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MIR e Ufopa inauguram Afroteca no Quilombo Boa Vista, em Oriximiná (PA), e marcam os 30 anos da comunidade
Foto: Divulgação
O Ministério da Igualdade Racial (MIR), em parceria com a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), inaugurou a Afroteca Marina dos Santos, na Escola Municipal Boa Vista, localizada no Quilombo Boa Vista, no município de Oriximiná (PA). A entrega faz parte do cronograma de implantação de seis Afrotecas na região de Santarém e do Baixo Amazonas e reafirma o compromisso com a valorização das identidades negras, quilombolas e afro-brasileiras na educação básica.
Ao todo, a iniciativa educacional atenderá 430 famílias e beneficiará diretamente 123 crianças matriculadas da educação infantil ao 5º ano do ensino fundamental. A implementação foi realizada com base em uma metodologia participativa, envolvendo a comunidade escolar, lideranças locais e famílias, garantindo que o acervo e o ambiente reflitam as especificidades e os saberes do território.
Durante cerimônia de inauguração, realizada na última sexta-feira (20), também foi em celebração aos 30 anos da titulação coletiva do território de Boa Vista, um marco para o movimento quilombola no Brasil. Reconhecida oficialmente em 1995, a comunidade foi a primeira do país a conquistar o título de suas terras, consolidando sua trajetória de resistência, organização e afirmação cultural na Amazônia.
O coordenador-geral de Ações Afirmativas na Educação do MIR, Jefferson Acácio, destacou a importância de reconhecer, em vida, quem constrói a história com “os pés no chão e os olhos no futuro”. “Esta homenagem à dona Marina dos Santos expressa a força viva de uma história que segue sendo construída com dignidade e compromisso. A inauguração da Afroteca é parte de um conjunto maior de ações que o Ministério da Igualdade Racial vem realizando com a comunidade de Boa Vista, fortalecendo laços com o território e com as pessoas”.
Ele também lembrou como as Afrotecas são espaços de afeto, conhecimento e pertencimento, além de um local onde as crianças podem crescer se reconhecendo com cuidado e respeito. “Elas têm o direito de saber de onde vieram, quem são e o quanto são importantes. Esta é a prova viva de que as Leis 10.639 e 11.645 podem, sim, sair do papel e se transformar em realidade concreta nas escolas brasileiras”, afirmou o coordenador.
A Afroteca Marina dos Santos é uma tecnologia social afrocentrada e antirracista, estruturada para promover o cuidado, a leitura e a imaginação de crianças quilombolas a partir de uma abordagem que valoriza suas raízes e ancestralidades. O espaço conta com livros, jogos, brinquedos e instrumentos musicais cuidadosamente selecionados, que refletem a cultura africana, afro-brasileira e quilombola.
Lucidalva Ferreira, educadora da Escola Municipal Boa Vista e uma das implementadoras da Afroteca, celebrou a oportunidade de participar da criação do espaço. "Oriximiná é um quilombo que me ensinou muito. Todo mundo recebeu de coração aberto o projeto. Explicamos para a comunidade o que seria uma Afroteca, e todos foram amigáveis com a gente”, disse.
“Quero ver, futuramente, muitas crianças dizendo: ‘Eu me vi naquela princesa, eu me reconheci, gostei daquele instrumento e vou tocar. Aquele é o meu quilombo, eu faço parte dele e vou levar isso para o ensino fundamental, médio, faculdade, mestrado, doutorado.’ É esse o sentimento que me move, porque eu realmente sonho com essas crianças, que elas cresçam com essa visão de pertencimento e de futuro”, completou a professora.
Afrotecas – A Afroteca Marina dos Santos soma-se às demais unidades inauguradas nos municípios de Santarém e Belterra e compõe uma rede de espaços pedagógicos antirracistas em expansão na região do Baixo Amazonas. O projeto é coordenado pela Ufopa, por meio do Grupo de Pesquisa em Literatura, História e Cultura Africana, Afro-brasileira, Afro-Amazônica e Quilombola (AFROLIQ), que desenvolveu os diagnósticos e metodologias que embasam essa iniciativa.
A ação reafirma o compromisso do Estado brasileiro com a implementação das Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena nas escolas, além de representar um avanço na construção de políticas públicas que reconhecem e fortalecem as identidades das infâncias quilombolas.
Marina dos Santos – Durante a cerimônia, a homenageada que dá nome ao espaço esteve presente: Marina dos Santos, nascida no Quilombo Boa Vista em 24 de novembro de 1948, é filha de Francisca Paula dos Santos e José Marcelo. Mulher negra, quilombola, mãe, avó e bisavó, Marina foi a primeira professora e a primeira agente de saúde da comunidade. Também atuou como catequista e foi participante ativa do movimento de mulheres quilombolas.
Em eventos culturais e festivos, apresentava-se como a personagem "Catirinha", levando rima, alegria e memória para todos. A escolha de seu nome para a Afroteca é um reconhecimento à sua trajetória de participação e comprometimento com a educação e a cultura de Boa Vista.