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Workshop debate impactos da erosão costeira nas tartarugas marinhas e propõe caminhos para proteger praias de desova
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas e da Biodiversidade Marinha do Leste (Centro Tamar/ICMBio) reuniu uma rede de instituições, nos dias 25 e 26 de novembro, no workshop “Erosão Costeira e Impactos às Tartarugas Marinhas e suas Praias de Desova”. O evento reuniu especialistas, gestores públicos, pesquisadores, organizações ambientais e representantes da sociedade civil no auditório do Instituto Baleia Jubarte, na Praia do Forte (BA). Quem não pôde conferir ao vivo, pode assistir a gravação do evento, 1o Dia e 2o Dia, por meio do Canal Youtube do IMCBio.
O workshop foi promovido pelo Centro Tamar/ICMBio e pela Secretaria de Meio Ambiente da Bahia (SEMA), com apoio do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (INEMA), Fundação Projeto Tamar, Instituto Baleia Jubarte (IBJ), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU-BA).O objetivo central foi discutir como a intensificação da erosão costeira (fenômeno natural agravado por ações humanas e pelas mudanças climáticas) ameaça as praias de desova e compromete o ciclo reprodutivo das tartarugas marinhas. A redução da faixa de areia, o avanço das marés, a compactação dos ninhos e a pressão da ocupação costeira foram apontados como fatores críticos que afetam tanto a biodiversidade quanto o modo de vida de comunidades tradicionais, assim como o turismo que é impactado, já que a Bahia representa um dos pólos de maior investimento turístico do Brasil.
Para a gestora da Base Avançada do Centro TAMAR/ICMBio em Salvador-BA, Patricia Dittmar Amerciano, o workshop foi extremamente positivo em virtude de todo o processo de articulação das várias instituições participantes, o que proporcionou uma maior aproximação da Base de Salvador com a SEMA e INEMA, que juntos protagonizaram o evento, definindo desde a programação até a lista de instituições participantes.
“A mobilização dos municípios que visitamos convidando para o evento; a abertura de diálogo com todos eles, assim como com SPU e MP foi algo muito gratificante. Assim como expandir as informações sobre a erosão costeira, que de fato acaba não sendo tão conhecida, e toda a dinâmica da costa e seus processos erosivos. Democratizamos o conhecimento e sensibilizamos a todos para essa questão, e saiu do evento diversas propostas e diretrizes, como a criação de um GT-Grupo de Trabalho para combate aos impactos da erosão costeira”, celebra a gestora Patrícia Dittmar.
Para o diretor de Política e Planejamento Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia (SEMA), Tiago Jordão Porto Santos, o evento superou as expectativas. Tecnicamente gerou muito aprendizado de todos sobre a temática da erosão costeira, sobre os impactos desse processo na diversidade biológica, nas tartarugas, e nos ecossistemas e na biodiversidade como um todo”, reitera Tiago.Para ele houve um acúmulo de compreensão acerca do processo, e como resultado a formação de uma rede de instituições que estão mais atentas à problemática da erosão e seus impactos. “Vamos aprimorar as nossas atuações tanto na SEMA quanto INEMA para incorporar essa perspectiva de se evitar os impactos, seja na fiscalização ambiental, seja no licenciamento ambiental, no monitoramento, na gestão e no planejamento territorial”, afirmou Tiago.
Segundo o diretor de Política e Planejamento Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia (SEMA), não se tem todas as dimensões dos resultados promovidos pelo workshop, e a temática deve reverberar, a partir da capacitação de mais de 10 a 12 servidores que já estiveram acompanhando presencialmente, além dos demais que acompanharam virtualmente pelo Canal Youtube do ICMBio”, frisou Tiago.
“A rede formada interinstitucional deve promover outras oportunidades de qualificação sobre o assunto nos próximos meses. Agradecemos a parceria do ICMBio nessa construção que foi muito harmoniosa, nos sentimos bem nesses dois dias. Esperamos conseguir garantir ainda mais esse meio ambiente ecologicamente equilibrado, que é um direito constitucional a partir do que a gente aprendeu e trocou”, celebra Tiago.
