça essa espécie está sendo impactada pela eliminação e/ou alteração de seu habitat e que estudos são necessários para um melhor conhecimento sobre a distribuição da espécie, o dimensionamento da magnitude e das implicações desses impactos sobre as suas populações.
Uma das recomendações da informação técnica supracitada foi a elaboração e implementação de projetos para ampliação do conhecimento sobre beija-flor-de-gravata-vermelha (p. ex.: modelagem de distribuição, disponibilidade de habitat, ocupação e aspectos populacionais da espécie), visando subsidiar estratégias para sua conservação, com ênfase em estudos voltados a evitar ou minimizar eventuais impactos de empreendimentos eólicos (e outras tipologias) sobre as populações da espécie na região. Este projeto tem como objetivo geral ampliar o conhecimento sobre a distribuição desta espécie na região do Boqueirão da Onça, gerando informações para orientar sua conservação. A proposta contempla os seguintes objetivos específicos: 1) Realizar uma modelagem da distribuição (MDE) do beija-flor-de-gravata-vermelha; 2) Realizar um desenho amostral piloto para analisar como diferentes fatores da paisagem podem influenciar na probabilidade de ocupação da espécie.
Na primeira etapa do projeto, será realizada uma Modelagem de Distribuição da Espécie (MDE), que utiliza pontos de ocorrência conhecidos e variáveis ambientais (preditoras) para prever a distribuição potencial da espécie, contribuindo para o entendimento das condições que explicam o padrão de distribuição observado. Permite também prever mudanças nos padrões de distribuição em razão de intervenções humanas como desmatamentos, mudanças no uso do solo e mudanças climáticas. A MDE será realizada a partir de uma compilação de registros de ocorrência do beija-flor-de-gravata-vermelha nos processos de licenciamentos de empreendimentos eólicas e estruturas associadas, já instalados ou ainda em processo de instalação na região. Serão compilados também registros de publicações científicas, de coleções científicas e de sítios eletrônicos de registros de aves disponíveis na internet, tais como GBIF, Wikiaves e E-Bird. Os registros obtidos alimentarão o processo de modelagem da distribuição espacial da espécie, que será posteriormente validado por especialistas experientes na ocorrência da espécie e por meio de atividades em campo. Os mapas de adequabilidade de habitat gerados na MDE serão utilizados para orientar a escolha de locais em campo para a realização da segunda etapa do projeto.
Para responder quais variáveis do habitat influenciam a probabilidade de ocupação da espécie, selecionaremos 20 sítios, distribuídos aleatoriamente no PARNA e APA de Boqueirão da Onça, com uma distância mínima de 300 metros entre eles e em cotas altitudinais diferentes. Cada sítio consiste em uma área circular com aproximadamente 100 metros de diâmetro e será amostrado no mínimo cinco vezes, durante uma expedição de 10 dias que será realizada entre setembro de 2025 e fevereiro de 2026 (caracterizando uma estação), no período de maior atividade das aves (5 a 9 h na manhã), em dias não consecutivos. Em cada sítio, gravadores automatizados serão usados para captar e gravar a acústica local. Posteriormente as gravações serão ouvidas por ornitólogos treinados para registro da presença ou ausência do táxon investigado. Cada registro será obtido pela manifestação espontânea, sem utilização de playback. Selecionaremos seis variáveis ambientais como potenciais fatores que caracterizam o habitat da espécie: tamanho e distância do afloramento rupestre, presença ou ausência de cactáceas, bromeliáceas, asteráceas e gramíneas, cota altitudinal, altura média da vegetação e distância de aerogeradores. Para analisar se a probabilidade de ocupação da espécie será influenciada pelas variáveis do habitat, utilizaremos modelos de ocupação single-season (ocupação estática) no software Mark (versão 9.0).
