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Palmeira-furacão, extinta na natureza, tem refúgio no Jardim Botânico do Rio de Janeiro
As quatro palmeiras-furacão do Jardim Botânico do Rio de Janeiro produzem flores e frutos
Morreu, há um ano, a última palmeira-furacão (Dictyosperma album var. conjugatum H.E.Moore & J.Guého) que ainda se encontrava em seu habitat natural, nas Ilhas Maurício, costa de Madagascar, na África. Desta forma, essa variedade de palmeira se encontra, desde setembro de 2024, extinta na natureza. No entanto, a conservação ex situ (cultivo fora do ambiente natural) traz um lampejo de esperança para a espécie. No Jardim Botânico do Rio de Janeiro existem quatro indivíduos adultos que frutificam.
Em matéria publicada no site Mongabay em novembro de 2024, a jornalista Shanna Hanbury relata que a última palmeira-furacão nativa de seu habitat natural, em Round Island, caiu após uma tempestade em meados de setembro passado. Com 9 metros de altura, ela era uma atração na pequena ilha de apenas 1,7 km2, área de conservação estratégica em Maurício. Especialistas e autoridades trabalham há anos para conservar essa espécie, entre outras, mas não foi possível evitar a perda do último indivíduo selvagem.
Segundo a matéria, a população dessa palmeira entrou em declínio a partir do século XIX com a chegada dos colonizadores britânicos que levaram cabras e coelhos para Round Island. Esses animais se tornaram invasores do ecossistema local, devastaram as mudas e causaram a erosão da camada superficial do solo que ajudava a manter as palmeiras de pé.
A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) estima que 38% das espécies arbóreas do planeta se encontram ameaçadas de extinção e, destas, a maior parte se encontra em ilhas, que são ecossistemas cada vez mais ameaçados pelas mudanças climáticas, principalmente nas regiões tropicais, com a elevação do nível do mar e tempestades mais violentas. Em 2022, a IUCN já classificava a palmeira-furacão como criticamente em perigo de extinção (CR), por existir apenas um indivíduo nativo maduro. Outro exemplar nativo dessa variedade resistiu até 1994, quando foi derrubado pelo ciclone Hollanda.
A partir das sementes da palmeira-furacão perdida em 1994, o governo mauriciano, a Mauritian Wildlife Foundation e o Durrell Wildlife Conservation Trust (Reino Unido) conseguiram, em colaboração, produzir mudas e cultivar 18 jovens palmeiras-furacão em Ile aux Aigrettes, uma ilhota de coral próxima a Round Island. Trata-se de um esforço para tentar salvar essa variedade da extinção total e, talvez daqui a algumas décadas, conseguir reintroduzi-la em seu habitat natural.
“Porém, mudas que provêm de um mesmo indivíduo, ou seja, de uma mesma matriz, não apresentam diversidade genética, o que tende a enfraquecer a espécie. Por isso, a médio ou longo prazo, ela pode se extinguir totalmente”, explica o pesquisador Marcus Nadruz, coordenador de Coleções Vivas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ).
Existem atualmente quatro indivíduos de palmeira-furacão, também chamada palmeira-princesa, cultivados no Arboreto do JBRJ. “É uma palmeira muito bonita, que tem um palmito verde acinzentado bem diferente, não comestível”, afirma Nadruz. Ele acrescenta que o gênero Dictyosperma é monoespecífico, ou seja, só possui uma espécie, a Dictyosperma album, que é dividida em três variedades: album, aureum e conjugatum, todas presentes no Jardim.
A boa notícia é que as quatro palmeiras-furacão (Dictyosperma album var. conjugatum) do Jardim Botânico do Rio de Janeiro produzem flores e frutos. Desta forma, o JBRJ pode vir a fornecer sementes para planos de reintrodução dessa variedade na natureza.