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SAÚDE COM CIÊNCIA
Vacinas de RNA mensageiro contra a Covid-19 não causam problemas cardíacos em praticantes de atividade física
Foto: Internet
Um vídeo de um nutricionista, que circula nas redes sociais, associa vacinas contra Covid-19 baseadas na tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) — como Pfizer, Moderna e AstraZeneca — com possíveis problemas cardíacos em praticantes de atividades físicas. Segundo o profissional no vídeo, é importante realizar ressonância magnética nuclear do miocárdio.
A publicação sugere ainda uma suposta relação entre as vacinas e eventos cardíacos súbitos, insinuando que a própria Pfizer teria reconhecido esses riscos. A informação é enganosa e distorce dados já consolidados sobre os efeitos adversos das vacinas.
Números
De acordo com o Programa Nacional de Imunizações (PNI), até dezembro de 2022 o Brasil havia aplicado mais de 501 milhões de doses contra a Covid-19. Nesse universo, foram registrados apenas 154 casos de miocardite ou pericardite — o que equivale a 0,03 notificações para cada 100 mil doses aplicadas. Nenhum óbito teve relação causal comprovada com a vacinação.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lembra que eventos adversos notificados logo após a aplicação não significam, necessariamente, que a vacina seja a causa. Após a notificação os casos passam por investigação minuciosa para determinar a relação causal. Muitos quadros de miocardite, por exemplo, podem ocorrer após infecções virais comuns, sem nenhuma ligação com a vacina.
O que é miocardite
A miocardite é uma inflamação rara no coração, que pode surgir como complicação de diferentes infecções, ingestão de toxinas, uso de certos medicamentos ou distúrbios sistêmicos. Os sintomas mais comuns incluem dor no peito, falta de ar, tontura, batimentos irregulares, inchaço nas pernas e cansaço excessivo.
O que já foi dito sobre o assunto
Em julho de 2021, a Anvisa alertou sobre o risco de miocardite e pericardite associado a vacinas de mRNA, após análises da agência reguladora norte-americana (FDA). Naquele momento, não havia registros no Brasil, mas o aviso teve caráter preventivo, para reforçar a vigilância de profissionais de saúde quanto ao diagnóstico, tratamento e notificação de casos.
Com o avanço da vacinação e a entrada de novos imunizantes no país, a Anvisa e o Ministério da Saúde atualizaram as informações, destacando que os eventos continuam extremamente raros. Em 2025, o próprio Ministério reiterou a indicação em bula da miocardite como uma ocorrência muito rara (inferior a 0,01% dos vacinados) e reforçou a importância da imunização.
OMS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também confirmou registros muito raros de miocardite e pericardite após vacinas de mRNA, sobretudo em homens jovens após a segunda dose. Porém, ressaltou que os casos, em geral, são leves, com boa resposta ao tratamento e alta taxa de recuperação.
A OMS destacou ainda que a própria Covid-19 representa um risco muito maior de complicações cardíacas do que a vacina. Ou seja: não se vacinar é se expor a um perigo real e elevado.
As orientações das autoridades são claras: procure um médico em caso de sintomas como dor no peito, falta de ar ou palpitações. Não existe nenhuma recomendação oficial para exames preventivos, como ressonância magnética cardíaca, em pessoas sem sintomas.
Como funcionam as vacinas de mRNA
Essas vacinas não carregam o vírus vivo, não causam infecção e tampouco alteram o DNA humano. Elas funcionam como uma “receita temporária”: levam ao corpo uma sequência sintética de mRNA que ensina as células a produzir uma proteína do coronavírus. Essa proteína é inofensiva, mas suficiente para ativar o sistema imunológico e preparar o organismo contra o vírus real. Cumprida sua função, o RNA é naturalmente degradado pelo corpo.
Eventos adversos
Todo medicamento pode gerar eventos adversos — ou “reações” — e as vacinas não são exceção. A maioria é leve e de curta duração, como dor no local da aplicação, dor de cabeça ou febre baixa. Os eventos graves são raros e sempre investigados para verificar se há relação causal com a vacinação.
No Brasil, esse monitoramento é feito pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Anvisa, a Fiocruz (INCQS) e as Secretarias de Saúde. O objetivo é garantir a segurança dos imunizantes e avaliar permanentemente a relação risco-benefício da vacinação.
Não caia em Fake News
Mensagens como a que circula nas redes se apoiam em um artifício comum da desinformação: usar dados antigos ou isolados, fora de contexto, para espalhar medo. A ciência já demonstrou de forma consistente que as vacinas contra a Covid-19 são seguras, eficazes e a principal ferramenta para reduzir complicações graves e mortes pela doença.
Fontes
As referências usadas nesta matéria são as seguintes:
Fake news sobre vacinas: entenda os perigos da desinformação
Anvisa esclarece sobre risco de miocardite e pericardite pós-vacinação
Combatendo a desinformação: o que você precisa saber sobre vacinas, miocardite e morte súbita