Apoio financeiro: Edital DIBIO/ICMBio
Responsável: Arlindo Gomes Filho (arlindo.gomes-filho@icmbio.gov.br)
Investigando a influenza aviária nas populações de trinta-réis-real (Thalasseus maximus), trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus) e trinta-réis-de-bico-vermelho (Sterna hirundinacea) em uma área do terminal petrolífero no município de São Sebastião/SP e entorno
A influenza aviária (IA) é uma doença causada pelo vírus Alphainfluenzavirus influenzae, que pode infectar aves e mamíferos, incluindo seres humanos. Os vírus da IA são classificados em alta e baixa patogenicidade, com base nos subtipos das proteínas de superfície hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). As aves são suscetíveis a uma ampla variedade de subtipos virais. Geralmente, o vírus da influenza aviária de baixa patogenicidade está associado a infecções assintomáticas, enquanto o de alta patogenicidade está relacionado a quadros agudos de sintomas respiratórios e neurológicos em aves selvagens e domésticas. Embora a maioria dos vírus da IA que circulam nas aves não provoque doenças clínicas significativas, o atual surto do subtipo A(H5N1) tem causado impactos sem precedentes, afetando aves e mamíferos marinhos.
Entre as aves, as ordens Anseriformes (patos, marrecos, gansos, cisnes, entre outros) e Charadriiformes (trinta-réis, gaivotas, andorinhas-do-mar, maçaricos, entre outros) são consideradas os principais hospedeiros naturais do vírus e as mais sensíveis à infecção sintomática pelo subtipo A(H5N1).
No Brasil, o primeiro foco de IAAP A(H5N1) foi detectado em 15 de maio de 2023, em aves silvestres no litoral do Espírito Santo. Desde então, foram registrados 166 focos de IAAP no país, sendo três em aves domésticas, cinco em mamíferos marinhos e 158 em aves silvestres (MAPA, 2025). A transmissão do vírus ocorre de forma eficaz por meio de aerossóis respiratórios, fezes e fluidos corporais, tanto de maneira direta (proximidade entre hospedeiros) quanto indireta (exposição a água ou objetos contaminados). Portanto, as áreas de agregação de aves migratórias são consideradas de maior risco para a exposição e transmissão do vírus da IA.
Apesar de o último foco de IAAP no Brasil ter sido registrado em 28 de maio de 2024 e ter havido uma redução no número de notificações na América do Sul em 2024 em comparação a 2023, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) emitiu um alerta em dezembro para os países da América Latina e do Caribe, motivado pelo surgimento de novos focos em aves de subsistência no Peru e em aves silvestres na Colômbia nos últimos três meses. A FAO também destacou que a redução nas taxas de detecção de IAAP A(H5N1) em aves silvestres em várias regiões durante 2024, em comparação aos anos anteriores (2021–2023), pode ter favorecido recombinações entre o subtipo H5N1 e outros vírus de influenza aviária de baixa patogenicidade, aumentando a diversidade genética do patógeno (FAO, 2024).
Nesse contexto, o monitoramento da circulação do vírus da IA em aves silvestres, especialmente nas espécies mais suscetíveis, é fundamental. Esforços de vigilância e detecção precoce em populações saudáveis fornecem informações estratégicas para enfrentar novos surtos no país e planejar ações de mitigação dos impactos sobre espécies ameaçadas.
A maior unidade operacional da Transpetro em movimentação de produtos no Brasil, está localizado no município de São Sebastião/SP. Esse terminal é um importante sítio de agregação reprodutiva para Thalasseus maximus, Thalasseus acuflavidus e Sterna hirundinacea, onde anualmente centenas de indivíduos formam colônias mistas. Entretanto, o local apresenta intenso trânsito de embarcações, veículos e trabalhadores, aumentando o risco de exposição e transmissão de doenças nas áreas de nidificação dessas espécies.
Diante da relevância do monitoramento e da detecção precoce da IA nas populações de aves silvestres mais suscetíveis, e em conformidade com a ação 6.2 "Avaliar e monitorar o estado sanitário de populações de espécies do PAN", presente no Plano de Ação para a Conservação de Aves Marinhas, o presente projeto tem como objetivo avaliar a presença do vírus da IA nessas três espécies de aves marinhas em um ambiente artificial e intensamente utilizado.
Os objetivos do projeto são avaliar a presença, circulação e possíveis impactos do vírus da influenza aviária (IA), nas populações de Thalasseus maximus, Thalasseus acuflavidus e Sterna hirundinacea no Terminal Petrolífero de São Sebastião (Tebar), considerando as particularidades das áreas de nidificação comuns às três espécies, e o ambiente artificial e intensamente utilizado. O projeto visa contribuir para o monitoramento sanitário dessas espécies de aves marinhas, gerar dados sobre a dinâmica epidemiológica do vírus em áreas de agregação reprodutiva e subsidiar ações de manejo, conservação e prevenção de impactos à estas espécies.
