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Selecionadas do Edital Atlânticas representam o Brasil no exterior
No Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado desde 2015 por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), o Ministério da Igualdade Racial (MIR) destaca a conquista de algumas das 86 mulheres selecionadas pelo Edital Atlânticas - Programa Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência.
Realizada em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a iniciativa, que conta com investimento de R$8 milhões tem como objetivo ampliar a presença e a permanência de mulheres negras, quilombolas, indígenas e ciganas na ciência brasileira, oferecendo bolsas para doutorado sanduíche e pós-doutorado no exterior.
Daiana Sousa, doutoranda em Estudos Comparados sobre as Américas na Universidade de Brasília (UnB), recebeu nota máxima em todos os quesitos de sua candidatura. A oportunidade é inédita em sua vida e celebra a oportunidade de se dedicar exclusivamente à sua pesquisa. “É a primeira vez, em toda a minha formação acadêmica, que eu tenho o privilégio de poder estudar sem precisar trabalhar”, afirma Daiana, que é advogada, tem dois mestrados, é professora universitária e mãe.
A pesquisa de Daiana investiga os desafios enfrentados por meninas de 10 a 14 anos que engravidaram em decorrência de violência sexual e encontram barreiras para acessar o direito ao aborto legal. “Quero entender como essas barreiras se manifestam e o que legitima a decisão de negar um direito legalmente instituído. Como segue a vida depois que esse direito é obstaculizado?”, questiona.
Daiana desenvolveu parte de sua pesquisa na Universidad Autónoma Metropolitana de Xochimilco, no México, em modalidade de doutorado sanduíche, entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025 e ressalta a importância do programa em sua trajetória. “Sou grata a todas as instituições envolvidas na realização do programa e ao Ministério da Igualdade Racial por proporcionar essa oportunidade única. Agora, já no Brasil, com novos horizontes, quero dar continuidade à minha pesquisa, contribuindo para a construção de um futuro mais justo para meninas vítimas de violência sexual”, conclui.
Outra selecionada é Angele Martins, docente do Instituto de Ciências Biológicas da UnB, que embarca, no segundo semestre de 2025, para um pós-doutorado em Bonn, na Alemanha. Especialista na evolução morfológica da família Leptotyphlopidae, conhecida como cobras-cegas delgadas, Angele celebra a oportunidade de acesso a novos materiais de pesquisa. “Com essa seleção, terei a chance de estudar espécimes aos quais não teria acesso aqui no Brasil”, afirma. Para ela, o incentivo à educação sempre esteve presente em sua vida. “Minha criação foi baseada na ideia de que ‘conhecimento ninguém tira, o mundo é teu’”, relembra.
“As Atlânticas são transformação", afirma Merllin de Souza, fisioterapeuta e doutoranda na Universidade de São Paulo (USP). Especialista em fisioterapia aplicada à reumatologia, sua pesquisa investiga o uso da saúde digital no tratamento da dor lombar na população negra brasileira. Atualmente, ela realiza um doutorado sanduíche na Harvard University, nos EUA, e destaca a profundidade da experiência. "Essa experiência tem sido única, tanto academicamente quanto pessoalmente. Especialmente por conta das diferenças interculturais e sociais entre os Estados Unidos e o Brasil. Mulheres negras cientistas, independentemente da área de atuação, e que vêm das barrancas da Amazônia, como eu, querem apenas uma oportunidade com qualidade e respeito a toda a nossa trajetória."
EDITAL – O Programa Beatriz Nascimento é uma iniciativa interministerial para impulsionar a trajetória de mulheres cientistas pertencentes a grupos historicamente marginalizados. Além do MIR e do CNPq, também integram a iniciativa o Ministério das Mulheres, o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Entre os objetivos do programa estão a ampliação do acesso a bolsas no exterior, o fomento às redes de cooperação acadêmica internacional e a promoção de ações de educação e divulgação científica. Com essa iniciativa, o Brasil avança na inclusão e no reconhecimento de mulheres negras, indígenas, quilombolas e ciganas como protagonistas da ciência e da inovação.