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SAÚDE COM CIÊNCIA
É falso que o “Protocolo Joe Tippens” cure o câncer
Foto: Internet
O “Protocolo Joe Tippens” voltou a circular nas redes sociais como indicação natural para curar o câncer. O protocolo inclui o uso do fenbendazol — um antiparasitário de uso veterinário — em conjunto com vitamina E, curcumina e outros ingredientes como alternativa ao tratamento médico. Além de enganosa, a desinformação divulgada é perigosa, considerando que há uma capacidade do fenbendazol de acelerar o crescimento de cânceres em pacientes em estágio inicial ou com doenças potencialmente curáveis.
Não existe qualquer comprovação científica de que o protocolo funcione contra tratamento para câncer, uma doença séria que requer cuidados médicos e protocolos exigentes indicados por profissionais sérios. O não tratamento adequado da doença pode levar até a morte.
O que é o “Protocolo Joe Tippens”
O nome vem de um empresário norte-americano que declarou ter se recuperado de um câncer após utilizar o fenbendazol. O relato viralizou e inspirou vídeos e postagens em redes sociais, levando muitos pacientes a acreditar em uma cura “milagrosa”. No entanto, não há ensaios clínicos que comprovem o uso do fenbendazol ou de qualquer dos compostos citados no tratamento de tumores.
Além disso, no mesmo período o empresário também tinha sido incluído em um ensaio clínico da MD Anderson Cancer Center com um imunoterápico, que também pode ser indicado para o tratamento de alguns tipos de câncer. A Cancer Research UK, organização de pesquisa em câncer do Reino Unido, reforça que o fenbendazol nunca passou por testes clínicos de segurança ou eficácia em humanos. No Brasil, o medicamento não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é autorizado apenas para uso veterinário pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
O que são as substâncias do protocolo
- Fenbendazol: pertence à classe dos benzimidazóis e é utilizado para tratar verminoses em animais. Seu uso em humanos é proibido, e a automedicação pode causar efeitos adversos e interferir em terapias oncológicas.
- Vitamina E: antioxidante essencial que ajuda a proteger as células contra o envelhecimento precoce, mas não há provas de que cure câncer.
- Curcumina: composto bioativo da cúrcuma (açafrão-da-índia), com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Não existem pesquisas que demonstrem sua eficácia terapêutica no tratamento de câncer.
- Óleo de CBD (canabidiol): substância extraída da Cannabis sativa que não causa efeitos psicoativos. Pode ter aplicações médicas específicas, mas não substitui o tratamento oncológico.
- Berberina: alcaloide vegetal estudado por possíveis efeitos na redução do colesterol e no controle da glicose, sem comprovação de benefício contra tumores.
- Quercetina: flavonoide presente em frutas e vegetais, com ação antioxidante, mas sem evidências de eficácia contra o câncer.
Câncer exige tratamento médico
O câncer é uma doença complexa, multifatorial e grave, que deve ser tratada com base em protocolos clínicos validados. O tratamento oncológico é definido por médicos conforme o tipo de tumor, estágio da doença e condições clínicas de cada paciente. Entre as terapias reconhecidas estão cirurgia, quimioterapia, radioterapia e, em casos específicos, transplante de medula óssea — sempre sob acompanhamento de uma equipe de saúde.
Substituir o tratamento médico por terapias alternativas sem comprovação científica pode atrasar o início de terapias eficazes e comprometer as chances de recuperação. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil deve registrar cerca de 704 mil novos casos de câncer em 2025, o que reforça a importância do diagnóstico precoce e da adesão a tratamentos seguros.
Cuidado com promessas de cura e desinformação
A ideia de “antiparasitários que curam câncer” não é nova. Assim como ocorreu com a ivermectina, o Ministério da Saúde já precisou desmentir Fake News semelhantes, alertando que não há evidências de eficácia desses medicamentos contra o câncer.
Na era das redes sociais, a desinformação sobre saúde se espalha rapidamente. Perfis que promovem terapias “naturais” ou “revolucionárias” costumam omitir que não há aprovação da Anvisa, da FDA (agência norte-americana) ou da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O caminho seguro é a medicina baseada em evidências
Se você ou alguém próximo recebeu o diagnóstico de câncer, não interrompa o tratamento prescrito. Procure um médico oncologista, esclareça dúvidas e siga as orientações da equipe de saúde. É muito importante que o paciente comece o tratamento oncológico o mais rápido possível.
Com saúde não se brinca e a medicina, apoiada pela evidência científica, salva vidas todos os dias. Desconfie de mensagens que prometem resultados imediatos, curas milagrosas ou que desestimulam o tratamento especializado. Antes de considerar qualquer suplemento ou terapia complementar, confirme com o especialista.
Fontes
As referêncas usadas nesta matéria são:
Terapias naturais não substituem tratamento médico de câncer
Ivermectina não deve ser usada para tratar câncer
Berberina não é "milagrosa" e não há evidências científicas sobre a sua eficácia para perda de peso