As amostras de sangue, swabs cloacais e ectoparasitas serão utilizadas para extração de RNA/DNA, utilizando kits comerciais específicos. Os ácidos nucleicos purificados serão analisados por RT-PCR/PCR para detecção do vírus da influenza, seguindo protocolos padronizados pelo Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Este laboratório desempenha a função de Referência Nacional do Ministério da Saúde e Regional da OMS para influenza, viroses exantemáticas e SARS-CoV-2 na América do Sul.
Apoio financeiro: Edital DIBIO/ICMBio
Responsável: Silvia Neri Godoy (silvia.godoy@icmbio.gov.br)
Aves aquáticas: monitorando áreas úmidas no Brasil
O Brasil possui grande quantidade de áreas úmidas relevantes para a conservação da biodiversidade, a regulação do clima, o equilíbrio dos ambientes e o bem-estar humano. Essas áreas interligam ecossistemas e são refúgios para a biodiversidade, em especial nesses tempos de extremos climáticos. As aves aquáticas são bons indicadores do estado de conservação das áreas úmidas e, há muito tempo, são utilizadas em iniciativas internacionais de monitoramento de longo prazo. O conhecimento sobre as tendências populacionais, o padrão de deslocamento e impactos das atividades antrópicas nas aves aquáticas é importante para avaliarmos as condições ambientais dos diferentes ecossistemas. As aves aquáticas são afetadas pelo uso, degradação e contaminação das bacias hidrográficas, pelas secas, pelos incêndios extremos e por diversas atividades humanas.
Este projeto vem sendo executado pelo CEMAVE em áreas do Pantanal Matogrossense e do Cerrado de São Paulo e Mato Grosso do Sul. O objetivo geral desta pesquisa é o acompanhamento das tendências populacionais de aves aquáticas, buscando-se ainda aprimorar o conhecimento sobre padrões de deslocamento, áreas de concentração e impactos nas populações destas aves, através do estabelecimento de um monitoramentos sistemático, de baixo custo e de longo prazo.
Além do interesse conservacionista, estes dados podem auxiliar na vigilância de questões sanitárias de interesse econômico e social, subsidiando o planejamento adequado de uma rede de vigilância para emergências zoosanitárias.
Em campo, serão realizados censos de aves aquáticas em áreas de concentração como baías, caixas de empréstimo, salinas e alagados, retornando, no mínimo, uma vez ao ano às áreas amostradas, mas buscando-se ampliar a frequência das coletas, a fim de dar maior robustez aos dados. Pretende-se ainda ampliar o número de áreas amostradas, usar dados pretéritos para comparação e buscar parceiros interessados em apoiar e contribuir com a iniciativa.
Apoio financeiro: Edital DIBIO/ICMBio
Responsável: Priscilla Prudente do Amaral (priscilla.amaral@icmbio.gov.br)
Solturas experimentais do pintassilgo-do-nordeste (Spinus yarrellii)
O pintassilgo-do-nordeste (Spinus yarrellii) é uma espécie endêmica do Nordeste do Brasil, ocupando bordas de floresta úmida, matas secundárias e caatinga. A espécie é categorizada como vulnerável à extinção. Apesar da distribuição ampla, é extremamente rara e há um pequeno número de registros atuais com poucos indivíduos observados. As principais ameaças à espécie são a captura ilegal e a perda de habitat. O tráfico de pintassilgos-do-nordeste é voltado especialmente para indivíduos machos, que são altamente canoros, o que pode ocasionar desequilíbrio na razão sexual entre as populações naturais. A apreensão, resgate ou entrega voluntária de fêmeas é muito rara. Os indivíduos apreendidos pelos órgãos ambientais historicamente são destinados sem obedecer a nenhum critério conservacionista.
Este projeto está previsto no PAN Aves da Caatinga e está sendo executado por meio de parceria entre o CEMAVE, UFPB, IBAMA e CPRH. Seu objetivo é investigar o sucesso de solturas experimentais do pintassilgo-do-nordeste no interior da Paraíba a partir de indivíduos apreendidos. Os resultados obtidos poderão subsidiar um futuro protocolo de destinação de indivíduos da espécie apreendidos, resgatados ou entregues voluntariamente pela população.
