Comunidades Compassivas
O que é uma comunidade Compassiva
O termo “comunidade compassiva” foi descrito inicialmente na Universidade de La Trobe, na Austrália, em 1998, por intermédio de uma ação pela Escola de Saúde Pública da referida universidade, com a intenção de criar estratégias para promoção de cuidados paliativos na saúde pública local com a interferência da extensão universitária.
Baseada no conceito de “cidades saudáveis” ou “comunidades saudáveis”, proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a ideia de “comunidade compassiva” foi desenvolvida pelo médico e sociólogo britânico Allan Kellehear, com objetivo de promover a criação de redes de apoio dentro das comunidades, como um meio de transformação do cuidado da saúde e do social.
Por meio dessa proposta, Kellehear elaborou um conjunto de princípios que visavam educar a população em saúde, enfatizando que a responsabilidade pelo bem-estar coletivo é compartilhada por todos os membros da comunidade, e não apenas pelos profissionais de saúde e seus serviços. Em um cenário onde o acesso aos cuidados paliativos é limitado, a compaixão forma redes comunitárias locais incluindo moradores, profissionais voluntários e grupo de apoiadores que, juntamente com o sistema de saúde local, conseguem oferecer cuidados integrais aos pacientes e seus familiares.
Atualmente, iniciativas de comunidades compassivas estão presentes em 19 países distribuídos pela Europa, Américas e região da Ásia-Pacífico. O avanço dessas comunidades reflete um movimento concreto e de grande relevância, que tem ganhado destaque global. Esse crescimento foi evidenciado pelo tema “Comunidades compassivas: juntas pelos cuidados paliativos”, escolhido para marcar o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos e Hospice, celebrado em 14 de outubro de 2023.
Comunidades Compassivas no Brasil
A implementação começou em 2018, de forma orgânica, com o enfermeiro professor Dr. Alexandre Ernesto Silva da Universidade Federal de São João del-Rel, com iniciativas pioneiras nas Favelas do Vidigal e Rocinha, no Rio de Janeiro.
Em 2022, com a consolidação da Associação Favela Compassiva, fortaleceu o movimento, que rapidamente espelhou e se expandiu de forma autônoma para outras regiões do Brasil, incluindo:
- Cabana Compassiva: Fundada em 2021, no aglomerado Cabana do Pai Tomás, Belo Horizonte (MG);
- Goiânia Compassiva: Fundada em 2022 em Goiânia (GO);
- Betim compassiva: Fundada em maio de 2023 atua no bairro de Citrolândia em Betim (MG);
- Heliópolis Compassiva: Fundada em 2023, em São Paulo (SP);
- Barrocas Compassiva: Localizada em Mossoró (RN);
- Fortaleza Compassiva: Fundada em 2024, atua na comunidade do Campo do América na cidade de Fortaleza (CE);
- Sol Nascente Compassiva: Fundada em 2024, atua em Sol Nascente Trecho 3 na cidade de Brasília (DF);
- Candeal Compassiva: inaugurada em 28 de novembro de 2024 em Salvador (BA), dentre outras em processo de organização.
Princípios fundamentais de uma Comunidade Compassiva: Educação em Cuidados Paliativos
A proposta de educação em cuidados paliativos está fundamentada na prática de promoção à saúde, com o intuito de envolver a comunidade na participação da manutenção do seu estado de saúde e qualidade de vida.
A capacitação dos moradores fortalece substancialmente o envolvimento da comunidade nas ações de saúde e sociais. A educação em saúde é compreendida como um conjunto de ações que visam promover a construção do conhecimento em saúde na base comunitária, objetivando seu empoderamento, para que sua autonomia seja garantida.
O processo de educação em saúde parte da sensibilização da consciência do cidadão no coletivo, buscando consolidar o seu conhecimento quanto ao processo de cuidar vivenciado na sua realidade. Logo, o planejamento das ações de educação deve ser pautado na compreensão do que é pertinente ao dia a dia da comunidade.
A capacitação dos moradores e voluntários pelo projeto da Comunidade Compassiva deve ser atrelada às demandas mais comuns acompanhadas em seus cotidianos. Desse modo, a comunicação aberta com os moradores deve guiar quais tópicos serão abordados pela equipe de facilitadores nas capacitações, visando agregar utilidade prática ao que será ensinado à comunidade pois, conforme falado anteriormente, um dos objetivos da educação em saúde é garantir a autonomia da comunidade. Tendo em vista a diversidade de realidades presentes no Brasil, o norteador da educação social e de saúde deve ser o conhecimento acerca do local em que a ação será aplicada.
