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NOTA DE PESAR
Pela morte do ator e intelectual antirracista Haroldo Costa
O Brasil perdeu, no dia de ontem, um dos seus mais ilustres artistas, Haroldo Costa, de 95 anos, que fez sua passagem na Casa de Saúde São João de Deus, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro.
Carioca do bairro de Piedade, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Haroldo Costa foi ator, diretor, escritor, jornalista, produtor cultural e um dos maiores intelectuais do samba e da cultura negra brasileira. Sua trajetória se confunde com a própria história da luta antirracista e da valorização das expressões culturais afro-brasileiras no país.
Iniciou sua carreira artística no Teatro Experimental do Negro, companhia idealizada por Abdias do Nascimento, e protagonizou a histórica montagem de Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes, em 1956, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, tornando-se o primeiro ator negro a encenar a peça inspirada no mito de Orfeu e Eurídice. Ao longo de sua vida, Haroldo foi também um dos fundadores da Brasiliana, primeira companhia nacional de danças folclóricas, que levou a cultura brasileira a 26 países.
Autor de 15 livros, entre eles Fala, crioulo – O que é ser negro no Brasil, Salgueiro: Academia do Samba e Na cadência do samba, Haroldo Costa dedicou sua produção intelectual à afirmação da identidade negra, à memória do samba e à centralidade da cultura popular como dimensão política e civilizatória. Em 2023, foi curador da exposição Heitor dos Prazeres é meu nome, no CCBB, reafirmando seu compromisso com a preservação da memória cultural negra.
Salgueirense apaixonado, foi uma das maiores autoridades em samba e carnaval, presidente de honra do júri do Estandarte de Ouro e comentarista histórico dos desfiles das escolas de samba. Sua atuação foi decisiva para reconhecer o samba como patrimônio cultural, político e identitário do povo negro brasileiro.
O Ministério da Igualdade Racial se solidariza com familiares, amigos, companheiros e companheiras de luta, e com toda a comunidade do samba e da cultura brasileira. Ao mesmo tempo, reafirma que a partida de Haroldo Costa representa uma perda imensa para a luta antirracista, para a cultura negra e para a memória viva do Brasil.