Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU)
É uma doença grave, caracterizada pelo conjunto de sinais e sintomas que são manifestados por anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia e lesão renal aguda, chamada de tríade, podendo acontecer ou não após episódios de diarreia com sangue.
Importante: Em geral, todas as pessoas estão vulneráveis a adquirirem infecção por microrganismos que causam a Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU), porém sua ocorrência é mais frequente em menores de 5 anos e em pessoas idosas.
A Síndrome Hemolítico-Urêmica pode ocorrer como agravamento de uma infecção adquirida após o consumo de água e/ou alimentos contaminados ou pelo contato direto com fezes de humanos ou animais infectados. A doença também pode ocorrer em decorrência de fatores não infecciosos ̶ causas atípicas (uso de medicamentos, herança genética, transplantes, gravidez), secundárias a doenças coexistentes (sepse, hipertensão maligna e tumores) ou causa idiopática.
Causas
A Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) pode ter origem infecciosa e não infecciosa. A que tem maior relevância epidemiológica é a infecciosa, causada pelas bactérias Escherichia coli produtoras da toxina Shiga (STEC).
Estas bactérias podem causar desde diarreia leve até casos graves de colite hemorrágica (infecção intestinal sanguinolenta), que podem evoluir para complicações extra intestinais graves como a SHU.
Embora a E. coli O157:H7 seja o sorotipo mais reconhecido, outros sorotipos são responsáveis por um número considerável de casos, como por exemplo: O26, O45, O111, O121, O103, e O145 (que causam aproximadamente 71% dos surtos não causados pela O157:H7). Outros microrganismos tais como Shigella dysenteriae , Campylobacter, Aeromonas, Enterovirus etc. também podem estar associados com essa síndrome.
As STEC são bactérias emergentes que podem ser encontradas em várias espécies de animais domésticos e selvagens, entretanto, o principal reservatório natural da bactéria E. coli O157:H7 é o trato gastrointestinal do gado (bovino, bufalino e ovino) saudável.
A bactéria pode ser eliminada pelas fezes que, por sua vez, tende a contaminar águas de superfícies ou subterrâneas, bem como culturas de hortifrutigranjeiros, solo e produtos de origem animal como queijos e leite cru.
Os alimentos mais associados à transmissão de STEC são a carne crua ou malcozida, sucos, leite e seus derivados que não passaram pelo processo de pasteurização ou fervura; hortaliças, legumes, verduras e frutas contaminados por esterco não tratado de animais, geralmente relacionado aos processos de adubação orgânica e água para consumo humano não tratada devidamente com cloro.
Sintomas
O período de incubação varia entre 3 (três) a 8 (oito) dias, com duração média de quatro dias. O início da doença é caracterizado por intensas cólicas abdominais, diarreia abundante e febre de curta duração, podendo ocorrer vômitos. Após dois dias, as fezes apresentam-se sanguinolentas na maioria dos casos, com presença de coágulos e intensificação de dor abdominal. Cerca de 10 a 15% dos pacientes com colite hemorrágica evoluem para SHU.
Diagnóstico
A Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) geralmente é diagnosticada a partir da avaliação do quadro clínico e dos exames hematológicos, de função renal e de pesquisa de bactérias nas fezes, por meio de coprocultura (que deve ser feita preferencialmente no início da manifestação da doença ̶ primeira semana).
O diagnóstico precoce da doença e os avanços no tratamento da insuficiência renal aguda e da anemia contribuem para a diminuição da mortalidade durante o período agudo.
Tratamento
O tratamento da Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) consiste em um conjunto de medidas de suporte, geralmente em unidade de terapia intensiva (UTI) e cuidados especializados para o alívio dos sintomas e da progressão da gravidade da doença.
Medidas de suporte
- Transfusão sanguínea;
- Transfusão de concentrado de plaquetas;
- Diálise;
- Controle da pressão arterial;
- Suporte nutricional adequado.
Terapêutica dirigida
- Plasmaferese;
- Eculizumab, um anticorpo monoclonal anti-C5;
- Transplantação renal e ou hepática.
Situação epidemiológica
A incidência global anual é de 2,1 casos/100.000 habitantes, com maior incidência em crianças menores de 5 anos, sendo 6,1/100.000 habitantes. É conhecida como responsável por cerca de 50% das lesões renais agudas em idade pediátrica. A menor incidência é observada entre os adultos de 50 a 59 anos (0,5 casos/100.000 habitantes). Diversos surtos relacionados à SHU aconteceram em diferentes países no período de 1982 a 2011 causados pela bactéria E. coli O157:H7. Essa síndrome é endêmica na Argentina, apresentando uma ocorrência de 12,2/100.000 habitantes (casos em menores de 5 anos de idade).
No Brasil, entre 2009 a 2018 (dados sujeitos a atualização) foram notificados, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), 112 casos de SHU e, destes, 59 casos (52%) foram confirmados.