Notícias
CaveRNas: o carste potiguar - publicações revelam as maravilhas do subterrâneo no Rio Grande do Norte
Caverna da Catedral - Felipe Guerra (RN) - Foto: Daniel Menin
O patrimônio espeleológico do Rio Grande do Norte foi destaque entre os lançamentos do ICMBio/Cecav, durante o 19º Congresso Internacional de Espeleologia. O livro “CaveRNas: o carste potiguar” nasceu da ideia de levar à comunidade o conhecimento sobre a riqueza do universo subterrâneo, muitas vezes restrito às universidades. Assinado por pesquisadores que dedicaram suas trajetórias às paisagens cársticas da caatinga potiguar, a obra reúne capítulos sobre história, geo e biodiversidade, paleontologia, arqueologia, impactos e conservação e apresenta as principais cavernas do estado, que é o quarto com maior número de cavidades naturais subterrâneas no Brasil.
A riqueza de dados é ilustrada por fotografias e vídeos que valorizam ainda mais o patrimônio espeleológico da região. A produção do material audiovisual valorizou pessoas diretamente ligadas às cavernas, e busca fazer jus às belezas subterrâneas, ao mesmo tempo em que promove o sentimento de pertencimento daqueles que viram sua morada se transformar em polo de turismo sustentável e de importantes pesquisas científicas.
O chefe da Base Avançada do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav)no Rio Grande do Norte, Diego Bento, e o Coordenador nacional do Centro, Jocy Cruz, foram os organizadores da publicação que priorizou o rigor técnico-científico, mas que também buscou uma linguagem acessível, acompanhada de um rico material visual. “Foram três anos de um intenso trabalho. Realizamos três expedições para produção das fotos, que foram feitas em estações diferentes para registrar o contraste de cada uma delas. Nessas expedições, a gente teve produção de vídeos que estão publicados no YouTube do ICMBio/Cecav e que estão linkados com QR codes nos capítulos, inclusive vídeos com imagens aéreas. Então, foi um trabalho científico e audiovisual muito intenso”, afirmou Diego Bento.
Para Diego, o livro possibilita que o conhecimento circule entre a sociedade e esse movimento é fundamental para o trabalho de conservação da biodiversidade subterrânea. “Se as pessoas não sabem o que essas cavernas representam, elas não dão valor, e se não dão valor, não pensam em conservar. Essas informações precisam ultrapassar os limites da Academia, das Universidades, e têm de chegar à população, de maneira geral”, afirmou o analista ambiental.
Para o coordenador do ICMBio/Cecav, Jocy Cruz, o interessante do livro é que logo após os primeiros anos de criação da base do centro de pesquisa no Rio Grande do Norte, foi identificado o potencial da região para despertar o interesse de pesquisadores. “O conhecimento gerado por esses estudos é importante para que a gente possa fazer a gestão, e isso foi algo que aconteceu de forma muito crescente nesses últimos dez anos, com a quantidade de pesquisas que tivemos. A publicação desse livro traz uma síntese do avanço do conhecimento no estado e permite que ele subsidie outras pesquisas que venham a ser feitas”, afirmou o coordenador.
Responsável pela maior parte das fotografias que ilustram o livro, o espeleólogo, pesquisador e fotógrafo Daniel Menin conta que existem várias características que diferenciam o carste potiguar em relação a outros estados do Brasil, mas que uma delas é a que mais chama a atenção. “Talvez a mais interessante seja a questão dos lajedos. A maioria das cavernas da região estão localizadas em lajedos e isso diferencia o Rio Grande do Norte em relação a muitas outras áreas cársticas do país. Ali há pouca vegetação, o agreste, a Caatinga, muita rocha e as cavernas com entradas no meio dos lajedos, algumas com entradas verticais, há entradas que necessitam de equipamento, outras não. Isso faz com que seja uma paisagem muito diferente das que encontramos em outros locais”, disse.
O despertar do pertencimento
Aproximar as pessoas dos ambientes naturais é uma estratégia essencial para despertar uma conscientização mais profunda sobre a importância da preservação. Ao estimular o sentimento de pertencimento, essas iniciativas fortalecem a conexão com a natureza e incentivam a adoção de práticas alinhadas à conservação e ao cuidado com o meio ambiente. Com esse propósito, nasceu a ideia de convidar pessoas já envolvidas com as cavernas da região para serem retratadas nesses ambientes naturais.
“Atualmente, sou coordenadora de turismo e eventos e condutora em Felipe Guerra (RN). Minha relação com as cavernas é muito próxima, pois trabalho com elas e vivencio na prática como é vê-las de perto, não só as daqui como as de Baraúna (RN), que foi onde me capacitei para conduzir os visitantes nesses lugares. A experiência de ter participado do livro foi grandiosa porque é algo que eu amo. Desde muito jovem, acompanhava os estudos do ICMBio/Cecav em meu município e amava ver cada detalhezinho. Saber que hoje estamos conhecidos dentro e fora do estado e que muitas pessoas estão vendo e conhecendo um pouco do que é o nosso interior, é gratificante. É um sonho antigo e coletivo se realizando”, comemora Gessy Oliveira.
Geilson, que também é condutor de turismo fala sobre o sentimento de ter feito parte desse projeto: “Para mim, foi e está sendo muito importante, há muito tempo tinha um sonho de ver isso acontecer e hoje podemos comemorar, graças ao trabalho de muitas pessoas que fizeram isso se tornar real”, disse o potiguar.
Cordel CaveRNas
Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, a literatura de cordel é uma expressão da cultura popular, que tem raízes no Norte e Nordeste do país. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), é um gênero poético que resultou da conexão entre as tradições orais e escritas presentes na formação social brasileira e carrega vínculos com as culturas africana, indígena e europeia e árabe.
Trazendo ainda mais representatividade a esse projeto que retrata o carste potiguar, foi lançado junto ao livro o cordel CaveRNas, escrito pelo cordelista Antônio Francisco, o principal poeta potiguar na atualidade, e ilustrado por Rafael Limaverde. Diego Bento afirma que a ideia de retratar o patrimônio espeleológico do Rio Grande do Norte por meio da arte de Antônio Francisco era um desejo antigo: “Eu conheci o trabalho dele em 2006, quando assumi meu cargo como analista ambiental no Ibama em Mossoró/RN. Fiquei encantado com o trabalho, principalmente com o cordel “Os animais têm razão”. A escolha do artista foi natural porque ele é o maior cordelista que temos no Rio Grande do Norte, faz parte da Academia Brasileira de Literatura de Cordel e é um orgulho para todo o estado”, disse Diego.
O livro e o cordel foram distribuídos durante o 19º Congresso Internacional de Espeleologia, e também estão sendo entregues às prefeituras de alguns municípios do estado com muitas cavernas, além de órgãos ambientais e diversas instituições parceiras. A ideia é que eles cheguem às escolas estaduais e municipais e aos mais diversos públicos, despertando o interesse pelo conhecimento e pelas ações de conservação do patrimônio espeleológico potiguar.