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ARTIGO
Por um Dia da Terra com Justiça Climática
Arte de Tábata Matheus sobre foto de Thaylyson Santos
Celebrado mundialmente em 22 de abril, o Dia da Terra representa um marco fundamental para refletirmos coletivamente sobre as urgências ambientais e sociais que afetam nosso planeta. Em meio à crescente crise climática, torna-se cada vez mais evidente que os impactos ambientais não atingem todas as comunidades da mesma forma. No Brasil, esta desigualdade ambiental reflete diretamente as profundas e históricas desigualdades raciais e sociais que moldam nossa sociedade.
Reconhecer que as populações negras, indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais em geral estão mais vulneráveis aos efeitos extremos das mudanças climáticas é essencial para estabelecer estratégias efetivas de adaptação e mitigação. O racismo ambiental e climático conecta diretamente a degradação ambiental às condições precárias impostas historicamente a essas populações, aprofundando disparidades já existentes e perpetuando as injustiças herdadas do período colonial e escravagista.
Neste contexto, a adaptação climática deve necessariamente caminhar junto à justiça racial. Não se trata apenas de reduzir emissões de carbono, mas também de garantir que as políticas ambientais incluam efetivamente essas comunidades, promovendo ações concretas que combatam a exclusão e assegurem infraestrutura adequada, acesso seguro à terra e recursos naturais essenciais para sua subsistência.
O papel da sociedade civil é fundamental nessa jornada rumo à justiça climática. Neste Dia da Terra, é vital reforçar e apoiar a participação ativa de movimentos sociais e organizações comunitárias tanto no monitoramento quanto na formulação de políticas ambientais equitativas. Fóruns e conselhos locais tornam-se espaços cruciais para que essas populações expressem suas demandas por cidades e territórios resilientes, com planos de adaptação elaborados democraticamente.
Para que a transição ecológica seja efetivamente sustentável, ela precisa ser socialmente justa. Garantir que trabalhadores e populações vulneráveis estejam protegidos ao longo deste processo é um compromisso inegociável. Nas cidades, por exemplo, o combate às desigualdades raciais e socioeconômicas passa por um planejamento urbano estratégico, incluindo infraestrutura verde, transporte público sustentável, políticas habitacionais inclusivas e drenagem urbana eficiente.
É imperativo que governos locais, estaduais e federal atuem de forma coordenada para assegurar recursos técnicos e financeiros adequados às populações mais afetadas. A colaboração interfederativa fortalece a governança climática, garantindo que políticas públicas, como o programa AdaptaCidades, contemplem a realidade específica desses territórios vulneráveis.
Às vésperas da COP 30, que será realizada em Belém (PA), o Brasil tem uma oportunidade histórica para assumir protagonismo no cenário internacional, destacando a integração entre justiça climática e igualdade racial. Esse evento pode marcar um ponto de inflexão, consolidando uma abordagem climática verdadeiramente inclusiva e antirracista, onde populações indígenas, quilombolas e periféricas sejam reconhecidas como protagonistas na preservação ambiental e na construção de alternativas econômicas sustentáveis.
Neste Dia da Terra, renovar o compromisso com ações estruturantes que aliem adaptação, mitigação e reparação histórica é essencial para garantir que o enfrentamento às mudanças climáticas seja, acima de tudo, um passo rumo a uma sociedade mais justa, sustentável e inclusiva.