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SAÚDE COM CIÊNCIA
Estudo da USP não confirmou que máscaras foram inúteis durante a pandemia
Foto: Internet
O resultado de uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo (USP) foi distorcido por grupos digitais que afirmam que o uso de máscaras durante a pandemia foi ineficaz e contribuiu para o excesso de mortes por covid-19 em vários países. A narrativa é enganosa. A informação distorce a conclusão da pesquisa para gerar desconfiança nas pessoas sobre a estratégia de prevenção adotada mundo a fora.
Vamos aos fatos
O artigo em questão foi publicado no periódico BMC Public Health no dia 2 de março de 2025. Três semanas depois, no dia 25 do mesmo mês, uma nota do editor foi adicionada à publicação para alertar aos leitores que “a confiabilidade dos dados relatados está sob disputa”.
No artigo publicado, os próprios autores reconhecem que o método científico utilizado não é capaz de estabelecer relação de causalidade entre o uso do equipamento de proteção e a mortalidade pela doença. Essa limitação é típica de estudos observacionais e ecológicos, que não permitem estabelecer relações de causa e efeito, e cujos resultados devem ser interpretados com cautela para evitar conclusões equivocadas.
Questionamentos
Entre os problemas apontados para questionar o estudo, estão os seguintes: a eficácia das máscaras varia de acordo com o material do equipamento de proteção e em quais condições foram usadas; bem como por quanto tempo foram usadas ou em qual tipo de exposição.
Outro ponto levantado é que o dado sobre máscaras utilizado na pesquisa se refere ao uso autodeclarado, ou seja, a correlação detectada foi entre número de pessoas que dizem usar máscara e excesso de mortes, não entre uso efetivo de máscaras e excesso de mortes. Isso significa que não se pode afirmar que as máscaras tenham causado impacto negativo, uma vez que não se avaliou se o equipamento foi utilizado corretamente, por quanto tempo, nem em quais situações.
Por fim, o artigo coloca países como se fossem um conjunto homogêneo, o que não é. Cada país teve estratégia distinta durante a pandemia que certamente contribuiu para o número de mortes ou para a preservação de vidas. Ignorar esses fatores pode comprometer a análise e gerar interpretações imprecisas.
O que diz a OMS
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), fatores socioeconômicos de cada país, como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Produto Interno Bruto (PIB) per capita e percentual de pessoas vacinadas, estão muito mais associados ao excesso de mortalidade do que ao uso de máscaras.
Durante a pandemia, a OMS emitiu, com base em pesquisas e números de casos de covid-19, diretrizes sobre a utilização de máscaras em público para apoiar os países que decidiram implementar o uso desse equipamento de forma mais generalizada.
As orientações publicadas em 6 de abril de 2020, por exemplo, reforçaram que o uso destes equipamentos era uma das medidas de prevenção que poderia limitar a propagação de certas doenças virais respiratórias, incluindo a covid-19.
As orientações destacaram, no entanto, que o uso da máscara por si só era insuficiente para oferecer um nível adequado de proteção, e que para isso também deveriam ser adotadas outras medidas.
Na época, o documento ressaltou que independentemente de serem usadas máscaras, era essencial observar ao máximo outras medidas como a higiene das mãos.
Eficácia comprovada
Existem outros estudos que apontam a eficácia do equipamento de proteção. Um artigo de autoria de pesquisadores da própria USP, publicado na revista Aerosol Science & Technology, em 2021, por exemplo, comprovou que as máscaras faciais reduzem a disseminação do vírus.
Já o estudo divulgado em dezembro de 2021 pelo Instituto Max Planck, na Alemanha, confirmou o eficiente papel exercido pelas máscaras como escudos antivírus. O artigo foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), em janeiro de 2022.
Por fim, levantamento assinado por pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade de São Paulo (USP), intitulado “Mortes Evitáveis por Covid-19 no Brasil”, estima que pelo menos 200 mil vítimas de covid-19 poderiam ter sido salvas.
O trabalho aponta que o excesso de mortes registradas no Brasil em 2020 e 2021 é reflexo da falta de medidas como o lockdown, controle de fronteiras, de testagem em massa, de campanhas de comunicação e de incentivo ao uso de máscaras. Esses dados reforçam a importância das máscaras como parte de um conjunto de estratégias de saúde pública.
Butantan
Para o Instituto Butantan, a utilização da máscara está diretamente relacionada ao combate à covid-19, pois ela ajuda a bloquear as gotículas que carregam o vírus e que saem da boca e do nariz das pessoas infectadas quando elas tossem, espirram ou falam. Além disso, o uso adequado da máscara, principalmente por pessoas infectadas, ajuda a proteger os outros e é uma ação de responsabilidade coletiva.
Vacina sempre
É importante lembrar que a principal medida de prevenção contra a covid-19 é a vacina. Mas outras medidas contribuíram significativamente para manter a saúde das pessoas durante a pandemia: distanciamento social, uso do álcool em gel para a higienização das mãos e uso da máscara. Essas ações são complementares e devem ser mantidas sempre que houver risco de transmissão.
Ciência
A partir dos dados, percebe-se que não existe razão científica para considerar que o uso de máscaras durante a pandemia de covid-19 tenha agravado casos da doença ou contribuído para um aumento no número de mortes. Pelo contrário, há forte consenso na comunidade científica sobre sua eficácia, especialmente quando utilizadas corretamente e combinadas a outras medidas preventivas.
Antes de repassar qualquer conteúdo sobre saúde, certifique-se da veracidade do que é falado e como isso pode prejudicar as pessoas que vão receber a mensagem.
Fontes
As referências usadas nesta matéria são as seguintes:
“O uso de máscaras está relacionado ao excesso de mortalidade? Resultados de 24 países europeus” - Artigo publicado no periódico BMC Public Health
Distanciamento, máscaras e testes poderiam ter evitado mas de 200 mil mortes no Brasil
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