Ministério da Saúde - Instituição
O Ministério da Saúde, por meio da Atenção Especializada, pode contribuir para a consolidação das comunidades compassivas garantindo o que aponta a “Portaria GM/MS nº 3.681/2024 que institui a Política Nacional de Cuidados Paliativos - PNCP no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)”, por meio dos artigos que contemplam as comunidades compassivas, ou seja:
- VI - Promover a integração das comunidades do território na cultura e execução dos cuidados paliativos, tendo como referência as comunidades compassivas;
- XIII - Incentivo e apoio ao desenvolvimento de comunidades compassivas, reforçando o papel de articuladoras no território.
A integração com o SUS, especialmente com a atenção primária e domiciliar, como o programa Melhor em Casa, permite conectar as comunidades compassivas aos serviços já existentes, ampliando o suporte clínico, social e emocional. Além disso, o Ministério pode fomentar iniciativas locais por meio de parcerias com organizações comunitárias. Por fim, o monitoramento de indicadores e a disseminação de boas práticas ajudam a avaliar e expandir o modelo, promovendo o cuidado paliativo e compassivo em diferentes contextos.
Como instituir uma comunidade compassiva
A construção de uma comunidade compassiva é um processo colaborativo e centrado nas pessoas, que visa criar redes de apoio para atender necessidades relacionadas a cuidados, especialmente em situações de doença grave, ameaçadora de vida, fim de vida e luto.
O primeiro passo é compreender as necessidades específicas da comunidade. Isso pode ser feito por meio de reuniões, entrevistas e pesquisas que identifiquem os desafios relacionados a cuidados de saúde, suporte emocional e assistência social. Paralelamente, é importante mapear os recursos já existentes, como organizações comunitárias, serviços públicos e grupos locais.
Ofereça treinamentos e oficinas para fortalecer habilidades locais. Capacite voluntários em cuidados básicos, suporte emocional e comunicação compassiva. Desenvolva materiais educativos que possam ser amplamente distribuídos e adaptados às necessidades locais.
A formação de parcerias é essencial para ampliar o impacto. Conecte-se com escolas, igrejas, ONGs, empresas locais e serviços públicos de saúde e assistência social. Busque apoio institucional de órgãos municipais, estaduais e federais, além de parcerias com universidades para extensão, pesquisa e capacitação.
A participação ativa da comunidade é fundamental. Promova encontros participativos para ouvir as demandas, discutir ideias e definir prioridades. Identifique líderes comunitários e voluntários que possam atuar como embaixadores da iniciativa. Crie canais de comunicação direta, como redes sociais, boletins informativos e grupos de mensagens, para manter o diálogo constante.
Coloque as atividades planejadas em prática de forma gradual, acompanhando os resultados com indicadores específicos. Monitore o impacto por meio de dados como o número de pessoas atendidas e o engajamento da comunidade. Reavalie e ajuste as estratégias com base no feedback obtido.
Para que a comunidade compassiva seja sustentável, é importante empoderar seus membros e estimular a autossuficiência. Busque apoio financeiro de longo prazo por meio de parcerias público-privadas e incentive a entrada contínua de novos participantes, apoiadores e voluntários.
Com base nas necessidades identificadas, desenvolva ações concretas para atender a comunidade. Isso pode incluir a criação de redes de apoio entre vizinhos, grupos de escuta e oficinas educativas. Planeje também sistemas de voluntariado para oferecer suporte a pessoas vulneráveis e vulneradas, como pessoas idosas e em cuidados paliativos.
Reconheça e celebre os marcos alcançados pela comunidade por meio de divulgações públicas, por exemplo, por meio de redes sociais. Realize eventos comemorativos, divulgue histórias de sucesso e compartilhe as lições aprendidas para inspirar outras localidades a adotarem modelos similares. A construção de uma comunidade compassiva exige compromisso, empatia e colaboração. Ao envolver todos os atores locais e criar um ambiente de cuidado mútuo, é possível transformar realidades e oferecer suporte integral para quem mais precisa.