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Ecossistema subterrâneo: como as cavernas podem ser impactadas pelas mudanças climáticas
Lapa do São Mateus III - Peter (GO) - Foto: Jocy Cruz
Os eventos extremos relacionados ao clima estão cada vez mais recorrentes em todo o mundo, gerando uma cadeia de consequências negativas para o meio ambiente, para diversos setores da economia e para toda a sociedade. Além de indicar ações que possam mitigar impactos presentes e futuros, a ciência aponta cenários que revelam o que estará por vir, caso não sejam tomadas medidas cada vez mais contundentes. Em relação às cavernas e as espécies existentes nelas, as mudanças climáticas podem ser devastadoras. Entre os possíveis prejuízos estão a extinção de algumas espécies endêmicas.
Segundo o analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav), Diego Bento, a alteração do microclima dentro das cavidades naturais subterrâneas, que acompanha a média da temperatura do lado externo, pode ser prejudicial para diversas espécies, acostumadas com um ambiente extremamente estável. No entanto, Diego ressalta que os impactos indiretos são ainda mais prejudiciais.
“Os impactos ocasionados pelas mudanças do clima estão alterando a vegetação de alguns biomas. Na Amazônia, por exemplo, a floresta pode ser gradualmente substituída por formações vegetais típicas do Cerrado. Já na Caatinga, algumas áreas enfrentam processos de desertificação, resultando na substituição da vegetação por espécies de menor porte. Essas transformações afetam o fluxo de nutrientes que chegam às cavernas. Caso não sejam realizadas ações para mitigar esses impactos, podemos prever a redução de folhas e a escassez de alimento para os morcegos, que resultará na diminuição da produção de guano, que é base da cadeia alimentar para diversas espécies como insetos, fungos e outros animais que vivem no ambiente subterrâneo”, afirmou Diego Bento.
Embora a maioria dos troglóbios seja de pequenos invertebrados, há espécies de peixes e anfíbios, cuja existência depende das cavernas. Diego explica que além dos impactos na vegetação, as mudanças do clima podem levar à diminuição no nível freático que é mantido pelas chuvas. “Cavernas que contam com lagos, podem ficar completamente secas, então se existir um troglóbio aquático nessa região, é provável que ele perca seu hábitat”, afirmou. Além disso o analista ambiental diz que a falta de umidade no interior das cavernas pode prejudicar a manutenção do ecossistema como um todo, afetando o desenvolvimento e a reprodução de espécies, a conservação de matérias orgânicas, além de diversas outras consequências.
Em um momento em que se reflete sobre os novos rumos do planeta, o ICMBio/Cecav, ao lado de instituições e de pesquisadores parceiros, buscam, por meio da ciência, continuar atuando para entender cenários presentes e futuros e, principalmente, para promover ações de conservação e de mitigação de efeitos negativos que possam afetar os ecossistemas cavernícolas e a biodiversidade.