Críticas pluriepistêmicas
Imagens originárias
Kaxowarii Tapirapé
A arte indígena é um território de encantamento e, também, de luta.
Somos Natureza!
Ela fala com a terra, com o vento, com os rios e com os ancestrais.
É uma linguagem que não se limita às palavras, mas que pulsa na forma das cores, dos traços e dos movimentos que recriam o mundo.
Desde o início, a Revista PIHHY, em sua seção “Já me transformei em imagem”, tem reconhecido esse poder: o poder das imagens indígenas de mobilizar afetos, denunciar injustiças e criar pontes de comunicação entre mundos.
Nesta edição, dedicada a uma crítica profunda à crise ambiental global e a um apelo pós COP30, que foi realizada em Belém do Pará, em 2025, a revista convoca o mundo a ouvir as vozes e os conhecimentos indígenas — não como ornamento, mas como fundamento de outro modo de existir sobre a Terra.
A COP30, Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climática, deveria colocar no centro do debate as epistemologias dos povos originários, que há milênios vivem o que o mundo agora chama de sustentabilidade.
Artivismo
É nesse horizonte que o artista e professor Tapirapé Apyawa, Kaxowarii Tapirapé, apresenta suas obras nesta edição.
Filho do povo Tapirapé, habitante tradicional do norte de Mato Grosso, nas proximidades do rio Tapirapé, Kaxowarii cria imagens que expressam o modo de ver e sentir do seu povo, em diálogo com os desafios contemporâneos.
Em seus traços, a arte torna-se um território de encontro entre cosmos, natureza e humanidade.
Em uma das obras, intitulada “Somos Todos Natureza”, Kaxowarii mostra a conexão entre seres, espécies e lugares — uma rede viva onde o equilíbrio se mantém pela reciprocidade.
Tudo está interligado: o corpo humano, a folha, o peixe, a estrela. O artista nos lembra que a vida é relação, e que o bem-estar da terra é o mesmo que o nosso.
Em contraste, outras imagens revelam o modelo capitalista predatório, que transforma a natureza em objeto, mercadoria, recurso.
Desequilíbrio
Ali, o desequilíbrio aparece como ferida aberta: rios contaminados, animais extintos, florestas queimadas — e uma humanidade que perde sua alma ao perder seu vínculo com o sagrado.
Kaxowarii Tapirapé, como muitos artistas indígenas contemporâneos, não pinta apenas para mostrar, mas para curar.
Cura
Suas imagens são rezas visuais, são memórias gráficas que convidam à escuta da Terra.
Elas dizem, com a força da ancestralidade, que não há futuro possível sem respeito aos conhecimentos indígenas, e que a arte pode ser o caminho mais sensível e profundo para reacender o diálogo entre os mundos.
Assim, esta seção reafirma que as imagens indígenas são pensamento vivo — uma filosofia que se expressa em linhas, cores e gestos, e que pode transformar a maneira como o planeta entende a própria vida.
Que o mundo, ao ouvir as vozes dos povos, reconheça que as respostas à crise ambiental já habitam as florestas, os territórios e as cosmologias indígenas.
E que a arte, como faz Kaxowarii Tapirapé, continue a ser o elo entre mundos, uma ponte feita de beleza, memória e esperança.