O botulismo é uma doença neuroparalítica grave, rara, não contagiosa, causada pela ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum (C botulinum). O agente etiológico entra no organismo por meio de ferimentos ou pela ingestão de alimentos contaminados que não têm produção e/ou conservação adequada. Sua notificação é compulsória e imediata (em até 24 horas) para que as ações de vigilância sejam realizadas em tempo de prevenir outros casos. A doença pode levar à morte por paralisia da musculatura respiratória.
Importante: Todas as formas de botulismo podem matar, se não tratadas adequadamente, e são consideradas emergências médica e de saúde pública. Por isso, a presença de qualquer sintoma é essencial procurar ajuda médica imediata. No Brasil, a maioria dos casos notificados está diretamente relacionado à contaminação alimentar.
Transmissão
A bactéria causadora do botulismo produz uma toxina que, mesmo se ingerida em pouquíssima quantidade, pode causar envenenamento grave em questão de horas. Além disso, os esporos desta bactéria são amplamente distribuídos na natureza, como em solos e sedimentos de lagos e mares, podendo sobreviver até em ambientes com pouco oxigênio, como em alimentos em conserva ou enlatados.
Também estão presentes na água não tratada e em produtos agrícolas, como legumes, vegetal e mel, e em intestinos de mamíferos, peixes e vísceras de crustáceos
Principais formas de transmissão
Botulismo alimentar
Ocorre por ingestão de toxinas presentes em alimentos contaminados e que foram produzidos ou conservados de maneira inadequada. Os alimentos mais comumente envolvidos são: conservas vegetais, principalmente as artesanais (palmito, picles, pequi); produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto, carne frita conservada em gordura – “carne de lata”); pescados defumados, salgados e fermentados; queijos e pasta de queijos e, raramente, em alimentos enlatados industrializados. O período de incubação (entre o consumo e o início dos sinais e sintomas) pode variar de 2 horas a 10 dias, com média de 12 a 36 horas. Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingerido, menor o período de incubação.
Botulismo infantil
Este tipo de botulismo é uma forma de ocorrência intestinal mais frequente em crianças com idade entre 3 e 26 semanas, tendo uma das principais causas o consumo de mel de abelha nas primeiras semanas de vida.
Os casos de botulismo infantil têm sido notificados na Ásia, Austrália, Europa, América do Norte e América do Sul. A incidência e a distribuição real não são precisas porque os profissionais de saúde, em poucas ocasiões, suspeitam de botulismo.
Esta doença pode ser responsável por 5% dos casos de morte súbita em lactentes.
Botulismo intestinal
Neste tipo de botulismo, os esporos contidos em alimentos contaminados, tornam-se viáveis, se fixam e multiplicam no intestino, onde ocorre a produção e absorção de toxina.
Em adultos são descritos alguns fatores de risco, como cirurgias intestinais, Doença de Crohn e/ou uso de antibióticos por tempo prolongado, que levaria à alteração da microbiota intestinal.
Não se sabe o período de incubação deste tipo da doença porque é impossível saber o momento da ingestão dos esporos.
Botulismo por ferimentos
Uma das formas mais raras, o botulismo por ferimentos é causado pela contaminação de ferimentos com C. botulinum.
As principais portas de entrada para os esporos são úlceras crônicas com tecido necrótico, fissuras, esmagamento de membros, ferimentos em áreas profundas mal vascularizadas ou, ainda, aqueles produzidos por agulhas em usuários de drogas injetáveis e lesões nasais ou sinusais, em usuários de drogas inalatórias.
O período de incubação pode variar de 4 a 21 dias, com média de 7 dias.
Importante: Embora raros, há descrição de casos de botulismo acidental associados ao uso terapêutico ou estético da toxina botulínica e à manipulação de material contaminado em laboratório (transmissão pela via inalatória ou contato com a conjuntiva).
Complicações
A toxina botulínica afeta o controle motor e, por essa razão, pode levar a diversas complicações. Ela pode levar à insuficiência respiratória, que, no geral, é a forma mais comum de morte causada por botulismo. Outras complicações podem incluir:
Importante: O tratamento imediato do botulismo reduz significativamente o risco de morte do paciente, mas é preciso acompanhamento médico, e frequentemente hospitalar. Além disso, o processo de recuperação é lento e depende de como o organismo reage ao tratamento. Se identificado e tratado adequadamente, a doença tem cura e não deixa sequelas.
Diagnóstico
O processo de diagnóstico do botulismo geralmente começa com um exame físico feito pelo próprio médico no consultório. Nesta consulta, o profissional poderá pedir outros exames neurológicos, de imagem e laboratoriais para completar a investigação e confirmar o diagnóstico.
São observados os seguintes sintomas:
Podem ser realizados, também, exames de sangue para identificar a toxina no organismo e exame de fezes, além de exames laboratoriais no alimento suspeito de conter a bactéria transmissora de botulismo.
Tratamento
O Soro Antibotulínico é fornecido exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mediante a notificação do caso suspeito em ficha específica.
Antes de iniciar o tratamento específico (com SAB), todas as amostras clínicas para exames diagnósticos devem ser coletadas.
Prevenção
A melhor prevenção está nos cuidados com o preparo, consumo, distribuição e comercialização de alimentos, além, é claro, da higiene dos alimentos e das mãos. Toda atenção é pouca, por isso adote algumas medidas para evitar a contaminação pela bactéria causadora do botulismo.
- Não consumir alimentos em conserva que estiverem em latas estufadas, vidros embaçados, embalagens danificadas, vencidas ou com alterações no cheiro e no aspecto.
- Lave sempre as mãos.
- O preparo de conservas caseiras deve obedecer rigorosamente aos cuidados de higiene e armazenamento.
- Certifique-se que essas medidas foram adotadas pelo estabelecimento/vendedor que preparou o alimento.
- O mel é um dos alimentos mais perigosos, especialmente, para crianças menores de 2 anos, pois há risco de conter esporos da bactéria do botulismo conforme Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos, já que este público é que ainda está adaptando sua microbiota intestinal aos novos alimentos, podendo assim, desenvolver quadros graves da doença.
- O aquecimento dos alimentos pode eliminar as toxinas do botulismo com o cozimento por 10 minutos com a temperatura acima de 80ºC.

