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Clima subterrâneo: o fator invisível que pode regular o turismo em cavernas
Gruta do Janelão - Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (MG) - Foto: Jocy Cruz
Localizado no norte de Minas Gerais, o Vale do Rio Peruaçu é emoldurado por diversas belezas naturais, sítios arqueológicos e pelo imponente Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. A unidade de conservação federal recentemente teve seu imenso valor cultural, histórico, espeleológico e científico reconhecido como Patrimônio Mundial Natural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Diante de todo esse patrimônio ambiental, uma medida importante para continuar conservando a região são os estudos acerca do espeleoclima cárstico, fruto de uma publicação lançada durante o 19º Congresso Internacional de Espeleologia.
O livro “Espeleoclima no Vale Cárstico do Rio Peruaçu”, traz os registros de um monitoramento contínuo, realizado entre os anos de 2018 a 2024, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. A ideia é que informações como o monitoramento da temperatura e umidade relativa do ar possam oferecer subsídios importantes para a gestão de cavernas abertas ao turismo.
Segundo um dos autores do livro e analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav), Mauro Gomes, “no que se refere à conservação do patrimônio espeleológico, o comportamento do microclima é de grande relevância. Muitos processos cavernícolas, tais como a formação de espeleotemas, riqueza e abundância de espécies, além da conservação de registros paleontológicos, arqueológicos e culturais são sensíveis a alterações dos parâmetros climáticos. Sabemos que a presença humana nas cavernas pode alterar o espeleoclima de maneira significativa e esse é um dos principais fatores que motivou o desenvolvimento do projeto de monitoramento”, explicou.
O analista ambiental conta que a análise desses dados, em conjunto com os demais parâmetros utilizados para definição da capacidade de carga de um determinado atrativo, pode ajudar a definir, por exemplo, o número de visitantes que podem acessar o interior da caverna. “A análise do comportamento microclimático pode ainda, contribuir para a definição do tempo máximo de permanência dos visitantes, do tamanho dos grupos, do intervalo de tempo entre um grupo e outro e também onde instalar os pontos de parada para contemplação de atrativos”, afirmou.
A metodologia utilizada
A coleta dos dados de temperatura e umidade relativa do ar foi realizada por termo-higrômetros automatizados. Os equipamentos funcionaram de maneira ininterrupta, durante os sete anos de duração da pesquisa. Cada dispositivo foi configurado para efetuar o registro das informações a cada intervalo de dez minutos.
“Periodicamente os dados eram descarregados, processados e analisados. A escolha dos locais de instalação dos equipamentos foi baseada em um mapeamento prévio e detalhado do comportamento tanto da temperatura quanto da umidade relativa do ar sobreposto ao mapeamento dos diferentes microambientes cavernícolas”, afirmou Mauro Gomes.
Estudo cria oportunidades para a expansão de pesquisas e o avanço de técnicas no Brasil
De acordo com Mauro, os resultados da nova publicação reforçam os estudos realizados em outras regiões climáticas e outros biomas. Além disso, oferece contribuições importantes sobre a metodologia de coleta, tratamento e análise dos dados. “Longe de esgotar o assunto, os resultados obtidos possibilitam vislumbrar novas oportunidades de pesquisa com diferentes formas de abordagem desse tema”, disse o pesquisador.
Além de um intenso levantamento bibliográfico, o contato com especialistas do Brasil e da Eslovênia formaram a base de conhecimento que deu efetividade ao projeto. Além do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, o monitoramento microclimático foi realizado na Lapa de Antônio Pereira, em Ouro Preto (MG) e no Parque Nacional da Furna Feia, localizado entre os municípios de Baraúna e Mossoró, no Rio Grande do Norte.