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Ouvindo a natureza: estudo capta sons em cavernas para monitorar áreas protegidas
O canto de uma ave, o estridular de insetos, o som dos morcegos e até o barulho das chuvas, cada onda sonora pode trazer importantes informações acerca de uma área protegida e dos impactos antrópicos sofridos por essa região, isso é o que apontam os pesquisadores envolvidos no projeto “Paisagem sonora de cavernas e dos ecossistemas em seu entorno no Parque Nacional da Serra do Cipó”. O trabalho vem sendo desenvolvido na unidade de conservação mineira pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav), em parceria com o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (ICMBio/Cemave), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal de Lavras (UFLA).
Segundo o analista ambiental do ICMBio/Cecav, Maurício de Andrade, no Brasil o estudo da paisagem sonora ainda não havia sido realizado em cavernas, a equipe envolvida no projeto foi precursora e recentemente publicou o resumo expandido “Bioacústica: o que escutamos dentro e fora da caverna?”. O trabalho foi o ponto de partida dessa pesquisa que segue em andamento. Na primeira etapa, foi realizada uma comparação preliminar das paisagens sonoras externa e interna em uma caverna do Parque Nacional da Serra do Cipó, durante um período seco e outro chuvoso. Agora, os pesquisadores seguem monitorando também duas outras cavernas na região.
“O monitoramento da paisagem acústica envolve tanto sons bióticos e abióticos. Durante a pesquisa, gravadores são instalados dentro e fora das cavernas, que gravam constantemente cada som emitido. Na primeira etapa identificamos, por exemplo, que os anuros (sapos, rãs e pererecas) vocalizam mais nas épocas de chuva. As gravações permitem a avaliação da variação sazonal dos sons ao longo do ano, ou seja, as mudanças sonoras de acordo com as estações”, afirmou Maurício de Andrade.
O primeiro resultado publicado sobre sobre bioacústica concluiu que a diferença comportamental observada em alguns grupos provavelmente está relacionada às vantagens ambientais proporcionadas pelo ambiente subterrâneo. Os pesquisadores indicam que essa é uma ferramenta promissora para ser utilizada no aumento do conhecimento sobre a biologia e ecologia das espécies que utilizam o ambiente subterrâneo, além de ser um promissor método complementar no inventário da fauna cavernícola. A ideia é que as próximas etapas ofereçam mais informações para que os pesquisadores aprofundem seus estudos sobre os sons dentro e fora das cavernas.