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MIR e Ufopa inauguram mais duas Afrotecas na região do Baixo Amazonas
O Ministério da Igualdade Racial (MIR) inaugurou, em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), mais duas unidades de Afrotecas no estado. A unidade de Belterra foi instalada no dia 29 de maio e a de Santarém no dia 30 do mesmo mês.
Tecnologias sociais que promovem a valorização da diversidade étnico-racial e o enfrentamento ao racismo desde os primeiros anos de vida, as Afrotecas representam um importante avanço no fortalecimento de ações afirmativas na educação infantil. Elas contam com um investimento de quase R$700 mil do MIR para sua ampliação.
“Essa união de esforços e de responsabilidade em todos os níveis mostra um Estado que busca reparar as violências raciais implementadas ao longo da história. Traremos à tona e daremos visibilidade ao povo negro a partir do fortalecimento das infâncias negras”, coloca a diretora de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo (Separ), Layla Carvalho.
Segundo o coordenador do projeto na Ufopa, professor Luiz Fernando de França, a implantação das novas unidades representa um avanço estratégico na consolidação do modelo pedagógico afrocentrado e na ampliação das políticas públicas de combate ao racismo desde a primeira infância. Para ele, a concretização do projeto só é possível graças à parceria fundamental com o Ministério.
“Essa articulação interseccional promovida pelo MIR é indispensável. O investimento do Governo Federal e o envolvimento das juventudes negras e quilombolas, bem como das mães e comunidades tradicionais, mostram que a Afroteca é uma ação de enfrentamento ao racismo que se constrói de forma coletiva e integrada, impactando diretamente as políticas públicas para a infância, a educação e os direitos raciais”, colocou.
Kiriku e Bucala – Oferecendo um espaço estruturado como uma forma concreta de ação afirmativa na educação básica, as duas novas unidades se somam à Afroteca Curumim, inaugurada em novembro de 2024 no Campus Tapajós da Ufopa, em Santarém. Com essas inaugurações, a iniciativa passa a atender 402 alunos, beneficiando 300 famílias na unidade Kiriku e 110 crianças em Bucala, impactando 80 famílias.
Implantada na Escola Municipal Vitalina Motta, na zona rural de Belterra (PA), o nome da Afroteca Kiriku é inspirado na lenda africana do bebê guerreiro que salva sua aldeia. Já a unidade da Escola Municipal Nossa Senhora do Livramento, localizada na comunidade quilombola Saracura, em Santarém (PA), homenageia a obra de Davi Nunes, que celebra a infância de uma princesa negra no Quilombo do Cabula, em uma narrativa repleta de afeto, ancestralidade e conexão com a natureza.
A professora Leila Jane de Guimarães, mulher preta, quilombola, nascida e criada no território de Saracura, participou ativamente da implementação do espaço. Ela compartilha a emoção de retornar à escola onde estudou e lecionou, agora como implementadora da Afroteca: “Iniciei a minha vida educacional aqui. Fui aluna, fui docente deste território e agora retorno como implementadora dessa tecnologia, que proporciona representatividade e autoafirmação da identidade, contribuindo para a formação de crianças e cidadãos melhores”, afirmou.
Leila enfatiza que a construção da Afroteca de sua comunidade foi feita de forma conjunta, ouvindo o coletivo, que se envolveu desde a concepção da ideia. "Tudo foi pensado para eles e com eles. Nosso compromisso é educar para as relações raciais desde a primeira infância, com materiais palpáveis – jogos, bonecas, instrumentos musicais – e, principalmente, literaturas nas quais as crianças se vejam representadas.”
Afrotecas – A iniciativa educacional representa uma ação concreta de implementação das Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena nas escolas, ampliando as possibilidades pedagógicas para o reconhecimento, a valorização e o fortalecimento das identidades negras, quilombolas, indígenas e afro-brasileiras no ambiente educacional.
O projeto, estruturado como uma forma concreta de ação afirmativa na educação básica, oferece às crianças um espaço lúdico e formativo, composto por livros, brinquedos, jogos e instrumentos musicais cuidadosamente selecionados. Esses materiais visam estimular a imaginação, fortalecer o pertencimento e promover o reconhecimento positivo da diversidade étnico-racial.
A proposta das Afrotecas nasce das pesquisas desenvolvidas no Grupo de Pesquisa em Literatura, História e Cultura Africana, Afro-brasileira, Afro-Amazônica e Quilombola (AFROLIQ) da Ufopa, que, a partir de diagnósticos e análises sobre como o racismo atinge crianças na educação básica, estruturou os espaços como uma intervenção pedagógica e tecnologia social antirracista desde a primeira infância.
Além dessas, mais três inaugurações de Afrotecas estão previstas para 2025: no Quilombo Boa Vista, no município de Oriximiná (PA); no município de Monte Alegre (PA); e no Quilombo Pacoval, no município de Alenquer (PA).