Primeiro dia: diagnóstico e perspectivas científicas
A programação do dia 25 de novembro contou com uma série de palestras. Equipes do Centro Tamar/ICMBio e da Fundação Projeto Tamar apresentaram o panorama dos impactos diretos da erosão sobre os ninhos e fêmeas de tartarugas marinhas durante o processo de desova. Em seguida, o professor José Maria Landim (UFBA) abordou a dinâmica de sedimentos e o cenário da erosão no Brasil, enquanto o analista ambiental Regis Pinto de Lima (ICMBio) tratou das competências e desafios no âmbito do Gerenciamento Costeiro (GERCO) e contextualizou a situação político-administrativa das praias brasileiras. Encerrando o ciclo de palestras, o pesquisador Guilherme Lessa (UFBA) discutiu a variabilidade do clima e o comportamento das ondas nas últimas décadas.
No período da tarde, duas mesas temáticas ampliaram o debate. A primeira reuniu pesquisadores de diferentes regiões do país para discutir caminhos nacionais de enfrentamento à erosão costeira. Segundo o professor Eduardo Bulhões, da Universidade Federal Fluminense (UFF), “quanto maiores as taxas de erosão e alterações de habitats, menores as chances de encontrarmos ninhos de tartaruga”. Ele apresentou números que revelam a gravidade do cenário: o Brasil já perdeu, em média, 24% de sua linha de costa, com recuos mais significativos no Norte (45%) e Nordeste (30%). Bulhões também destacou que soluções baseadas na natureza (quebra-mar com recife de ostras e revegetação de dunas, por exemplo) e modelos híbridos (que mesclam soluções estruturais e soluções baseadas na natureza) são os caminhos mais promissores para mitigar os impactos.
O professor Davis de Paula, da Universidade Estadual do Ceará (UECE), destacou a experiência do Ceará na elaboração de planos de ação para contingência e reforçou a dimensão sociocultural do problema. “A erosão não representa apenas perda de areia e território físico, mas também de saberes tradicionais e de identidade das comunidades costeiras”, afirmou, defendendo maior aproximação entre academia e gestão pública. Já o coordenador de Gerenciamento Costeiro do Ministério do Meio Ambiente, João Nicolodi, ressaltou que, para além das mudanças no nível do mar, a ocupação desordenada e a especulação imobiliária têm importante papel no agravamento da erosão. A importância de uma melhor comunicação com a sociedade também foi ponto de destaque em sua fala: “As pessoas precisam saber que estamos perdendo nossas praias, para poder cobrar soluções”, avaliou o gestor.

- Gestora da Base do Centro TAMAR/ICMBio em Salvador-BA, Patrícia Dittmar Americano conduziu o evento ao longo dos dois dias.
Segundo dia: planejamento e formulação de estratégias
A abertura do dia 26 de novembro ficou a cargo da professora Lirandina Gomes (UNEB), que discutiu os desafios do planejamento territorial, ambiental e urbano no Litoral Norte da Bahia. Em seguida, os participantes se reuniram em uma oficina colaborativa para formular estratégias, recomendações e encaminhamentos voltados à proteção das praias de desova. As propostas envolveram desde ações emergenciais de monitoramento até planos de adaptação baseados em ciência, gestão territorial sustentável e participação comunitária.
Articulação institucional e próximos passos
Para João Carlos Thomé, coordenador do Centro Tamar, o encontro marca um momento decisivo: “O workshop apresentou uma multiplicidade de informações, dados científicos, experiências concretas e caminhos possíveis. Conseguimos reunir representantes dos municípios, dos estados, da academia e da sociedade civil, e isso é muito significativo. Esse evento foi um primeiro passo para que possamos definir diretrizes a seguir daqui para frente”, concluiu o coordenador.
Os debates evidenciaram a urgência de ações integradas para conter o avanço da erosão, preservar habitats essenciais às tartarugas marinhas e garantir que comunidades costeiras mantenham seus modos de vida tradicionais. Ao final, destacou-se a importância de ampliar a comunicação social, fortalecer a gestão costeira e implementar soluções que assegurem a resiliência das praias brasileiras nas próximas décadas.
Comunicação Centro TAMAR/ICMBio
Texto: Nana Brasil
Fotos: Rubem Sousa e Nana Brasil





