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Integração entre justiça climática e de gênero é tema de painel de alto nível da COP30
A secretária-executiva do Ministério da Igualdade Racial (MIR), Rachel Barros, falou, nesta quarta-feira (19), em um painel de alto nível da COP30, em Belém (PA). Ao lado da ministra das Mulheres, Márcia Lopes, ela defendeu a necessidade da produção de dados desagregados para formulação de políticas climáticas e explicou como a ausência de marcadores de gênero, raça e território tem impedido a construção de diagnósticos precisos e respostas efetivas.
“É essencial adotar a interseccionalidade como princípio operativo que informe metodologias, indicadores, financiamento e monitoramento. Isso significa garantir que raça, gênero e território sejam simultaneamente considerados na formulação e implementação de políticas climáticas”, defendeu.
Rachel Barros ressaltou a importância dessa formulação especialmente para mulheres afrodescendentes, que estão mais vulneráveis. “O fenômeno global das mudanças climáticas afeta especialmente as mulheres afrodescendentes, porque elas estão habitando os espaços periféricos e sofrem mais com desastres ambientais”, afirmou. “Falo, sobretudo dos espaços liderados por mulheres que dependem de seus territórios para manter suas tradições, crenças e formas de vida”, completou.
Compartilhando dados sobre a forma com que os desastres climáticos afetam as mulheres de forma desproporcional, a ministra Márcia apresentou uma proposta de protocolo para qualificar as políticas voltadas para mulheres.
Promovido pelo Ministério das Mulheres, o painel “Integrando Mulheres no combate à crise climática e na construção de Sociedades Resilientes”, que aconteceu na Zona Azul – área reservada às representações oficiais de governos –, reuniu, além das representantes do MIR e MMulheres e Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, autoridades da Organização das Nações Unidas (ONU) para Redução dos Riscos de Desastres, da ONU Mulheres e da organização global de defesa de mulheres, WEDO.
A secretária-executiva do MIR participou, ainda, do evento “Bemviver e reparações - Não há Justiça Climática Sem Justiça Racial e de Gênero”, também na Zona Azul, onde defendeu que a pauta é prioridade para o Ministério. Rachel também lembrou que a oportunidade da Marcha das Mulheres Negras pela Reparação e Bem-Viver, que acontece no próximo dia 25, de novembro, em Brasília, e tem aporte financeiro de mais de R$1 milhão do MIR, é oportunidade de pautar ainda mais o debate.
Outras participações – Ainda nesta quarta-feira, véspera Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, o secretário de Gestão do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Senapir), Clédisson Júnior, falou em uma roda de conversa em alusão ao 20 de novembro, no Centro Cultural Banco da Amazônia.
Ao dialogar com o público, o secretário reforçou que a data reafirma a trajetória de resistência do povo negro no Brasil e sua contribuição para a construção de um país mais justo. “O dia 20 de novembro é essa data que sintetiza a busca por liberdade e autonomia”, ressaltou.
Ele apontou que as desigualdades ainda persistem, mas que a luta pela visibilidade e pela garantia de direitos segue viva: “resistir àquilo que nos oprime, resistir àquilo que de forma indiferente nos invisibiliza.”
David Maia, quilombola do Quilombo Abacatal – que tem mais de 300 anos de história – também se somou à fala de resistência trazida pelo secretário Clédisson. “No quilombo as crianças, desde cedo, acompanham as lutas”, disse. “A vida de quem vive no quilombo é assim [de resistência] desde cedo”, revelou.
Clédisson Júnior também conectou a agenda à realização da COP30, lembrando que os caminhos para um planeta sustentável passam justamente pelo reconhecimento e fortalecimento das populações que historicamente protegem os territórios. “Vocês, muitos de vocês amazônidas, têm nos ensinado ao longo destas tantas décadas sobre como resistir.”
Carta pelo Clima – A Rede Afroambiental entregou ao MIR, na terça-feira (18), a “Carta dos Povos de Matriz Africana e de Terreiro pelo Clima”. O documento, produzido no contexto da Cúpula dos Povos de Matriz Africana, que foi realizada entre Amapá e Pará, detalha propostas e recomendações para o Governo.
A carta traz, além das metodologias do encontro, que envolveu pedagogia ancestral baseada em oralizada e tecnologias sociais tradicionais, a consideração de que não há justiça climática sem justiça racial e que povos de terreiro, quilombolas e comunidades negras são pulares da proteção da vida e da biodiversidade.
“Esta carta é um marco político e espiritual para um futuro justo, ancestral e sustentável”, afirma o documento.