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Catálogo da Farmácia Verde Maria de Xangô tem apoio do MIR
Foto: Iyawo Andreza Valverde
A Comunidade Compreensão e Restauração Ilê Asé Osun Omi Irê lançou, na sexta-feira (9), o Catálogo da Farmácia Verde Maria de Xangô. Em Mapele, no município de Simões Filho (BA), o projeto, que sistematiza práticas terapêuticas tradicionais, foi financiado com recursos do Edital Mãe Gilda de Ogum.
O Ministério da Igualdade Racial (MIR) esteve no lançamento do catálogo, que reúne o uso de plantas rituais e medicinais ao conhecimento tradicional, transmitido oralmente de geração em geração.
"A Farmácia Verde Maria de Xangô é mais do que uma política de saúde: é expressão de uma cosmovisão que integra todas as áreas da vida, que une os saberes em prol do bem-estar geral humano em comunhão com a natureza. É memória, resistência e dignidade", afirmou Sarah Nascimento, coordenadora de Políticas para Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Povos de Terreiro.
"Valorizar o conhecimento das nossas Iyalorixás e Babalorixás é garantir que nossas políticas de cuidado sejam reconhecidas como legítimas e essenciais", acrescentou a coordenadora.
A mesa de abertura do evento contou com a presença de Sarah Nascimento, como representante do Ministério; da sacerdotisa anfitriã, Iyalorixá Lely de Oxum; da coordenadora do projeto, Ekedji Laís Paulo; pesquisadores do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia; e de representantes da Secretaria da Promoção de Igualdade Racial e da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia,.
“Para nós da comunidade, a implementação da Farmácia, a produção do catálogo e o próprio edital são reparações históricas, porque reafirmam os conhecimentos e práticas dos povos de Terreiro como possibilidades de cura e bem viver; representam a esperança de que nossos modos de viver e pensar são possíveis de serem reconhecidos e respeitados”, defendeu Laís Paulo.
Em sua fala, Lely de Oxum relembrou os ensinamentos sobre as ervas e seus usos recebidos por sua avó, Maria de Xangô, com quem aprendeu o herbário tradicional que hoje está sendo implantado no terreiro. “Lembro muito claramente de caminhar com minha vó entre as plantas da sua roça, então este projeto é uma forma de manter o legado dela sempre vivo.” Ela afirmou ainda que, para a comunidade isso representa o reconhecimento e legitimação "dos nossos saberes e das terapêuticas de terreiro em saúde, fortalecendo nossa identidade coletiva e desmistificando o racismo religioso estrutural que inferioriza nosso modo de viver, reduzindo nossos conhecimentos a crendices."
Durante o lançamento, o público pôde conferir exposições sobre a prática da farmácia viva no terreiro e teve também a oportunidade de visitar as instalações do projeto. O evento marcou ainda a apresentação pública de resultados do edital, além de promover um espaço de intercâmbio entre comunidades tradicionais, gestores públicos, movimentos sociais, pesquisadores e interessados na saúde da população negra.
Financiamento – Com aporte financeiro de R$ 1,5 milhão, o edital Mãe Gilda de Ogum – parceria com a Fundação Oswaldo Cruz – concedeu até R$ 50 mil para cada um dos 10 primeiros projetos aprovados em cada linha de atuação: economia de axé, cultura dos povos de terreiros e comunidades de matriz africana e agroecologia.