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Saúde e Cultura
Saúde e Cultura assinam acordo para criação do Memorial da Pandemia da Covid-19
Foto: Igor Evangelista/MS
Após dois dias de debates, o Ministério da Saúde encerrou, nesta terça-feira (12), o seminário para criação do Memorial da Pandemia da Covid-19, em Brasília. Durante o evento, as ministras da Cultura, Margareth Menezes, e da Saúde, Nísia Trindade, assinaram memorando de entendimento entre as duas pastas para concepção do espaço.
“Estamos juntos na luta para uma sociedade democrática em que, entre outros direitos, tenhamos o direito à memória, que é o que esse seminário também coloca”, afirmou Nísia.
A pauta faz parte do Novo PAC, dentro do eixo de Preparação para Emergências Sanitárias, e responde às ações e iniciativas propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para que as nações estejam preparadas para o surgimento de novas pandemias.
Para Margareth Menezes, a criação do memorial se justifica por vários aspectos, “mas principalmente para ensinarmos às futuras gerações que custou caro as vidas que perdemos, principalmente porque sabemos que o estrago poderia ter sido menor”, afirmou. A ministra também saudou e agradeceu aos profissionais que trabalharam durante à pandemia. “Não há prova de amor maior do que doar a vida pelo irmão. Essa frase eu dedico a todos os profissionais de saúde e a todas as pessoas que dedicaram suas vidas para salvar vidas”, disse.

- Foto: Ministério da Saúde
Por uma Política de Reparação
O segundo dia de evento teve início com a mesa “Por uma Política Nacional da Memória da Pandemia”, mediada por Thiago Nicodemo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Componente da mesa, Mário Chagas, diretor do Museu da República, localizado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), trouxe ao centro do debate o que considera essencial no espaço. “Esse memorial deve ter compromisso com pesquisa. Deve estar aberto ao público, ser acessível e inclusivo, fomentar diversidade e sustentabilidade, mas, especialmente, um dos maiores desafios para esse memorial é a participação comunitária”, defendeu.
Para Mário, é preciso recuperar o que os artistas produziram durante a pandemia. “Há obras extraordinárias, artistas que fizeram cordel sobre vacinação, poetas que marcaram a pandemia com seus textos, romancistas, contistas. O Museu da Pandemia deve se dedicar às pessoas, o compromisso é com as pessoas”, finalizou.
Outro ponto de destaque e que apareceu em todas as falas da mesa foi a necessidade de reparação. A defesa é que o Memorial deve englobar a participação e contribuição das comunidades periféricas durante a pandemia, que se mobilizaram para ajudar à população mais carente, evitando ainda mais mortes. Além disso, o pedido é para que haja responsabilização das pessoas negligentes, como governo, empresas privadas, médicos, entre outros, no período da pandemia.
Também participaram da mesa Thiago Lopes, da Fiocruz, Marco Lucchesi, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Lilia Schwarcz, antropóloga e historiadora, Thuane Nascimento (Thux), Coalizão Negra por Direitos, e Milton Alves, representante da Rede Nacional das Entidades de Familiares e Vítimas da Covid-19.
Preparação para novas pandemias
A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS), Ethel Maciel, conduziu o último debate do dia, com o tema “Saúde global e preparação para novas pandemias”.
“Estamos diante de um dos maiores desafios globais, que é ter um instrumento que nos guie para os próximos eventos de saúde. Estamos em um momento histórico, estarmos aqui, neste momento, também é uma afirmação de que o Brasil tem o compromisso para ter um instrumento que nos guie para os próximos tempos turbulentos, e eles virão”, afirmou Ethel.
Já Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico Industrial da Saúde, defendeu que “não é possível separar o mundo das transformações políticas, sociais e ambientais do mundo da produção e da ciência, tecnologia e inovação”. Segundo ele, não é possível trabalhar no SUS sem esse conjunto. “A gente tem de ter um sistema produtivo que tenha medicamentos, que tenha vacinas, que tenha atenção básica, organizada. Isso gera uma base produtiva, uma base material que dá sustentação ao SUS”, finalizou.
Também estiveram presentes no painel Lelyz Guzman, da OPAS, e os representantes da Fiocruz Manuel Baral Neto (BA) e Julio Croda (MS).
Combate à desinformação
A importância da comunicação e de atingir de forma efetiva o maior número de pessoas, além do combate a conteúdos falsos, também esteve presente no segundo dia de debate do seminário.
Vale lembrar que grupos adeptos do movimento antivacina ganharam força durante a pandemia e conseguiram espalhar muitas narrativas falsas sobre a segurança dos imunizantes. Com isso, parte da população que antes acreditava na eficácia das vacinas passou a duvidar e, assim, optar por não mais se vacinar. Esse cenário contribuiu, entre outros fatores, para a baixa da cobertura vacinal no país.
Segundo Júlio Croda, da Fiocruz da Bahia, “informação errada e intencional sempre existiu. O que estamos vendo agora é a escala e a maneira muito organizada e coordenada com que ela acontece. Não é somente pelo momento populacional. Ela agora tem uma intenção de desestabilizar. Tem a intenção de ter ganhos com essa desinformação. A gente precisa se preparar bem para esse enfrentamento da desinformação maliciosa, que tem finalidade específica”, disse.
Acordo entre Saúde e Cultura
A ideia do memorando de entendimento assinado no encerramento do seminário pelas ministras Margareth Menezes e Nísia Trindade é garantir políticas públicas conjuntas de saúde e cultura para promover o exercício da cidadania e o acesso aos direitos garantidos constitucionalmente, de acordo com cumprimento da Agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
De acordo com Nísia Trindade, a proposta é mais ampla do que a de criação do Memorial da Pandemia de Covid 19. “O protocolo assinado prevê a formulação, implementação e acompanhamento de políticas públicas nas áreas de saúde e da cultura e, a partir daí, teremos o desenvolvimento de uma série de ações conjuntas unindo a capilaridade do SUS com sua diversidade regional, da mesma forma que temos os pontos de cultura, sempre dentro da visão de fortalecimento da democracia”, observou.