Apoio financeiro: GEF-Terrestre
Responsável: Antônio Emanuel Barreto Alves de Sousa (antonio.sousa@icmbio.gov.br)
Aplicação do protocolo Monitora de monitoramento avançado de aves na REBIO do Gurupi
A falta de padronização nas metodologias de monitoramento tem trazido dificuldades para comparações entre áreas e mesmo para comparações da mesma área quando diferentes esforços de amostragem são empregados ao longo do tempo. De forma a propor uma padronização de protocolos para grupos taxonômicos representativos, o Programa Monitora vem construindo com a comunidade acadêmica um amplo portfólio de métodos a fim de atender este objetivo. Sendo assim, para comunidades de aves florestais em unidades de conservação federais é proposto o método preconizado em Bispo et al. (2016). O método baseia-se em 36 estações fixas distribuídas igualmente em três transecções. Cada estação é distante 200 metros da seguinte e são amostradas entre os 20 minutos que antecedem o nascente até 3 horas após. Nas amostragens, a cada estação fixa, são registrados todos os contatos com aves, sejam auditivos ou visuais, a uma distância inferior a 50 metros por 10 minutos. Cada estação fixa é amostrada cinco vezes por campanha. Entreas diversas UCs federais do Brasil, a Reserva Biológica do Gurupi foi escolhida para ser a pioneira na aplicação deste método.

Foto: Randson Paixão
Em 2017 inicia-se o monitoramento avançado de aves na Rebio do Gurupi. O protocolo amostral segue o descrito em Bispo et al. (2016), com campanhas amostrais anuais intercaladas entre o verão e o inverno, de forma a observar também a magnitude da influência da sazonalidade sobre a comunidade de aves no Centro de Endemismo Belém.
A Rebio do Gurupi é uma unidade de conservação de proteção integral com uma área de 271.000 ha, localizada nos municípios de Bom Jardim, Centro Novo do Maranhão e São João do Carú, no estado do Maranhão. A reserva é contígua a três áreas indígenas, Alto Turiaçu, ao norte, e Caru e Awa a oeste. Embora a unidade seja contígua a Terras Indígenas, o seu entorno é marcado por grandes pastagens e fragmentos florestais bastante impactados pelo corte seletivo e por eventuais incêndios. A própria unidade apresenta, ainda, grandes áreas alteradas por ocupação humana e queimadas.
A Rebio do Gurupi é uma unidade de conservação de grande importância e singularidade. É a única unidade de conservação de proteção integral no extremo oriental da Amazônia ou Centro de Endemismo Belém, região a leste do rio Tocantins em contato com o oceano Atlântico, com a Zona dos Cocais e com o Cerrado. A unidade apresenta muitos endemismos e pelo menos 14 espécies de aves formalmente ameaçadas.
Com três campanhas realizadas até então (em 2020 não houve amostragem devido ao Estado de Emergência em Saúde), cerca de 250 espécies de aves já foram registradas, ao longo de mais de seis mil registros. E novas ocorrências poderão ser adicionadas para a unidade. Após a quarta campanha os resultados que caracterizam a comunidade nesse momento inicial de seu monitoramento serão apresentados em forma de artigo científico.
Responsável: Marcos de Souza Fialho (marcos.fialho@icmbio.gov.br)
Estimativa de densidade populacional de aves ameaçadas da REBIO Guaribas, Usina São João, REVIS Mata do Buraquinho, RPPN Gargaú e Mata da Sucupira pelo método de Amostragem de Distâncias (Distance Sampling)
No Brasil há uma grande lacuna de conhecimento sobre o tamanho populacional das espécies de aves. Essa é uma informação muito importante e tal situação dificulta a avaliação do real estado de conservação das aves brasileiras. Para muitas espécies avaliadas no país o critério "tamanho populacional" nem pode ser adotado, dada a inexistência desta informação, o que leva à aplicação de outros critérios como: distribuição geográfica, fragmentação e qualidade do habitat. A obtenção de estimativas de densidade populacional ao longo do tempo permite também identificar tendências populacionais e contribui para a avaliação da probabilidade de extinção de espécies.

Este projeto tem como objetivo investigar a detectabilidade de aves ameaçadas do Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) em alguns fragmentos florestais da Paraíba. Os dados obtidos pelas estimativas de densidade populacional das espécies contribuirão com o processo de avaliação do estado de conservação das aves brasileiras e com a ação 2.9 do Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação das Aves da Mata Atlântica.
