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SAÚDE COM CIÊNCIA
Terapias naturais não substituem tratamento médico de câncer
Foto: Walterson Rosa/MS
Na era das redes sociais, é cada vez mais comum divulgações de supostos tratamentos “naturais” para cura de diversas doenças, como o câncer. Dietas, chás, suplementos e até terapias não reconhecidas pela medicina tradicional são frequentemente apresentadas como alternativas “revolucionárias”. Porém, é preciso ficar alerta: não há qualquer comprovação científica de que essas práticas tenham eficácia para combater a doença.
Recentemente, um médico conhecido por questionar a eficácia das vacinas divulgou uma lista de nove práticas que, segundo ele, “fazem a diferença” no tratamento contra o câncer. As sugestões vão desde dieta cetogênica e jejum prolongado até o uso de suplementos como glutationa, artemisinina e sauna infravermelha.
Nenhuma dessas práticas é recomendada como tratamento contra o câncer pelas principais autoridades médicas do mundo. Elas também não têm nenhuma eficácia comprovada para tratamento de câncer.
A doença, que é complexa, multifatorial e muitas vezes grave, exige acompanhamento constante de especialistas e terapias baseadas em evidências científicas sólidas. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que o país registre cerca de 704 mil novos casos de câncer em 2025. Os tipos mais comuns são o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama feminina e o câncer de próstata.
Segundo a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), aproximadamente 80% dos pacientes recorrem, em algum momento, a terapias alternativas. Isso preocupa especialistas, pois, ao optar por tratamentos não comprovados, o paciente corre o risco de atrasar o início da terapia convencional, o que pode comprometer o sucesso do tratamento.
“Não há nenhum indício de que esses tratamentos naturais funcionem”, alertou Daniel Herchenhorn, chefe do Serviço de Oncologia Clínica do INCA na publicação “Câncer - Tratamentos alternativos: mitos e verdades”. A lista de supostos remédios naturais é longa: babosa, limão, folha de graviola, bicarbonato de sódio, aveloz (um espécie de cactus), cebola — substâncias amplamente divulgadas na internet como curas milagrosas, mas sem respaldo técnico ou científico.
Na mesma publicação, Anderson Silvestrini, na época presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), ressaltou que todo medicamento precisa passar por diversas fases de pesquisa, incluindo testes em laboratório, em humanos e comparações com os tratamentos mais eficazes disponíveis.
Só após a comprovação de segurança e eficácia é que o remédio pode ser aprovado por órgãos reguladores como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Food and Drug Administration (FDA), órgão governamental dos EUA que faz o controle dos alimentos, suplementos alimentares, medicamentos, entre outros.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) não reconhece a fitoterapia como especialidade médica, e a automedicação baseada em conselhos de redes sociais pode ser extremamente perigosa. Mais alarmante ainda são os dados de um estudo da Universidade de Yale, que mostrou que pacientes que optam apenas por terapias alternativas têm 150% mais chance de morrer do que aqueles que seguem tratamentos convencionais, em casos de cânceres curáveis.
Tratamento
Se você ou alguém próximo enfrenta um diagnóstico de câncer, não substitua o tratamento médico por terapias alternativas. Procure o mais rápido possível um médico oncologista, esclareça todas as dúvidas e siga o tratamento indicado. Faça isso antes de considerar qualquer abordagem complementar.
A medicina baseada em evidências é o caminho mais seguro para cura da doença. Por isso, siga rigorosamente as orientações da equipe médica que acompanha o caso. E lembre-se: busque sempre informações em fontes confiáveis, como os sites do INCA ou do Ministério da Saúde.
Fontes
As referências usadas nesta matéria são:
Tratamentos alternativos: mitos e verdades
INCA estima 704 mil casos de câncer por ano no Brasil até 2025