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AGROECOLOGIA
Governo do Brasil divulga resultado de chamada pública que destina R$ 22,5 milhões a 73 Núcleos de Estudos em Agroecologia
O Governo do Brasil, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e com apoio de sete ministérios, divulgou o resultado da chamada pública de apoio aos Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEAs). A iniciativa, que investe R$ 22,5 milhões em projetos de universidades e institutos federais, fortalece a integração entre ensino, pesquisa e extensão para impulsionar a transição agroecológica nos territórios rurais.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) é um dos principais parceiros da ação —, com aporte de R$ 6 milhões, e tem papel central na coordenação técnica e política da agenda de agroecologia no governo federal. “Os Núcleos de Estudos em Agroecologia representam a convergência entre o conhecimento científico e os saberes tradicionais que sustentam a agricultura familiar brasileira. Ao fortalecer esses espaços, o MDA reafirma o compromisso com a transição agroecológica, a soberania alimentar e a valorização das pessoas e dos territórios que produzem o alimento que chega à mesa das famílias brasileiras”, destacou o secretário de Agricultura Familiar e Agroecologia, Vanderley Ziger.
Os recursos serão utilizados em bolsas de pesquisa e extensão, compra de equipamentos e materiais didáticos, e atividades junto a comunidades locais. A ação integra a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e se conecta diretamente ao Programa Nacional de Pesquisa e Inovação para a Agricultura Familiar (PNPIAF), reforçando a articulação entre governo, academia e sociedade civil.
Fortalecimento da rede agroecológica
Para Zaré Augusto Brum Soares, coordenador-geral de Pesquisa, Inovação e Patrimônio Genético do Departamento de Inovação para Produção Familiar e Transição Agroecológica (DINOV/SAF), a retomada do edital representa um marco importante na consolidação dos NEAs como política pública.
“Os NEAs são uma política que vem rodando desde 2010, quando foi lançado o primeiro edital de apoio aos núcleos de estudo em agroecologia e produção orgânica. Eles buscam fortalecer a articulação entre pesquisa, ensino e extensão nas universidades em torno do tema da agroecologia. Desde o início, o MDA vem apoiando a estruturação dos NEAs com recursos e na construção dos editais e do monitoramento da implementação dos projetos. Os NEAs fazem parte de um conjunto de ações que fortalece os processos de transição agroecológica nos territórios, conectando-se ao PNPIAF para formar profissionais e pesquisadores em diálogo com as redes locais”, explicou.
Na prática: o exemplo da Rede de Agroecologia da UFF
Entre os projetos selecionados está o da Rede de Agroecologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), que reúne seis núcleos em diferentes campi do estado do Rio de Janeiro. O professor José Renato, do NEA Aipim (campus Angra dos Reis), explica que o trabalho da rede é resultado de uma construção coletiva iniciada em 2017. “Criamos o NEA Aipim em 2017, em diálogo com comunidades quilombolas, caiçaras, indígenas e camponesas. Em 2019, organizamos a Rede de Agroecologia da UFF, que hoje articula seis núcleos e atua de forma integrada com organizações da agricultura familiar e movimentos sociais do estado”, contou o professor.
O projeto apoiado pelo novo edital prevê a sistematização de experiências, a realização do III Encontro de Agroecologia da UFF e o fortalecimento institucional da pauta da agroecologia dentro da universidade. “Os NEAs não são projetos. São políticas de construção de conhecimento agroecológico radicadas nas universidades, em interação constante com as comunidades camponesas. Isso nos aproxima das linguagens, temporalidades e modos de vida desses territórios.”
Resultados esperados e o poder das redes
Segundo José Renato, o impacto dos NEAs vai além da pesquisa e do ensino, fortalecendo uma rede de articulação política e científica. “Temos observado o poder das redes. O que fazemos juntos é muito maior do que a soma das partes. Atuar em rede nos permite construir a agroecologia a partir de sinergias e confluências. São as ‘micorrizas’ que conectam as nossas raízes, fincadas nos territórios, e ampliam os significados do que fazemos”, acrescentou Renato, lembrando que o edital dos NEAs é uma oportunidade singular para ampliar o diálogo institucional e consolidar políticas permanentes de apoio à agroecologia na UFF.
Acompanhamento interministerial e metas da nova etapa
Zaré explica que, com a divulgação dos resultados, o MDA e os ministérios parceiros retomam o grupo técnico interministerial de monitoramento responsável por acompanhar a execução dos projetos e avaliar seus resultados, e os próximos passos, agora, são voltados para a contratação dos projetos e a retomada da governança interministerial. Ele destaca que a iniciativa cria condições para aproximar a universidade das comunidades tradicionais, fomentando a troca entre saberes e o desenvolvimento de soluções concretas para desafios territoriais. “Os NEAs viabilizam que alunos e professores atuem junto às organizações da agricultura familiar e comunidades tradicionais, fortalecendo grupos comunitários e desenvolvendo soluções técnicas para os desafios da transição agroecológica”, ressaltou.