Ao longo de 10 anos realizaremos censos mensais nos fragmentos da REBIO Guaribas, Usina São João, REVIS Mata do Buraquinho, RPPN Gargaú e Mata da Sucupira. Em cada área serão percorridos dois transectos de 2 km a pé, no período de maior atividade das aves (entre 5:30 e 8:30 h), a uma velocidade constante (entre 1 e 1,5 km/h). Os avistamentos serão registrados com auxílio de binóculos e máquinas fotográficas, e as distâncias perpendiculares das aves detectadas em relação ao transecto serão obtidas com trena manual e trena a laser. Os dados serão coletados por Analistas Ambientais do CEMAVE, com a colaboração de integrantes do Programa de Voluntariado do ICMBio. Os resultados serão analisados no programa DISTANCE, versão 6.0, com a aplicação de diferentes filtros e funções matemáticas, até se obter a função de detecção que melhor represente as distâncias observadas em campo. O estudo é fomentado pelo ICMBio.
Esperamos obter uma boa série de dados de densidade populacional das espécies-alvo, que poderá contribuir com as duas políticas públicas voltadas à conservação de aves mencionadas acima (PAN das Aves da Mata Atlântica e Avaliação de Espécies Ameaçadas). Além disso, trata-se de um projeto de baixo custo e de longo prazo, que possibilitará comparar as densidades populacionais das espécies estudadas na escala temporal (nos mesmos fragmentos) e espacial (com outros fragmentos de Mata Atlântica fora da UCs).
Responsável: Diego Mendes Lima (diego.lima@icmbio.gov.br)
Linhas de pesquisa 1, 2, 5 e 7
Implementação do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves dos Campos Sulinos - pesquisa e conservação do cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata)
O projeto visa ampliar o conhecimento sobre os parâmetros populacionais e sanitários de espécies de aves campestres contempladas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves dos Campos Sulinos, com ênfase para o cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata), espécie criticamente ameaçada de extinção no Brasil. Atualmente a única população conhecida da espécie no país limita-se ao Parque Estadual do Espinilho e entorno, onde existem hoje menos de 100 indivíduos. Baseado em evidências, uma população diminuta pode ainda permanecer na Serra do Sudeste (Rio Grande do Sul), onde acreditava-se que a espécie estava extinta localmente. O presente projeto também envolve expedições de prospecção para esta região.

Basicamente a pesquisa constituiu-se de estudo populacional, epidemiológico e de prevalência das doenças de Passeriformes que ocorrem naturalmente nos Campos Sulinos, com ênfase no criticamente ameaçado de extinção cardeal-amarelo, cuja necessidade de manejo integrado para a conservação da espécie tem sido avaliada. Populações manejadas de Gubernatrix cristata mantidas sob cuidados humanos vinculadas ao Programa de Cativeiro para a recuperação da espécie coordenado atualmente pela AZAB também são analisadas, a fim de estabelecer seu estado sanitário e reprodutivo atual nos ambientes in situ e ex situ. A sanidade das aves é investigada com exames hematológicos e pesquisa de agentes infecciosos por técnicas de biologia molecular (PCR e posterior sequenciamento). O desenvolvimento da pesquisa (captura, identificação das aves, seus territórios, bem como coletas de amostras) dos Passeriformes de vida livre dos Campos Sulinos ocorre nos município de ocorrência natural do cardeal-amarelo, no qual a população vem sendo monitorada (ex. Barra do Quaraí), e também em Lavras do Sul/RS, onde o método de busca aleatória nas áreas potenciais de ocorrência de cardeais-amarelos também integra a metodologia de estudo em campo. Esta pesquisa é realizada em parceria com as seguintes instituições: PUC RS, UFPR, USP, FURG, MCN/SEMA RS, SEMA RS (Parque Estadual do Espinilho).
Os resultados obtidos visam a elaboração de base de dados para avaliação da saúde das populações, incluindo parâmetros demográficos, hematológicos, bioquímicos e microbiológicos da espécie criticamente ameaçada de extinção Gubernatrix cristata, em vida livre e em cativeiro, além de investigar a saúde de populações de Passeriformes em áreas previstas para potencial soltura experimental da espécie (manejo integrado para a conservação). Esta pesquisa gera valores de referência para o monitoramento e avaliações futuras dessas aves campestres, além de potencialmente embasar decisões de manejo do Programa de Cativeiro do Cardeal-amarelo (reintrodução, revigoramento populacional, pareamentos, entre outras), contribuindo nas iniciativas de conservação previstas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves Ameaçadas dos Campos Sulinos.
