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Ebo, o labrador que abre os caminhos e enxerga o que a deficiência visual impede o atleta Jefferson Gonçalves de ver
Foto: Samy Sousa/MEsp
Os cães-guias são considerados uma ferramenta de proteção e confiança para a locomoção de pessoas cegas. Além de muito eficientes, proporcionam companhia, reforçam laços de amizade, troca de muito carinho e cumplicidade, melhorando a qualidade de vida de quem convive com eles.
Muitas pessoas têm animais de estimação em casa, seja pela companhia, seja para auxiliar na saúde mental ou, simplesmente, para tornar o ambiente mais feliz e divertido. Mas para as pessoas com deficiência visual, os cães-guias são bem mais do que tudo isso. Eles são a extensão dos olhos de quem não enxerga bem. Cuidam, alertam e trazem mais proteção, segurança e autonomia a pessoas cegas ou com baixa visão.
Por isso, existe até uma data especial para celebrar o Dia Mundial do Cão-Guia que é comemorado sempre na última quarta-feira do mês de abril. É uma data que serve para conscientizar a sociedade sobre o importante trabalho que essa “tecnologia assistiva”, como são definidos os cães-guias, proporcionam às pessoas com deficiência visual. Além de melhorar e tornar mais segura a mobilidade do deficiente visual o cão-guia traz mais qualidade de vida para essas pessoas.
Segundo dados da União Nacional de Usuários de Cães-Guias – UNUCG, hoje, no Brasil, existem 159 cães-guias em atividade, sendo 58,5% machos com idade média de 4 anos. As raças mais adequadas para essa função são os labradores, golden retrievers e os mestiços dessas duas raças. As regiões do Brasil em que eles estão mais presentes são Sudeste e Sul.
Para se ter um cão-guia é preciso vencer um processo com várias etapas: primeiro, o cachorro é treinado. Depois, há um período de 15 dias de convívio entre o cão e quem vai formar dupla com ele. É o chamado período de adaptação. O candidato a adotante também passa por um treinamento para lidar com o cão-guia e somente depois disso o animal pode ir para a casa.
Jefferson Gonçalves, é jogador de goalball e beneficiário do programa Bolsa Atleta, na categoria Nacional. Baiano, ele, que hoje vive em Brasília, nasceu com uma doença grave e progressiva, que comprometeu a visão. Tem apenas 5% da visão no olho esquerdo. Isso não o impediu de praticar esporte. A paixão pelo goalball vem desde os 17 anos. E já participou de diversas competições, incluindo o Campeonato Brasileiro.
“O goalball é mais que uma paixão esportiva, é mais que trabalho, é um amor. Me trouxe maturidade emocional, na vida pessoal, me tornou o homem que eu sou hoje e me ensinou a ser um bom ser humano, um bom esposo, um bom filho e um bom atleta”, relata ele.
Segundo ele, o auxílio que vem do Bolsa Atleta é essencial. “Me ajuda muito, porque é onde a gente consegue manter os gastos e investir em suplementações, academia, material esportivo... E assim eu consigo continuar no esporte”, diz ele.
Só este ano ele descobriu a possibilidade de ter um cão-guia. E a vida deu uma virada. “Eu tenho um amigo que tem um cão-guia e perguntei como era, porque eu nunca tinha visto isso. E fiquei encantado. Um amigo do meu pai me orientou. Fiz a inscrição no edital, passei em todas as etapas, e fui contemplado. Foram três meses até que o Ebo chegasse à minha vida”. Ebo é um labrador preto de quatro anos.
“A nossa adaptação foi muito fácil, só estamos juntos há seis meses, mas já somos muito companheiros. É como um pai falar de um filho. Dou bom dia e boa noite para ele todos os dias. Parece que a gente já se conhece há anos”. Segundo Jefferson, por ser um cão-guia, ele consegue desconto na compra de ração. Ele destaca os benefícios que Ebo trouxe para sua vida. “A gente anda junto o tempo todo. Ele vai treinar comigo, vamos à academia, me auxilia a entrar em estabelecimentos, a não cair em obstáculos, a parar na faixa de pedestres, estar na parada de ônibus. Ele me dá uma segurança e uma estabilidade”, disse Jefferson.
Mesmo com direito garantido por lei, pessoas cegas ainda possuem dificuldades de exercerem seu direito de ingressar com seus animais em locais públicos e privados. O atleta confessa que algumas vezes os ônibus fecham a porta muito rápido, que tem dificuldade em andar em carros de aplicativo, pois muitas vezes cancelam a viagem ou simplesmente não param. Ele dá um recado também para conscientizar as pessoas que o cão-guia é essencial para a mobilidade da pessoa com deficiência visual, e que certos comportamentos não podem ocorrer quando o cachorro estiver trabalhando.
“Quando ele está com o arreio (equipamento usado para dar o comando ao animal), ele já entende que está trabalhando. Mas muitas pessoas não entendem isso e ficam mexendo com ele, querem passar a mão, brincar... Nesse momento não pode. Quando isso acontece tira a atenção e ele pode deixar de me guiar, deixar de desviar de obstáculos, o que pode provocar um acidente”, relata Jefferson.
O atleta ainda ressalta que a sociedade tem que mudar certos comportamentos e linguagens ao tratar uma pessoa com deficiência. “Somos todos seres humanos, não tem diferença. Andando na rua muitas vezes as pessoas se referem a mim como aquele cego que está com o cachorro, sendo que você pode se referir a mim com um cara moreno, de óculos que passou com um cachorro preto. Não precisa exatamente se referir à deficiência, é uma questão de conscientização com as pessoas, e isso pode partir de órgãos governamentais também, para gente ter esse apoio.”
Assessoria de Comunicação – Ministério do Esporte