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Nova espécie de ave, o inhambu Sururina-da-serra, é registrada no Parque Nacional da Serra do Divisor (AC)
A descoberta teve início após o registro de vocalizações incomuns na região. Foto: Luís Morais
Pesquisadores brasileiros anunciaram a descoberta de uma nova espécie de ave no Parque Nacional da Serra do Divisor, no Acre. O Sururina-da-serra, um inhambu cientificamente nomeado Tinamus resonans, foi descrito oficialmente na revista Zootaxa, em 2025, por Luís Morais, Marco Crozariol, Fernando Godoy, Ricardo Plácido e Marcos Raposo. A espécie ocorre exclusivamente nas montanhas da unidade de conservação federal, entre 310 e 435 metros de altitude, e apresenta características de canto, coloração e comportamento que a diferenciam de outros tinamídeos conhecidos, como o inhambu-preto (Tinamus tao).
A descoberta teve início após o registro de vocalizações incomuns na região. O canto, composto por notas longas e com variação de frequência, era ouvido em diferentes pontos da serra, mas a localização dos indivíduos era dificultada pela acústica do terreno. Após diversas expedições, pesquisadores conseguiram observar e registrar os primeiros exemplares em 2024.
Os indivíduos identificados chamaram atenção pelo padrão de coloração e pelo comportamento pouco reservado, aproximando-se de observadores com facilidade.
Para além, as aves registradas apresentavam um padrão de coloração distinto e comportamento pouco comum entre os inhambus: aproximavam-se de observadores sem demonstrar sinais claros de alerta. Esse comportamento foi mencionado em matéria do The New York Times, que comparou a espécie ao dodô — não por relação evolutiva, mas pelo fato de não reagir intensamente à presença humana.
O Sururina-da-serra vive em áreas de solo raso, com muitas raízes expostas e vegetação adaptada às encostas. A estimativa inicial aponta para cerca de 2 mil indivíduos distribuídos em um conjunto de elevações dentro do parque. A distribuição restrita indica a necessidade de ampliar estudos sobre a espécie e seu ambiente.
Avaliação e monitoramento
Por ser uma espécie recém-descrita, o Sururina-da-serra ainda não possui categoria de ameaça definida. Atualmente, estão sendo compiladas as informações científicas disponíveis sobre a espécie, e sua avaliação formal ocorrerá na Oficina de Risco de Extinção das Aves da Amazônia, prevista para este mês. Nessa ocasião, especialistas e pesquisadores aplicarão os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) para determinar a categoria de ameaça da espécie.
As possíveis ameaças ainda estão em análise. Embora o parque apresente baixa pressão de desmatamento e receba ações de fiscalização e monitoramento contínuas, mudanças no clima e eventuais projetos de infraestrutura na região podem afetar a espécie, especialmente por ela estar restrita a uma faixa atitudinal específica.
A expectativa é de que o Sururina-da-serra seja incluído no Programa Monitora do ICMBio, que acompanha a biodiversidade por meio de métodos padronizados e de baixo custo para registrar a presença, abundância e tendências populacionais das espécies, com o apoio de gestores, pesquisadores e comunidades locais. As informações geradas orientarão ações de manejo e conservação a longo prazo, garantindo o monitoramento contínuo da espécie e subsidiando decisões baseadas em evidências científicas.
Importância do Parque Nacional
O Parque Nacional da Serra do Divisor (AC) reúne diferentes tipos de ambiente que não são comuns na Amazônia brasileira, incluindo áreas montanhosas que sustentam espécies dependentes desse tipo de habitat. A unidade possui mais de 800 mil hectares de florestas, rios e formações elevadas que abrigam mais de mil espécies, entre fauna e flora.
A identificação do Sururina-da-serra reforça a relevância científica da região e mostra que ainda há espécies a serem documentadas nas áreas montanas do parque. A descoberta amplia o conhecimento sobre a biodiversidade local e contribui para fortalecer ações de conservação e pesquisa em uma das regiões mais particulares do país.