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Covid-19
O que é importante saber a respeito da vacina da Covid-19 em crianças e grupos prioritários
- Foto: Myke Sena /MS
O Ministério da Saúde divulgou, no fim de outubro, a inclusão da vacina contra Covid-19 pediátrica no Calendário Nacional de Vacinação a partir de 2024. Depois do anúncio, informações enganosas começaram a circular nas principais redes sociais, assustando pais e responsáveis. Para garantir o acesso a informações confiáveis e seguras, o Saúde com Ciência traz dados, fatos e documentos científicos para sanar dúvidas e tranquilizar a população.
A vacina para Covid-19 é segura para crianças?
Todas as vacinas autorizadas para uso passaram por um rigoroso processo de avaliação da sua eficácia e segurança pela Anvisa no Brasil. O Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e da Anvisa, realiza o monitoramento da segurança pós comercialização das vacinas de forma contínua e sistemática. De acordo com o estudo publicado pela International Journal of Infectious Diseases, realizado em Shanghai, com quase 3 mil crianças na China, entre 24 dias de vida e 17 anos, que foram acompanhadas durante a pandemia de Covid-19, observou-se uma redução da transmissão familiar quando as crianças estavam vacinadas. Além disso, as crianças não vacinadas, especialmente as que apresentavam comorbidades, tiveram um risco maior de desenvolver doença moderada a grave.
Qual a probabilidade de crianças apresentarem efeitos adversos por causa da vacinação no Brasil?
Foram administradas mais de 35,3 milhões de doses de vacinas em crianças de 12 anos no Brasil. Não há o registro de mortes causadas pela vacinação pediátrica contra a Covid-19 no país. O Sistema Nacional de Vigilância de Eventos Supostamente Atribuíveis à Vacinação ou Imunização (VESAVI) detectou, até o momento, a notificação de 0,04 eventos a cada 100 doses administradas. Isso é considerado muito raro pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O uso de imunizante é muito mais seguro do que a criança ter a doença sem o imunizante, podendo apresentar complicações graves em decorrência da Covid-19. Do total de casos notificados, a maioria (67%) era por erros de imunização relacionados, principalmente, à administração de vacina inadequada para a idade. A maioria das intercorrências médicas não eram graves, incluindo reações locais (dor no local da injeção etc.) ou sistêmicas (febre baixa, mal estar geral etc.) com boa evolução. Em relação às intercorrências graves, a maioria não esteve associado diretamente às vacinas Covid-19, tornando sua frequência ainda mais rara na população.
Diante deste cenário, e considerando o elevado risco de morbimortalidade pediátrica por Covid-19, podemos concluir que o benefício das vacinas Covid-19 supera, e muito, o risco da não vacinação. O Ministério da Saúde, portanto, mantém a recomendação da vacinação de rotina das crianças contra a Covid-19 no Brasil.
Por que as crianças devem ser vacinadas para Covid-19?
Em geral, a Covid-19 em crianças e adolescentes é caracterizada pelo desenvolvimento de quadros clínicos mais leves quando comparada aos adultos. Contudo, é importante ressaltar que essa população não está isenta de apresentar formas graves e letais da doença, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). Em números absolutos, a carga da Covid-19 nessa faixa etária é significativa, principalmente, quando comparada à outras doenças infectocontagiosas e imunopreveníveis que afetam (ou afetaram antes da vacinação) as crianças no país.
O benefício da vacinação contra a Covid-19 em crianças foi avaliado em estudos que utilizaram os critérios de ponte imunológica e eficácia, e apesar dos resultados demonstrarem uma menor eficácia das vacinas contra a infecção no contexto da variante ômicron, elas tiveram o seu papel protetor demonstrando na redução de desfechos graves (hospitalizações, complicações, sequelas e mortes) nas crianças vacinadas.
O estudo PROTECT avaliou a eficácia das vacinas Covid-19 em crianças e demonstrou que: duas doses da vacina Pfizer-BioNTech recebidas foram moderadamente eficazes (31%) na prevenção da infecção sintomática e assintomática por ômicron entre crianças de 5 a 11 anos e 59% eficazes entre adolescentes de 12 a 15 anos. Os participantes que foram infectados com ômicron apesar de terem recebido 2 doses de vacina registraram menos tempo de ausências no período escolar do que os participantes não vacinados quando infectados por ômicron. Este estudo fornece evidências de que 2 doses da vacina Pfizer-BioNTech é eficaz na prevenção de morbimortalidade e infecção sintomática por SARS-CoV-2 com a variante ômicron em crianças e adolescentes de 5 a 15 anos.
Quais estudos subsidiaram as ações do governo para a inclusão da vacina de Covid-19 no calendário vacinal das crianças?
Há diversas evidências que comprovaram a relação de benefício das vacinas em relação ao risco da não vacinação pediátrica contra a Covid-19, incluindo os dados epidemiológicos levantados pelo Sistema Nacional de Vigilância em Saúde (morbimortalidade, imunização e segurança das vacinas) que são utilizados de forma contínua e sistemática para subsidiar a tomada de decisão em saúde pública.
O Ministério da Saúde destaca que a recomendação vai priorizar crianças de 6 meses a menores de 5 anos e os grupos com maior risco de desenvolver as formas graves da doença: idosos, imunocomprometidos, gestantes e puérperas, trabalhadores da saúde, pessoas com comorbidades, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, pessoas vivendo em instituições de longa permanência e seus trabalhadores, pessoas com deficiência permanente, pessoas privadas de liberdade maiores de 18 anos, adolescentes e jovens cumprindo medidas socioeducativas, funcionários do sistema de privação de liberdade e pessoas em situação de rua. A inclusão já passou por avaliação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI).
Ministério da Saúde
Referências:
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Resultados PROTECT:
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