Informações demográficas e sanitárias estão subsidiando o desenvolvimento da tese de doutorado de parceira da Universidade Federal do Paraná (Bianca Resseti Silva).
Responsável: Andrei Langeloh Roos (andrei.roos@icmbio.gov.br)
Monitoramento de aves marinhas e oceânicas ameaçadas
O projeto visa ampliar o conhecimento sobre os parâmetros populacionais, sanitários e reprodutivos atuais das espécies de aves marinhas em algumas das áreas-chave para as populações ameaçadas no país. Este projeto envolve tanto aves marinhas ameaçadas que se reproduzem em ilhas oceânicas brasileiras, quanto aves da ordem Procellariiformes que se reproduzem em ilhas oceânicas fora do território brasileiro, mas por sua característica migratória, utilizam o país durante parte de seu ciclo biológico.

Para a maioria das Unidades de Conservação (UCs) federais insulares envolvidas neste projeto de pesquisa a metodologia básica inclui a contagem de ninhos seguindo metodologia publicada por Mancini et al. (2016). Quando a fenologia das espécies de aves marinhas já é compreendida para a UC, o esforço amostral inclui a contagem ao menos anual, coincidindo com o período de maior atividade reprodutiva. Parâmetros sanitários, de prevalência de plástico nas aves e outras informações demográficas e fisiológicas (obtidas através do anilhamento/recuperação de marcadores, registro de padrões de mudas de penas, e outros) também fazem parte das análises previstas nesta pesquisa, a ser realizada em longo prazo por tratar-se de monitoramento contínuo dos parâmetros escolhidos. Esta pesquisa é conduzida pelo CEMAVE desde 2010, e tem sido possível com o trabalho conjunto de várias instituições: FURG, UFRGS, PUC RS, UFAL, USP, MNRJ (UFRJ), UNB, R3 Animal, Projeto Albatroz, equipes das UCs do ICMBio e outras.
Os resultados obtidos contribuirão para subsidiar medidas de proteção à essas espécies nas ilhas onde se reproduzem, bem como avaliar o impacto e influência das ameaças já identificadas com as quais convivem. Os dados obtidos com o monitoramento em longo prazo complementam as informações necessárias para a avaliação do estado de conservação das populações estudadas e são cruciais para subsidiar ações de conservação e decisões de gestão ou manejo nas UCs.
Informações demográficas e sanitárias publicadas a partir de dados obtidos deste trabalho contínuo:
I. Hurtado, R. H., Serafini, P. P., Vanstreels, R. E. T., Olsen, K. M., & Durigon, E. L. (2012). Northernmost record of Brown Skua Stercorarius antarcticus (Lesson 1831) at Maranhão state, northern Brazil. Boletín Chileno de Ornitología, 18(1-2), 52-56.;
II. Ometto, T., Durigon, E. L., De Araujo, J., Aprelon, R., de Aguiar, D. M., Cavalcante, G. T., ... & Neto, I. S. (2013). West nile virus surveillance, Brazil, 2008–2010. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 107(11), 723-730.;
III. Livro Vida marinha de Santa Catarina / organizador Alberto Lindner. – Florianópolis: Ed. da UFSC, 2014. 128 p;
IV. Vieira, B. P., Dias, D., Rocha, H. J. F., & Serafini, P. P. (2015). Birds of the Arvoredo Marine Biological Reserve, southern Brazil. Check List, 11(1), 1532.;
V. Leal, G. R., Serafini, P. P., Simão-Neto, I., Ladle, R. J., & Efe, M. A. (2016). Breeding of White-tailed Tropicbirds (Phaethon lepturus) in the western South Atlantic. Brazilian Journal of Biology, 76(3), 559-567.;
VI. Mancini, P. L., Serafini, P. P., & Bugoni, L. (2016). Breeding seabird populations in Brazilian oceanic islands: historical review, update and a call for census standardization. Ornithology Research, 24(2), 94-115.;
VII. Vieira, B. P., & Serafini, P. P. (2016). GUIDELINES FOR MANAGING SEABIRDS IN THE ARVOREDO MARINE BIOLOGICAL RESERVE, SOUTHERN BRAZIL. Biodiversidade Brasileira, (1), 174-189.;
VIII. MICHELETTI, T.; FONSECA, F.S.; MANGINI, P.R.; SERAFINI, P.P; et al. 2020. Terrestrial Invasive Species on Fernando de Noronha Archipelago: What We Know and the Way Forward. In: LONDE, V. (Ed) Invasive Species: Ecology, Impacts and Potential Uses. 1. ed. New York: Nova Science Publishers. Cap. 3, p. 51-94. ISBN: 978-1-53617-890-6.;
IX. SARAIVA, M.M.S.; LEON, C.M.C.G.; SILVA, N.M.V.; RASO, T.F.; SERAFINI, P.P.; GIVISIEZ, P.E.N.; GEBREYES, W.A.; OLIVEIRA, C.J.B. 2020. Staphylococcus sciuri as a Reservoir of mecA to Staphylococcus aureus in Non-migratory Seabirds from a Remote Oceanic Island. MICROBIAL DRUG RESISTANCE. Mary Ann Liebert, Inc. DOI: 10.1089/mdr.2020.0189.
