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Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Consulado do México comemoram os 90 anos do Jardim Mexicano
Na manhã de 2 de outubro de 1935, autoridades mexicanas e brasileiras inauguravam em um canteiro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a estátua de Xochipilli, o deus asteca das flores, como símbolo da amizade entre os dois países. Esses laços foram renovados nesta terça-feira, 3 de outubro de 2025, quando o Consulado Geral do México e o JBRJ celebraram os 90 anos desse evento que marcou a criação do Jardim Mexicano.
A estátua de Xochipilli foi presenteada pelo governo do México ao Brasil por intermédio do então embaixador mexicano no Rio de Janeiro, Alfonso Reyes (1889-1959), que foi um frequentador assíduo do Jardim Botânico durante a sua estadia como diplomata na então capital federal brasileira, de 1930 a 1936.
Reyes, um importante intelectual, escritor e ensaísta, buscou promover o intercâmbio cultural e científico entre os dois países. Ele escreveu dezenas de ensaios sobre o Brasil e o Rio, dedicou ao Jardim o poema El botanico (O botânico) e fez vir sementes da planta mexicana peiote (Lophophora williamsii) para enriquecer a coleção de cactáceas da instituição, cujo diretor na época, Paulo Campos Porto, era um especialista em cactos.
Chamado por Campos Porto de “embaixador da cultura e da amizade”, Reyes foi o responsável pela oferta da estátua de Xochipilli ao JBRJ. Essa estátua, que existe ainda hoje no Jardim Mexicano junto às plantas de Agave, é uma réplica da que se encontra no Museu Nacional de Antropologia na Cidade do México, representando o Senhor das Flores. A original foi encontrada aos pés do vulcão Iztaccíhuatl e data do período pós-clássico tardio da cultura mexicana (1250-1521 d.C.).
A comemoração dos 90 anos do Jardim Mexicano no JBRJ foi um momento de rememorar esse marco histórico nas relações diplomáticas entre Brasil e México e de afirmar a amizade e cooperação entre os dois países no presente e no futuro. A cerimônia contou com as presenças do presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Sergio Besserman Vianna, do cônsul geral do México no Rio de Janeiro, Héctor Valezzi Zafra, os cônsules do Reino Unido, Colômbia, Japão, Perú e Uruguai e autoridades do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
O cônsul mexicano e o presidente do JBRJ fizeram o plantio de mudas da espécie Euphorbia pulcherrima Willd. ex Klotsch (Euphorbiaceae), conhecida popularmente como bico-de-papagaio, originária do México, onde é chamada de nochebuena (noite de Natal).
A pesquisadora brasileira-mexicana Léia Scheinvar foi homenageada no evento. Após o golpe de 1964 no Brasil, a Dra. Léia se refugiou no México, onde desenvolveu uma brilhante carreira como cactóloga. Na Universidade Nacional Autônoma do México - UNAM - dirigiu o laboratório de cactologia durante mais de 30 anos e criou a disciplina de Cactologia na Faculdade de Ciências dessa Universidade. Ela também colaborou com a coleção de Cactos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro na década de 1990, numa parceria com a UFRJ.
Sergio Besserman Vianna ficou emocionado ao reencontrar a Dra. Léia Scheinvar, que conheceu aos 18 anos, quando ele e seus pais foram ao México durante a ditadura no Brasil. O presidente do JBRJ ressaltou também o papel de Brasil e México na defesa da liberdade e da democracia no continente e sobre a importância da cooperação científica entre as instituições dos dois países. O cônsul Héctor Zafra afirmou que o Jardim Botânico é seu local favorito no Rio de Janeiro e lembrou o relevante trabalho realizado por Alfonso Reyes para as relações entre as duas nações.
O evento teve ainda a participação de alunos das Escolas Interculturais Brasil-México CIEP 413 Adão Pereira Nunes (São Gonçalo), CIEP 370 Professor Sylvio Gnecco de Carvalho (Duque de Caxias) e do Colégio Estadual Antônio de Jesus Gomes (Vassouras), uma parceria do Consulado Geral do México com a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. O programa proporciona o ensino da língua espanhola por meio do conhecimento da cultura do país.