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SAÚDE COM CIÊNCIA
Entenda a importância da vacina contra o HPV
Phillipe Guimarães/MS
Imagina ter disponível uma forma de prevenir diferentes tipos de câncer? Pois ela existe e é oferecida gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, pessoas em uso de Profilaxia Pré-Exposição-PreP (15 a 45 anos), vítimas de violência sexual, pessoas vivendo com HIV ou aids e pessoas imunossuprimidas (9 a 45 anos): é a vacina contra o HPV. Mesmo agências de saúde de todo o mundo atestando que o medicamento é seguro, ainda circula muita desinformação sobre o tema, o que leva pais e responsáveis a duvidar da eficácia do medicamento para crianças e adolescentes.
Confira agora o que é verdadeiro e o que é falso sobre a vacina contra o vírus Papilomavírus Humano (HPV).
A vacina contra o HPV previne mais de um tipo de câncer?
VERDADE! O imunizante previne uma série de doenças, como câncer do colo do útero, de pênis, de ânus, de uretra e de garganta, além de prevenir condiloma (verruga genital).
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Brasil, o câncer do colo do útero, por exemplo, é o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres, excluídos os tumores de pele não melanoma.
O vírus é transmitido por meio de relação sexual?
VERDADE! O HPV é uma das infecções sexualmente transmissíveis mais frequentes no mundo. A doença está associada ao desenvolvimento da quase totalidade dos cânceres de colo de útero e, também, de diversos outros tumores em homens e mulheres.
O vírus provoca verrugas nas regiões oral (lábios, boca, cordas vocais), anal, genital e na uretra, além de câncer, a depender do tipo de vírus.
O uso de camisinha garante a segurança contra a transmissão do vírus durante o ato sexual?
FALSO. O HPV é um vírus altamente transmissível. Ele se aloja tanto na mucosa quanto na pele da região genital e, por isso, apenas o preservativo, apesar de evitar muitas transmissões do HPV e prevenir outras infecções sexualmente transmissíveis, não garante totalmente que não haverá contaminação pelo vírus.
Dessa forma, a melhor e mais segura forma de combater a disseminação do HPV é combinar o uso de camisinha (interna ou externa) com a vacinação da população.
A vacina é realmente segura para crianças e adolescentes?
VERDADE. A vacina é a medida mais eficaz de prevenção contra o HPV. Ela estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos contra a doença, o que evita a infecção pelos quatro tipos mais prevalentes do vírus, sendo que dois (tipos 16 e 18) estão altamente relacionados ao desenvolvimento de câncer do colo do útero.
Os outros dois tipos combatidos pela vacina (tipos 6 e 11) não são oncogênicos, ou seja, não têm associação comprovada entre a infecção e o câncer, mas provocam, entre outros sintomas, a formação de verrugas.
Vacinar crianças contra uma infecção sexualmente transmissível pode estimular uma vida sexual precoce?
FALSO. Essa é uma crença divulgada por muitos grupos de forma irresponsável e inconsequente. Vacinar crianças contra uma infecção sexualmente transmissível não fará com que elas iniciem a vida sexual mais cedo. O motivo para vacinar crianças é puramente biológico, já que elas costumam ter uma resposta imunológica às vacinas, ou seja, produzir anticorpos contra o HPV de forma mais efetiva do que os adultos, principalmente antes de entrarem em contato com o vírus.
Os efeitos colaterais da vacina podem prejudicar crianças e adolescentes?
FALSO. As vacinas contra o vírus são seguras e compostas, principalmente, por proteínas virais ou partículas semelhantes ao vírus, além de outros componentes como sais, conservantes e adjuvantes, que ajudam a estimular uma resposta imunológica eficaz.
Esses componentes são cuidadosamente selecionados e monitorados para garantir a segurança da vacina. Além disso, não existe nenhuma relação do imunizante com qualquer doença autoimune. Estudos e revisões sistemáticas foram realizados e, até o momento, não foi encontrada nenhuma relação.
Vale lembrar que doenças autoimunes podem ocorrer em qualquer pessoa, independentemente de terem recebido ou não a vacina.
Eventos adversos, como ocorre com qualquer vacina ou medicamento, podem ocorrer, sendo a grande maioria leves, como edema, dor de cabeça (cefaleia) e febre.
Por isso, pais, mães e responsáveis não devem ter medo de vacinar as crianças. Consulte fontes seguras sobre o tema.
A vacina é oferecida a grupos prioritários, além de crianças?
VERDADE. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina gratuitamente a crianças e adolescentes de 9 a 14 anos. O grupo prioritário também inclui pessoas vivendo com HIV ou ainda e demais pessoas imunocomprometimentas, vítimas de violência sexual, pessoas em uso de PrEP e outras condições específicas, conforme o Programa Nacional de Imunizações (PNI), podendo receber a vacina até os 45 anos.
O novo esquema vacinal, de dose única, ainda é eficaz?