Responsável: Patrícia Pereira Serafini (patricia.serafini@icmbio.gov.br)
Linhas de pesquisa 1, 2, 5, 6, 7 e 8
Monitoramento populacional da arara-azul-de-lear
Coordenado pelo CEMAVE, o monitoramento populacional (censo) da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) tem como objetivo principal estimar o número de aves na natureza. É um dos mais longos projetos de monitoramento de aves ameaçadas no país e vem sendo realizado de forma sistemática, anualmente, desde a criação do Programa de Conservação e Manejo da Arara-azul-de-Lear, em 2001. O engajamento social na conservação dessa ameaçada ave e do seu ambiente é a engrenagem principal deste projeto, que já contou com a participação de mais de 150 colaboradores e voluntários, muitos deles da própria região de ocorrência da espécie. Com os resultados desse projeto avaliamos a tendência populacional e a efetividade das ações de conservação aplicadas, na expectativa de que esta população continue a prosperar.

Responsável: Antônio Eduardo Araújo Barbosa (antonio-eduardo.barbosa@icmbio.gov.br)
RETER-Trindade: recuperação do ecossistema terrestre da Ilha da Trindade visando evitar a extinção de espécies ameaçadas
A ilha da Trindade abriga espécies e ambientes insulares únicos no mundo e, portanto, é considerada um hotspot de biodiversidade no sudoeste do Oceano Atlântico. No entanto, a introdução de espécies exóticas invasoras e incêndios ocorridos nos últimos séculos comprometeram o ecossistema terrestre da ilha. A vegetação sofreu um severo impacto negativo a partir da introdução de plantas, porcos e cabras, e do uso do fogo, que alteraram a paisagem e devastaram florestas e pteridófitas endêmicas. Com a destruição das árvores, aves marinhas ameaçadas como o atobá-de-pésvermelhos (Sula sula), extinto localmente, e as endêmicas criticamente ameaçadas (CR) fragata-de-Trindade (Fregata trinitatis) e fragata-grande (Fregata minor nicolli), que utilizavam a vegetação arbórea para nidificação, já não são vistas se reproduzindo no local há décadas. As peculiaridades do ambiente insular, ao mesmo tempo que aumentam a biodiversidade através do isolamento geográfico, potencializam ameaças introduzidas repentinamente. Esse é o caso de Mus musculus, camundongo exótico com alto potencial invasor, que chegou à ilha da Trindade através dos porões de embarcações e, atualmente, ocorre com grande abundância na ilha, inclusive nas áreas reprodutivas da grazina-deTrindade (Pterodroma arminjoniana CR). Nesse contexto, o presente projeto visa recuperar condições naturais da ilha existentes previamente à colonização humana, através do fortalecimento e união de instituições envolvidas na conservação da ilha da Trindade, e do essencial apoio da Marinha do Brasil através do PROTRINDADE.

