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Relatório "10 New Insights" sinaliza ameaças climáticas crescentes e caminhos para ação
Enquanto líderes se dirigem à cúpula climática da ONU no Brasil, um novo relatório apresenta uma avaliação severa do clima do planeta e um apelo urgente para acelerar a ação global.
O relatório “10 Novas Perspectivas na Ciência Climática” (10 New Insights in Climate Science) destaca uma aceleração preocupante no aquecimento global, ameaças crescentes à saúde e aos meios de subsistência e desafios persistentes enfrentados pelos mercados de carbono, ao mesmo tempo em que descreve estratégias baseadas na ciência para diminuir a distância entre as promessas e a implementação.
Produzido pela Future Earth, The Earth League e pelo Programa Mundial de Pesquisa Climática (World Climate Research Programme), o relatório anual sintetiza as últimas descobertas revisadas por pares de várias disciplinas para informar a política climática internacional. A edição deste ano conta com contribuições de mais de 70 pesquisadores em mais de 20 países e opiniões de mais de 150 especialistas em todo o mundo.
O ecólogo especialista em restauração de ecossistemas Guilherme Mazzochini, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, é coautor do estudo. Ele considera que, "ao apresentar novas compreensões sobre os impactos do clima na vida na Terra e no bem-estar humano, o relatório é fundamental para aproximar a ciência de ponta das decisões políticas, especialmente neste momento em que o Brasil sediará a COP30. Traduzir esse conhecimento científico para uma linguagem acessível é essencial para que os tomadores de decisão desenvolvam políticas públicas baseadas em evidências que sejam capazes de fortalecer a resiliência dos ecossistemas e das populações humanas frente às mudanças globais".
O relatório começa com conclusões alarmantes dos indicadores climáticos recentes: 2024 foi confirmado como o ano mais quente já registrado, com temperaturas globais 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais. O conteúdo de calor dos oceanos e o aumento do nível do mar atingiram níveis recordes, enquanto o gelo marinho da Antártida atingiu sua segunda menor extensão já registrada. Apesar das evidências crescentes, as emissões globais de gases de efeito estufa continuaram a subir ao longo do ano passado.
Várias observações destacam uma aceleração perigosa nas mudanças do sistema da Terra. Novas análises ilustram um desequilíbrio energético elevado no planeta, um aumento na absorção de calor pelos oceanos e uma queda acentuada no sumidouro de carbono terrestre global — tendências que sugerem que o sistema climático pode estar aquecendo mais rapidamente do que se pensava anteriormente. Agravando esses riscos, o relatório destaca como a própria perda de biodiversidade pode agravar as mudanças climáticas, enfraquecendo a capacidade dos sistemas naturais de absorver carbono e estabilizar o clima.
Outras conclusões se concentram nos impactos das mudanças climáticas sobre os seres humanos. Pesquisadores documentam um declínio acelerado nas águas subterrâneas, ameaçando a segurança hídrica em várias regiões, juntamente com evidências de que a dengue está se expandindo para novos territórios à medida que as temperaturas globais aumentam. Enquanto isso, as perdas de produtividade induzidas pelo calor estão reduzindo a renda global e pressionando as economias. Esses impactos afetam desproporcionalmente os trabalhadores em setores e regiões vulneráveis.
O relatório alerta que, embora os esforços de adaptação devam ser rapidamente ampliados, há limites para a adaptação diante do aquecimento descontrolado. Sem cortes profundos nas emissões, os sistemas de saúde e as economias enfrentarão pressões crescentes e possíveis colapsos sistêmicos.
O conjunto final de observações examina estratégias de mitigação. O relatório conclui que a remoção de dióxido de carbono permanece muito abaixo dos níveis exigidos, mesmo que se torne essencial para gerenciar o excesso de temperatura. Ao mesmo tempo, os mercados voluntários de carbono continuam a sofrer com questões de integridade e transparência, arriscando novos atrasos na descarbonização direta.
Por outro lado, décadas de experimentação de políticas climáticas revelaram o que funciona. O relatório aponta para fortes evidências de que combinações de políticas bem elaboradas e específicas para cada contexto — especialmente aquelas que combinam preços de carbono com regulamentações e incentivos complementares — proporcionam reduções de emissões mais profundas e duradouras. Enquanto os negociadores em Belém trabalham para transformar compromissos em ações, o relatório 10 Novas Perspectivas na Ciência Climática 2025/2026 oferece recomendações concisas e baseadas em evidências. Ele ressalta que políticas eficazes, equitativas e baseadas na ciência continuam sendo a ferramenta mais poderosa para proteger as pessoas e o planeta.