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Expedição percorre Parque Estadual do Itacolomi (MG)
Expedição no Parque Estadual do Itacolomi (MG) - Foto: Lorene Lima
Pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) realizaram, no fim de novembro, uma expedição ao Parque Estadual do Itacolomi (MG) para estudar a rã Bokermannohyla martinsi, espécie encontrada em cavernas da região. O trabalho integra o projeto Ecologia de Vertebrados Cavernícolas. Essa etapa da pesquisa busca entender sobre a alimentação, adaptação e diversidade genética dessa espécie, contribuindo para a conservação da biodiversidade.
Durante três dias, pesquisadores exploraram áreas do Parque Estadual do Itacolomi, em Ouro Preto (MG), que abriga remanescentes da Mata Atlântica e é administrado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). A equipe coletou girinos, algas e microrganismos presentes nas rochas.
“A espécie Bokermannohyla martinsi é um anuro que ocorre tanto dentro de cavernas quanto em riachos. Por isso, temos investigado se ela apresenta boa adaptabilidade nesses ambientes. Para entender sua alimentação, coletamos girinos, mantivemos em solução com álcool e vamos retirar o intestino para verificar se os itens alimentares diferem entre os ambientes de caverna e de riacho. Com essas informações, saberemos se a espécie está aproveitando bem os recursos disponíveis em cada local”, disse o pós-doutorando da UFMG, Ítalo Moreira.
Além da coleta de girinos, foram coletados materiais presentes em rochas e areia suspensa no local. O objetivo é verificar se os anuros estão aproveitando bem os recursos disponíveis no ambiente. “Em relação às rochas, nós coletamos o que chamamos de biofilme, que são várias algas e microrganismos que ficam alocados no substrato. Essa porção de biofilme é raspada pelos girinos com pequenos dentículos. Eles vão raspando esse material e se alimentando dele, então é isso que a gente coleta por meio da escovação das rochas", afirmou Ítalo.
Sobre o projeto
O projeto Ecologia de Vertebrados Cavernícolas é continuidade do projeto Ecologia de Vertebrados Associados a Cavernas do Espinhaço Meridional. Além do Parque Estadual do Itacolomi, foram realizadas coletas no Parques Nacionais da Serra do Gandarela, da Serra do Cipó e das Sempre Vivas, além da Área de Proteção Ambiental Morro da Pedreira e Monumento Natural Estadual da Serra da Piedade.
Em etapas anteriores, o estudo registrou a presença de 18 espécies de anuros nas cavernas pesquisadas. Algumas espécies foram encontradas apenas na fase adulta, como foi o caso dos sapos Rhinella gr. crucifer e R. rubescens, das rãs Physalaemus erythros e Thoropa megatympanum e das pererecas Scinax fuscovarius e S. machadoi. Porém, o que chamou a atenção dos pesquisadores foram as presenças de girinos e adultos em cavernas que apresentavam corpos d’água. Nesse caso, se destacam as espécies Bokermannohyla martinsi, B. alvarengai, B. nanuzae e B. saxicola, todas pertencentes ao mesmo gênero.
“Girinos, fêmeas e machos vocalizando foram encontrados em praticamente todas as estações do ano, sugerindo que poderiam se reproduzir nas cavernas. Tivemos a certeza de que algumas dessas espécies de fato se reproduzem nesses ambientes depois que constatamos que não havia nenhum curso d’água superficial a montante das cavernas pesquisadas. Além disso, não havia nenhuma forma de carreamento de girinos para dentro delas", relatou o analista ambiental do ICMBio/Cecav Maurício Andrade.
A colonização de cavernas por anuros está relacionada à combinação de adaptações morfológicas, fisiológicas e comportamentais. Hábitos noturnos e saxícolas, além da presença de discos digitais e membranas interdigitais, são características adaptativas encontradas em algumas espécies que utilizam cavernas e estão presentes no gênero Bokermannohyla. Esses atributos explicam a adaptação e a forte associação dessas espécies ao ambiente subterrâneo.