Entre as principais ações previstas neste projeto está o fornecimento de ninhos artificiais para reprodução das fragatas endêmicas e do atobá-de-pé-vermelho na ilha da Trindade. Serão instalados 40 ninhos artificiais para aves marinhas em locais de maior potencial identificados (através do mapeamento dos solos ornitogênicos). Também está prevista a avaliação do impacto e de ações de controle de espécies exóticas invasoras. Estão sendo analisadas as relações tróficas dos camundongos na ilha da Trindade, estimada a contribuição da flora nativa para sua dieta e testados métodos para estimar sua densidade e distribuição. A identificação das espécies vegetais exóticas na Ilha da Trindade, bem como o mapeamento da distribuição espacial a fim de subsidiar sua remoção mecânica também fazem parte deste trabalho, notadamente de espécies exóticas com elevado potencial invasor. Têm sido monitoradas ainda as populações de aves marinhas ao longo da Cadeia Vitória-Trindade (CVT) e na ilha da Trindade, informações com potencial para subsidiar o estabelecimento (zoneamento e gestão) das Unidades de Conservação criadas ao longo da CVT (APA) e da ilha da Trindade (MONA). Estão sendo realizadas também cinco (5) expedições para marcação e recaptura de aves marinhas com anilhas metálicas com foco em Pterodroma arminjoniana e Gygis alba. Por fim, para determinação do status taxonômico da fragatas endêmicas e ameaçadas da Ilha da Trindade, serão analisadas sequências gênicas e calculadas métricas de diferenciação populacional das fragatas da ilha de Trindade em relação a uma população conspecífica do Oceano Pacífico e uma do Oceano Índico utilizando material biológico de no mínimo dez (10) F. trinitatis e dez (10) F. m. nicolli. O Programa RETER-Trindade tem o CEMAVE como parte da equipe desde sua concepção, é coordenado pela FURG e tem sido possível com o trabalho em conjunto com várias instituições, tais como UFRGS, UFAL, UnB, MNRJ (UFRJ), equipes das UCs do ICMBio e outras.
Os resultados obtidos contribuirão para subsidiar e testar a efetividade de medidas de proteção e manejo para a conservação das espécies ameaçadas na ilha da Trindade, bem como avaliar o impacto e influência das ameaças já identificadas com as quais convivem. Os dados obtidos com o monitoramento em longo prazo complementam as informações necessárias para a avaliação do estado de conservação das populações estudadas e trazem dados cruciais para subsidiar a continuidade de ações de conservação e decisões de gestão ou manejo nas UCs (MONA das Ilhas de Trindade e Martim Vaz e do Monte Columbia, APA do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz).
Responsável: Patrícia Pereira Serafini (patricia.serafini@icmbio.gov.br)
Linhas de pesquisa 1, 2, 3 e 7
A observação de aves nas unidades de conservação federais do Brasil: panorama atual, potencialidades e desafios
O turismo ecológico, de natureza ou ecoturismo demanda viagens e visitas a espaços naturais uma vez que sua principal motivação é o desejo e/ou necessidade de contato das pessoas com a natureza, com a observação passiva da flora, fauna, paisagem e aspectos cênicos do entorno. É o tipo de turismo que mais tem crescido no mundo e possui grande interface com as áreas naturais protegidas em Unidades de Conservação. Sendo um dos tipos de turismo de natureza, a observação de aves (birding ou birdwatching em inglês) tem sido considerada uma das atividades turísticas mais sustentáveis e de grande compatibilidade com as áreas protegidas, por possuir características ambientalistas, como a conscientização ambiental, a promoção sustentável dos recursos e o envolvimento das populações locais, além de um grande potencial econômico. Embora seja uma atividade de baixo impacto, a ausência de regulação, controle e/ou de estruturas adequadas pode criar situações de impactos e conflitos com a gestão das áreas protegidas.
Por ser uma atividade relativamente recente no Brasil, ainda não temos uma avaliação detalhada da atividade a nível nacional, do seu perfil econômico, tampouco da sua interface com as áreas protegidas e a capacidade das áreas protegidas em receber tal atividade turística. Contudo há um aumento na demanda e proposição de novos destinos para a observação de aves, os quais incluem várias unidades de conservação, fazendo-se necessário a conciliação da atividade de observação de aves com os objetivos de conservação das áreas protegidas.
Diante desse cenário, e como forma a aliar o objetivos de conservação da biodiversidade das unidades de conservação com os objetivos de valorização da biodiversidade e educacionais através da regulação do uso publico das áreas protegidas, esse projeto se propõe a fazer uma avaliação da atividade de observação de aves nas unidades de conservação federais do Brasil e identificar as potencialidades e desafios para implementação da atividade no rol de serviços das UCs.



