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Caranguejos-uçá invadem praias: comportamento raro desafia explicações
A publicação do artigo “Anomalous walking events of the mangrove crab Ucides cordatus on the beaches of the central coast of São Paulo State, Brazil: A 20-year analysis” na revista científica “Regional Studies in Marine Science” discute eventos curiosos e ainda pouco compreendidos chamados de Eventos Anômalos de Andada (EAA).
A pesquisa desenvolvida por pesquisadores do Grupo de Estudos em Biologia de Crustáceos (CRUSTA) da UNESP IB/CLP e da Fundação Florestal de São Paulo, teve a colaboração de um pesquisador do ICMBio/CEPSUL que desde 2008 acompanha o fenômeno no litoral catarinense.O que são as “andadas”?
Durante o período reprodutivo, o caranguejo Ucides cordatus, conhecido popularmente como caranguejo-uçá, realiza um comportamento migratório típico chamado “andada”, no qual os indivíduos deixam suas tocas no manguezal para se reproduzir. Porém, em alguns casos raros, esses caranguejos aparecem em grandes quantidades nas praias, formando verdadeiras “marchas” coletivas.
Os pesquisadores documentaram seis desses eventos em praias da Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Central (SP), entre os anos de 2000 e 2020, com registros em duas praias: Itaguaré (66,6% dos casos) e Guaratuba (33,4%), ambas em Bertioga, litoral de São Paulo. Um dos eventos foi estudado de perto na praia de Guaratuba, em fevereiro de 2018, com foco na densidade populacional e nas características reprodutivas dos caranguejos.
Os dados revelaram que a quantidade de caranguejos no manguezal era significativamente maior do que na praia, e os animais encontrados no manguezal também eram maiores. Apesar de esses eventos ocorrerem geralmente entre dezembro e fevereiro, durante as luas quarto crescente ou minguante, não foi identificada relação com aumento de chuvas, como muitos imaginam.Mesmo sendo raros, os EAAs parecem estar ligados ao processo reprodutivo da espécie. Várias hipóteses foram levantadas para tentar explicar por que esses eventos ocorrem em tão poucas praias, mas a causa exata ainda é um mistério. O estudo chama atenção para a importância de proteger esses ecossistemas e de entender melhor os comportamentos naturais — e às vezes surpreendentes — de suas espécies.