VERDADE. O Ministério da Saúde lançou em 2025 uma nova estratégia de vacinação contra o HPV: o esquema vacinal é de dose única, substituindo o antigo modelo de duas aplicações. Com a medida, o estoque disponível no país praticamente dobra.
O principal objetivo da mudança é aumentar a adesão à vacinação e ampliar a cobertura vacinal, visando eliminar o câncer do colo do útero como problema de saúde pública.
A recomendação da dose única foi embasada em estudos com evidências robustas sobre a eficácia do esquema frente às versões com duas ou três etapas. Além disso, o esquema segue as recomendações mais recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Mesmo vacinada, a mulher deve continuar fazendo o exame para rastreio de câncer de colo de útero?
VERDADE. Após o início da vida sexual, a mulher deve fazer rotineiramente o exame para rastreio de câncer de colo de útero, pois ele busca investigar lesões precursoras do câncer de colo de útero. Quando as alterações são identificadas e tratadas, é possível prevenir a doença em 100% dos casos.
É possível ter HPV e não apresentar sintomas?
VERDADE. A maioria das pessoas não apresenta sintomas da infecção pelo HPV. Em alguns casos, o vírus pode ficar latente por meses ou anos, sem manifestar qualquer sinal visível a olho nu. Também pode apresentar manifestações subclínicas não visíveis a olho nu.
A diminuição da resistência do organismo pode desencadear a multiplicação do HPV e, consequentemente, provocar o aparecimento de lesões. A maioria das infecções (sobretudo em adolescentes) são resolvidas espontaneamente pelo próprio organismo, em aproximadamente 24 meses.
Caso apareçam manifestações do HPV, a ocorrência pode ser entre dois a oito meses ou demorar até 20 anos para aparecer. Elas são mais comuns em gestantes e em pessoas com imunidade baixa. O diagnóstico do HPV é atualmente realizado por meio de exames clínicos e laboratoriais, dependendo do tipo de lesão.
Lesões clínicas: verrugas na região genital e no ânus (denominadas tecnicamente de condilomas acuminados e popularmente conhecidas como "crista de galo", "figueira" ou "cavalo de crista"). Podem ser únicas ou múltiplas, de tamanhos variados, achatadas ou papulosas (elevadas e sólidas). Em geral, são assintomáticas, mas podem causar coceira no local. Essas verrugas, geralmente, são causadas por tipos de HPV não cancerígenos.
Lesões subclínicas (não visíveis ao olho nu): encontradas nos mesmos locais das lesões clínicas e não apresentam sinal/sintoma. Essas lesões podem ser causadas por tipos de HPV de baixo e de alto risco para desenvolver câncer e podem acometer vulva, vagina, colo do útero, região perianal, ânus, pênis (geralmente na glande), bolsa escrotal e/ou região pubiana. Com menos frequência, podem estar presentes em áreas extragenitais, como conjuntivas, mucosa nasal, oral e laríngea.
Após contrair HPV existe possibilidade de cura?
VERDADE. Sim, existe possibilidade de cura após contrair o HPV, mas é importante entender como o vírus funciona no corpo. O sistema imunológico pode eliminar o vírus naturalmente dentro de alguns meses a poucos anos, sem causar problemas graves. Essa eliminação natural pode ser considerada uma "cura" no sentido de que o vírus deixa de ser detectável e não causa mais lesões.
Porém, há casos em que o vírus pode persistir no organismo por mais tempo e causar alterações nas células, que podem levar a problemas como verrugas genitais ou, em casos mais graves, lesões pré-cancerosas e câncer. Por isso é importante estar com os exames em dia de rastreamento do câncer de colo de útero e procurar uma unidade de saúde sempre que observar presença de verrugas na região genital e no ânus.
Não há um tratamento específico para eliminar o vírus em si, mas as lesões causadas pelo HPV podem ser tratadas. O tratamento das verrugas na região genital deve ser individualizado, considerando características das lesões (extensão, quantidade e localização) e efeitos adversos. O tratamento pode ser feito em casa ou no serviço de saúde. O tratamento das verrugas anogenitais não elimina o vírus, por isso as lesões podem reaparecer. No caso de lesões subclínicas, elas também podem ser tratadas e prevenir o desenvolvimento dos cânceres causados pelo HPV, principalmente o câncer de colo de útero.
Juntos contra a desinformação
Vacinas salvam vidas! Lembre-se sempre disso. Não acredite em informações que querem desacreditar a ciência. Por isso, é importante verificar informações que insistem em desestimular a população a se vacinar. A imunização já conseguiu eliminar diversas doenças. Procure fontes confiáveis, principalmente quando o assunto é saúde.
Proteja a sua saúde. Não compartilhe desinformação!
Fontes:
As referências usadas nesta matéria são as seguintes:
Vacina contra o HPV: a melhor e mais eficaz forma de proteção contra o câncer de colo de útero
Vírus HPV pode ficar latente no organismo durante anos; saiba os sintomas e como se proteger
Ministério da Saúde adota esquema de vacinação em dose única contra o HPV