Notícias
Raça é o principal fator de discriminação no Brasil
Imagem: Reprodução
O Ministério da Igualdade Racial (MIR), em parceria com a Vital Strategies e a Umane, divulgou, nesta terça-feira (20), um estudo inédito que revela que raça é o principal fator de discriminação no Brasil. Segundo a pesquisa “Experiência de Discriminação Cotidiana pela População Brasileira”, 84% dos entrevistados que se identificaram como pretos relatam já ter sofrido discriminação.
Durante o evento de lançamento da pesquisa, que aconteceu de forma virtual, a diretora de Políticas de Ações Afirmativas, Layla Carvalho, destacou a importância desses dados para a construção e atualização de políticas públicas que promovam maior equidade no acesso a direitos pela população. “Desde o primeiro momento em que se iniciou a parceria, tínhamos o desejo de produzir dados e informações novas que possibilitassem que pessoas, organizações e o governo, no âmbito de seus Três Poderes, tivessem acesso a informações capazes de mobilizar e promover mudanças nas políticas públicas que temos atualmente”, pontuou.
Layla Carvalho afirmou, ainda, que a constatação, por meio de dados concretos, de que o racismo se manifesta no cotidiano da vida das pessoas é fundamental. “Os processos de discriminação e racismo, que estruturam a sociedade brasileira, têm impactos profundos, sobretudo no dia a dia da população negra. Temos uma literatura farta sobre isso, mas é sempre importante que a gente produza novos dados.”
O novo estudo dá sequência à série de pesquisas "Mais Dados Mais Saúde", um programa de inovação no levantamento de dados em saúde, desenvolvidas por Vital Strategies – organização de saúde pública global – e Umane – associação filantrópica independente. A pesquisa também conta com a parceria técnica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e apoio do Instituto Devive, que apoia pesquisas e projetos na área da saúde.
Metodologia – Os questionários foram feitos via internet. A pesquisa ouviu 2.458 pessoas no país entre agosto e setembro de 2024. Para dar precisão aos dados, considerando que a pesquisa é baseada em uma amostra da população, pesos amostrais foram criados a partir dos que foi coletado pelo Censo 2022 e pela Pesquisa Nacional de Saúde 2019.
Para cada uma das situações listadas pelo estudo, os entrevistados poderiam marcar uma das seguintes opções: nunca, raramente, frequentemente, sempre.
|
Sou tratado com menos gentileza que outras pessoas |
|
Sou tratado com menos respeito que outras pessoas |
|
Recebo um atendimento pior que outras pessoas em restaurantes e lojas |
|
Agem como se eu não fosse inteligente |
|
Agem como se tivessem medo de mim |
|
Acham que eu sou desonesto |
|
Agem como se fossem melhores que eu |
|
Sou xingado com palavrões e insultos |
|
Sou ameaçado ou assediado |
|
Sou seguido em lojas |
Ao considerar apenas as respostas "frequentemente" e "sempre", observou-se que as experiências de discriminação foram mais prevalentes na população preta, com destaque para três situações nas quais aproximadamente 50% dos respondentes desse grupo indicaram ter vivenciado. São elas: "recebo um atendimento pior"; "sou tratado com menos gentileza" e "sou tratado com menos respeito".
Mais da metade da população preta (51,2%) relata ser tratada com menos gentileza, enquanto 44,9% dos pardos e 13,9% dos brancos reportam ter vivenciado a mesma situação. O mesmo padrão se repete em outras experiências: 49,5% dos pretos afirmam ser tratados com menos respeito, percepção compartilhada por 32,1% dos pardos e 9,7% dos brancos. A discriminação também impacta o atendimento recebido no dia a dia: 57% dos pretos afirmam ser mais mal atendidos, enquanto isso é relatado por 28,6% dos pardos e 7,7% dos brancos.
Lançamento – Durante o evento desta terça-feira, também foi lançada a nova plataforma "Equidade Racial e Saúde", desenvolvida em parceria entre o Ministério da Igualdade Racial, a Vital Strategies e o Instituto Ibirapitanga.
O site nasce com o propósito de ser um repositório dinâmico de estudos e recomendações de políticas sobre saúde e equidade racial, contribuindo para a disseminação de evidências e o fortalecimento de políticas públicas equitativas.
A diretora Layla Carvalho apontou que a plataforma é importante para atender às necessidades de produção de dados e de acompanhamento das políticas de saúde para a população negra. “Há a necessidade de transparência e de apresentação de dados, sobretudo estratificados por raça-cor.”
Ela destacou ainda a demanda específica por dados abertos sobre ações afirmativas e questões étnico-raciais. “Nesse contexto, ter uma plataforma que reúne diferentes dados já produzidos pelo governo brasileiro, mas organizados para dar mais visibilidade às desigualdades baseadas em raça-cor, atua de maneira positiva e coloca o Ministério da Igualdade Racial na linha de frente do desenvolvimento de espaços, de produção de dados e de reflexão sobre essas desigualdades”, afirmou.