Histórico da participação brasileira em missões da ONU
O Brasil, como um dos países fundadores da ONU, sempre participou ativamente dos esforços internacionais para promover a paz entre as nações. Antes mesmo de existirem as operações de paz oficiais, em 1948, o país enviou três capitães — um de cada Força Armada — para representar o Brasil no Comitê Especial das Nações Unidas para os Balcãs, onde acompanhavam a situação dos refugiados na fronteira entre Grécia, Albânia, Bulgária e a antiga Iugoslávia. A primeira experiência do Brasil em missões de paz foi com a Força de Emergência das Nações Unidas no Oriente Médio (UNEF I) com o envio de militares integrando o chamado Batalhão Suez, que atuou na região do Canal de Suez por mais de dez anos, de janeiro de 1957 até junho de 1967 com um total de aproximadamente 6.300 homens participaram dessa força.
Após Suez, dentre desse histórico de participação brasileira em prol da paz e segurança internacionais, vale também salientar a participação 179 militares da Força Aérea Brasileira, entre de pilotos e tripulantes, que operaram helicópteros Sikorsky H-19 e aeronaves Douglas C-47 em prol das Operações das Nações Unidas no Congo (ONUC) de 1960 a 1964. Nesse período, mais de 100 missionários foram resgatados por aviadores brasileiros. Dentre esses, o de outro helicóptero, realizado sob fogos em 1964, na região de Katanga, no Sul do Congo. Essa abnegação, coragem e a valorização do trabalho em equipe marcam, até hoje, os ideais dos militares brasileiros em missões de paz da ONU.
Outro marco foi a contribuição nacional com 26 observadores militares, 67 observadores policiais, uma unidade médica e uma companhia de infantaria, composta de 170 militares quando do estabelecimento da Operação das Nações Unidas em Moçambique (ONUMOZ), de janeiro de 1993 a dezembro de 1994, para a implementação do Acordo Geral de Paz assinado, em outubro de 1992. De fevereiro de 1993 a fevereiro de 1994, um general brasileiro exerceu o comando da ONUMOZ.
Em 1996, tropas brasileiras foram enviadas para Angola para apoiar os esforços de paz e reconciliação após uma guerra civil no país do sudoeste da África. O país contribuiu com 4205 militares compondo um Batalhão de Infantaria, uma Companhia de Engenharia, dois postos de saúde avançados; e exercendo cargos de Estado-Maior e de observadores na Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola III (UNAVEM III).
O ápice do emprego de tropas em missões de paz ocorreu quando da participação na Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH). O Brasil constitui-se a espinha dorsal da MINUSTAH, na qual nossas tropas estiveram presentes entre 2004-2017. No total, contando com os que exerceram missões de caráter individual, 36.407 homens e mulheres participaram dessa operação de paz. Essa Força de Paz, ao longo desses treze anos, auxiliou na transição política do país; e nos esforços de reconstrução e estabilidade após o terremoto de janeiro de 2010. Ressalta-se, ainda, que ao longo de todo o período dessa missão, o Brasil exerceu o comando da Força Militar, ininterruptamente, por meio de generais brasileiros.
Outra participação brasileira com tropa em missões de paz que merece destaque foi a presença do Brasil na Força-Tarefa Marítima (FTM) da UNIFIL. Por cerca de uma década, até janeiro de 2021, um Almirante brasileiro exerceu comando da FTM da UNIFIL, única missão de paz da ONU com um componente marítimo; e seis navios da Marinha do Brasil (Fragatas, Corvetas ou Navio Patrulha Oceânico) exerceram a função de nau-capitânia dessa força de novembro de 2011 a dezembro de 2020. No total 4.292 militares integraram essa Força-Tarefa.
Em mais de sete décadas, o País participou de missões de paz e políticas especiais sob a égide das Nações Unidas, tendo já contribuído com cerca de 55 mil militares e policiais brasileiros. Nesse período, cerca de dois milhões de homens e mulheres, civis e militares têm trabalhado apoiando tréguas em zonas conflituosas, prevenindo e combatendo a violência contra populações desassistidas, defendendo os direitos humanos e contribuindo para a reconstrução e para o desenvolvimento de países afetados pela guerra. Nessa longa jornada, mais de 4.200 mantenedores da paz perderam suas vidas na defesa dos ideais da ONU, dos quais 41 eram brasileiros.
ATUAL PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA EM OPERAÇÕES DE PAZ DA ONU
O Brasil, alinhando com o seu histórico nas operações de paz, mantém sua continuada postura de prontidão e de desenvolvimento de capacidades para empregar suas Forças Armadas em missões de paz sob a égide da ONU.
Atualmente, o País participa de onze operações de paz, coordenadas pelo Departamento de Operações de Paz e pelo Departamento de Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz das Nações Unidas. São mais de 80 militares brasileiros atuando em missões, presentes em Abyei, Chipre, Colômbia, Iêmen, Líbano, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Índia e Paquistão, Saara Ocidental, Somália e Sudão do Sul. Destaca-se a participação de mulheres, que têm conquistado diversas referências elogiosas, demonstrando a capacidade e a qualidade da formação de nossos quadros femininos. O Brasil também ocupa posições importantes nessas missões: comandamos a Força Militar na República Democrática do Congo, lideramos o Estado-Maior na Força de Segurança de Abyei, temos uma Subchefe de Polícia Militar na equipe de Observadores Militares na Índia e Paquistão, além de exercer a função de Oficial Sênior de Ligação Militar na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul. Esses relevantes cargos de liderança denotam o preparo e a expertise do militar brasileiro, projetando internacionalmente o País. O Brasil contribui, também, com o trabalho da ONU, por meio da cessão de militares para o exercício de cargos no quartel general daquela organização em Nova Iorque-EUA.
Nesse contexto, o Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) e o Centro de Operações de Paz e Humanitárias de Caráter Naval (COpPazNav) se destacam pelo alto nível de profissionalismo, potencializado pelo reconhecimento de diferentes cursos, certificados pelo Serviço de Treinamento Integrado do Departamento de Operações de Paz da ONU. O importante trabalho realizado permite capacitar, com excelência, civis, militares e policiais brasileiros. O País tem, também, contribuído para o preparo de militares de outros países em capacitações nos nossos Centros de Instrução de Operações de Paz, alguns desses mediante bolsas de estudo, e pelo envio de equipes móveis de treinamento ao exterior. Acrescenta-se, ainda, a nossa participação em diferentes fóruns destinados à troca de experiências e à ampliação da interoperabilidade nas operações de paz.
O Estado brasileiro mantém disponível no Sistema de Prontidão de Capacidades de Manutenção da Paz das Nações Unidas, pessoal e meios aptos a integrarem Forças de Paz em elevado nível de aprestamento. Ressalta-se que, no corrente ano, a ONU certificou em 2025 um Batalhão de Infantaria Mecanizado, uma Companhia de Reação Rápida e uma Companhia de Engenharia do Exército Brasileiro, juntando-se à Companhia de Reação Rápida de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil certificada em 2022, todas prontas a atender ao chamado da ONU, para apoio a crises em nações coirmãs.
Assim, tais ações reiteram o compromisso do Brasil com a paz e segurança internacionais, consubstanciado pelo trabalho de seus Mantenedores da Paz das Nações Unidas, até mesmo com o sacrifício da própria vida.
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