O livro da terra que renasce
"O livro da terra que renasce" é um tributo metafórico à Caatinga e ao nordestino que nela vive. A letra nos apresenta uma reflexão feita pelo eu lírico personificado na figura de um agricultor que registra em seu diário suas preocupações com o que se vê, se percebe e se sente ao ver a luta do próprio bioma para viver. Traz à tona questões como preservação de espécies endêmicas da fauna e registros de vivência junto às riquezas da flora.
Esta produção é uma experimentação feita para o especial "Lições da Caatinga". Nesta produção, a letra foi musicalizada através de inteligência artificial, transformando o registro poético em som.
O livro da terra que renasce
Letra: Agnelo Câmara
Arranjos e voz: Suno (inteligência artificial)
Tem um livro que escrevo em segredo,
Palavras simples, que vieram do chão.
Na palma, carrego o enredo
Na enxada, esculpo a canção.
Cada folha é tempo que passa
cada risco é sinal de estação
É diário que a seca não apaga
É o silêncio que ensina a razão.
Não se escreve com tinta de feira
Mas com dedos sujos de sol.
Cada linha é lição verdadeira
Cada pausa, um sinal de arrebol.
É preciso escutar o que canta
Quando o canto resolve calar}
Foi assim que entendi o cabeça vermelha
Espero que você volte a cantar.
É livro de sol e silêncio
De cheiros que assinam o ar
Com páginas feitas de galhos
E índices pra decifrar.
É verbo que brota do barro
Alfabeto de som vegetal
Quem lê com a alma descalça
enxerga o seu mundo real
Cada gesto que aprendi da terra
me contaram sem nunca falar.
É saber que a raiz não erra,
mesmo onde não dá pra enxergar.
É por isso que eu sigo escrevendo
com meu corpo e com meu licuri.
O que o povo chama de árido
é só jeito de florir por aqui.
Dizem: “Ali, só pobreza e poeira”
mas não veem o clarão do saber
nem escutam o farfalho da beira
do mato que ensina a viver.
É que o canto daqui não é canto
é mistura de fôlego e chão.
Quando o mundo calou, tive espanto
era o mundo pedindo atenção.
É livro que muda quem lê
escrito no tempo do sal
É desafio, é abrigo, é porquê
é ciência no tom natural.
Tem capítulos que ardem na brasa
outros frios, de orvalho sutil.
Quem entende o que pulsa na casa
já não vê o sertão por um fio.
Se o canto sumiu, não é ausência
É convite pra ler o lugar
Quem planta com olhos de urgência
Colhe verso no verbo cuidar.
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