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Primeira espécie troglóbia descoberta no Rio Grande do Norte acaba de ser descrita, e já pode estar ameaçada de extinção
Brasilana spelaea - Foto: Rodrigo Lopes Ferreira
As cavernas do Rio Grande do Norte e do Ceará resguardam uma espécie emblemática. Brasilana spelaea é uma espécie troglóbia (que só ocorrem em habitats subterrâneos) de Cirolanidae (uma família de isópodes aquáticos) e, embora recém-descrita, já pode estar em risco de extinção devido à indústria de calcário, ao turismo desregulado e à exploração das águas subterrâneas na maioria das áreas onde ocorre. As informações fazem parte do artigo “The first Brazilian troglobitic species of Cirolanidae (Isopoda, Cymothoida) – a potentially threatened species”, publicado na revista científica internacional Zootaxa, especializada em zoologia e taxonomia de animais. A nova espécie é tão diferente das outras já conhecidas nesta família que um novo gênero (Brasilana) precisou ser criado.
“Essa foi a primeira espécie troglóbia descoberta no Rio Grande do Norte, há mais de 20 anos. Trata-se de um relicto oceânico (descende de ancestrais marinhos). Até o momento, no Brasil, só são conhecidos relictos oceânicos nessa região. Além desses isópodes cirolanídeos (ainda há quatro outras espécies, de outro novo gênero, em descrição) há também anfípodes e planárias que descendem de ancestrais marinhos. A raridade da descoberta chamou a atenção de pesquisadores, e pode ser considerada o estopim de quase todas as pesquisas bioespeleológicas que hoje destacam o Rio Grande do Norte entre as principais áreas brasileiras em riqueza de espécies troglóbias”, afirmou o analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav) e um dos autores do artigo científico, Diego Bento.
As influências do paleoclima potiguar na evolução da biodiversidade subterrânea
As mudanças geológicas e paleoclimáticas que aconteceram ao longo de milhões de anos no Rio Grande do Norte foram essenciais para a origem dessa biodiversidade subterrânea única. Segundo pesquisas realizadas na região, quase metade das espécies atualmente conhecidas de troglóbios aquáticos (16 das 40 já descobertas), os chamados estigóbios , são consideradas relictos oceânicos.
Entre os eventos que originaram essas espécies estão transgressões (avanços) e regressões (recuos) oceânicos. Seus ancestrais viviam no mar e, após uma transgressão oceânica, ou seja, quando o nível do oceano subiu, colonizaram espaços subterrâneos. Depois, quando o mar recuou, ficaram presos nesses ambientes e continuaram a viver ali, adaptando-se às condições subterrâneas.
Há outras diversas pesquisas que indicam como grandes transformações climáticas e na paisagem ocorreram ao longo do tempo. Algumas delas estão descritas no livro recém-lançado CaveRNas: o carste potiguar
Descobertas norteiam ações de conservação
Além de reiterar o entendimento de que o Brasil é o país como a maior biodiversidade do mundo, a descoberta de novas espécies subterrâneas também é fundamental para balizar ações de conservação e proteção. Iniciativas como o desenvolvimento do turismo sustentável, que não implique em impactos negativos a ambientes sensíveis, como as cavernas; a definição de áreas prioritárias para conservação; avaliação do risco de extinção de espécies; programas de monitoramento e pesquisa científica, entre outras ações, são essenciais para melhor conhecer e conservar essa biodiversidade única.
