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SAÚDE COM CIÊNCIA
Não existe relação entre “síndrome pós-spike” e surtos psicóticos
Foto: Intenet
Você já deve ter visto em alguma postagem nas redes sociais ou ouvido alguém comentar sobre uma suposta “síndrome pós-spike”. O termo é usado por grupos antivacina e quer impor a ideia de que a vacina está ligada, entre outras coisas, a surtos psicóticos. A teoria ganhou espaço em vídeos e posts, mas essa afirmação vai contra a ciência, visto que não há qualquer evidência científica que comprove essa relação.
A chamada “síndrome pós-spike” não é reconhecida pela comunidade científica, não aparece em diretrizes clínicas e tampouco é citada por entidades como Organização Mundial da Saúde (OMS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou Ministério da Saúde (MS). Essa desinformação passou a ser disseminada por determinados profissionais que, desde a pandemia de covid-19, têm questionado a eficácia e segurança das vacinas.
Frequentemente, tais narrativas associam essa “síndrome” à ocorrência de surtos psicóticos e à suposta possibilidade de cura por eles, tudo sem respaldo científico.
Ao contrário do que afirma a Fake News, pesquisadores de diversos países observaram que, na verdade, algumas pessoas, sem histórico psiquiátrico, desenvolveram sintomas psicóticos semanas após a infecção pelo coronavírus, e não após a vacinação.
O que dizem as postagens
As publicações que defendem a teoria alegam que a proteína Spike — presente no vírus e temporariamente produzida pelo corpo após vacinas de mRNA — permaneceria “alojada” no intestino, modificaria o comportamento e estaria associada à ocorrência de surtos psicóticos. Além disso, há supostos relatos de reversão do quadro de uma adolescente, tratando apenas a microbiota intestinal.
Essas postagens configuram um risco à saúde pública, pois, além de disseminarem desinformação sobre as vacinas, incentivam a adoção de tratamentos sem comprovação científica para quadros graves de saúde mental. Vamos aos fatos.
Síndrome pós-spike não existe
Essa expressão vem sendo utilizada de forma incorreta, afastando-se do que é respaldado pelo conhecimento científico. O próprio estudo que deu origem ao termo, assinado por três médicos brasileiros, foi retirado de publicação pela revista científica após críticas e falhas graves.
Além disso, vale lembrar que:
- A proteína Spike não permanece no corpo. O RNAm das vacinas se degrada em poucas semanas, não permanecendo fica circulante nem ativo no organismo após este período;
- Não existe “intoxicação por Spike” causada por vacinas. Os imunizantes são rigorosamente desenvolvidos para gerar proteção, e não há evidências de que provoquem qualquer tipo de intoxicação;
- Não há estudos robustos, ensaios clínicos ou revisões sistemáticas que relacionem vacinas da covid-19 a surtos psicóticos.
Vacinas são seguras e não causam psicose
As vacinas contra a covid-19 passaram por testes rigorosos e têm aprovação da Anvisa, OMS e FDA (agência americana de saúde). Eventos adversos sérios são extremamente raros e monitorados continuamente. Entre os efeitos mais comuns pós-vacinação estão dor no braço, febre baixa, cansaço ou dor de cabeça — todos temporários e de intensidade leve a moderada. Quadros psiquiátricos não fazem parte dos efeitos adversos das vacinas.
E os surtos psicóticos relatados durante a pandemia?
Eles existem — mas por outro motivo. Pesquisadores de diferentes partes do mundo identificaram que certos pacientes, mesmo sem qualquer antecedente de transtornos mentais, apresentaram episódios psicóticos algumas semanas depois de terem contraído o coronavírus — e não após terem sido vacinados.
Estudos mostram que:
- A covid-19 pode afetar o sistema nervoso central;
- Inflamações provocadas pela doença podem desencadear alterações neurológicas;
- Delírio, confusão mental, ansiedade, depressão e até psicose foram registrados principalmente em casos moderados e graves da infecção pelo coronavírus.
Ou seja: surtos psicóticos são associados à doença covid-19, não à vacina. O próprio Instituto Butantan já desmentiu boatos que buscavam relacionar esse tipo de quadro a CoronaVac — vacina utilizada no início da pandemia que, assim como a vacina da Pfizer, induzem resposta imunológica contra a proteína Spike, ainda que por meio de plataforma tecnológica distinta.
Por que a desinformação preocupa?
Mensagens falsas que tentam ligar vacinas a problemas psiquiátricos apenas alimentam o medo e prejudicam a confiança da população nos imunizantes. O que coloca verdadeiramente pessoas em risco de vida.
A covid-19 é uma doença que ainda pode ter quadros graves e a vacina é a melhor forma de se proteger de complicações sérias. Desconfie de vídeos sensacionalistas, perfis antivacina e diagnósticos que não aparecem em nenhuma literatura médica confiável. Informação de qualidade salva vidas — e começa com a ciência. Procure informações sempre em sites de órgãos oficiais como o Ministério da Saúde.
Fontes
As referências usadas nesta matéria são:
Vacinas da Covid-19 são seguras e não provocam síndrome pós-vacinação
Vacinas contra a covid-19 não causam disfunção cognitiva
Psicose pós-covid: o que se sabe sobre o problema
Instituto Butantan - Tira-dúvida
Fake News Não Pod #88: Não existe a síndrome pós-spike causada pela vacina da covid-19
Covid-19: Ministério da Saúde garante que os efeitos adversos da vacina são leves