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Dia do Pau-brasil: a importância de recordar a sua história e de garantir o seu futuro
Espécime de pau-brasil localizado no assentamento Pau-Brasil, em Itamaraju, extremo Sul da Bahia, com idade estimada em mais de 550 anos, possivelmente mais de 600 | Foto: Eduardo P. Fernandez
Em 1500, navegantes portugueses chegaram à terra nomeada como “Pindorama” por grande parte de seus indígenas nativos, a qual depois veio a ser chamada de Brasil. O nome oficial de nosso país é ensinado nas escolas, sempre mencionando a árvore conhecida como pau-brasil, cientificamente conhecida como Paubrasilia echinata. À época colonial, uma das principais características que chamou a atenção dos colonizadores foi a elevada abundância e diversidade de espécies nativas, dentre as quais dessa árvore, o pau-brasil, cujo nome é devido a coloração vermelho intensa de seu tronco, em decorrência da presença de um pigmento hoje denominado brasilina. Esta coloração do tronco era comparada com a cor da madeira em brasa, como num braseiro. Daí, o nome pau-brasil. O motivo de se nomear o país com referência à árvore nos remete hoje à elevada biodiversidade desta terra, mas no período colonial esteve de fato relacionado à intensa exploração desta espécie, responsável pelo primeiro grande ciclo econômico brasileiro, para extração de seu pigmento e para uso de sua madeira. Hoje, infelizmente, o outrora abundante pau-brasil é uma espécie classificada como em elevado risco de extinção (CNCFlora), estimando-se que mais de meio milhão de árvores desta espécie tenham sido cortadas desde então.
No Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), a árvore está presente em suas diversas coleções científicas, como no arboreto, onde os visitantes podem contemplar a beleza e imponência de indivíduos vivos, plantados como uma estratégia de conservação, chamada ex situ (fora de seu ambiente natural). Também no âmbito da conservação ex situ, amostras de sementes, tecidos e DNA do pau-brasil estão armazenadas em condições especiais de laboratório. Amostras de ramos secos e com flores (exsicatas), frutos e amostras de madeira de pau-brasil também fazem parte da coleção científica do JBRJ. No JBRJ, ainda hoje está é uma espécie alvo de diversos estudos científicos na Diretoria de Pesquisa Científica, desde a revisão de sua identificação taxonômica, de sua origem evolutiva e de outras características que auxiliem em sua conservação, como por exemplo as características anatômicas e químicas de sua madeira e como podem ser utilizadas no desenvolvimento/aprimoramento de métodos que permitam a identificação da espécie no campo, inclusive por especialistas do IBAMA nos processos de fiscalização e de rastreamento de madeira ilegal.
Recentemente, o Centro Nacional de Conservação da Flora do JBRJ (CNCFlora), com base em critérios internacionais (IUCN), refez a avaliação sobre o estado de conservação desta espécie simbólica da Mata Atlântica e o resultado, em análise pela Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO-MMA), foi a recomendação de mudança no grau de risco de extinção, de “em perigo” para “criticamente em perigo”. Apesar do pigmento brasilina ter sido substituído por outros pigmentos, como a anilina, ainda hoje o pau-brasil continua sendo explorado, motivo pelo qual seus poucos indivíduos remanescentes continuam sendo mortos e retirados do que resta da Mata Atlântica. Em meados do século XIX, a madeira de pau-brasil passou a ser indicada como a melhor madeira para a produção de arcos de violino, a qual vem sendo utilizada até os dias atuais, inclusive em escala internacional. Nesse sentido, além da perda de habitat histórica e atual verificada ao longo de sua distribuição, a maior ameaça atual é justamente a exploração comercial não sustentável para a obtenção desta madeira de alto valor (um arco de violino pode valer desde centenas a milhares de euros no mercado europeu).
Assim, hoje, no Dia do Pau-brasil, o JBRJ, como um Instituto de Pesquisa Científica do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, reitera seu posicionamento quanto à urgente necessidade de conservação do pau-brasil, não somente em reverência ao simbolismo desta espécie para a história de nosso país, mas também, e em especial, com base em evidências científicas robustas. A ciência revela que esta espécie nativa do Brasil, patrimônio genético brasileiro, está severamente ameaçada de extinção. Infelizmente, no atual ritmo de exploração do pau-brasil, a pergunta a ser feita não é se o pau-brasil será extinto da natureza, mas sim quando essa extinção ocorrerá. Vamos deixar a árvore que batiza esta nação se extinguir? Ao contrário da simbologia com que foi tratado anos atrás, o pau-brasil deve ser tratado de forma diferente na atualidade. E, sem perder a reverência a esta icônica espécie, a conservação do pau-brasil deve ser também um ato simbólico: de conservação da natureza, da biodiversidade, do clima e da história do país que detém a maior biodiversidade do mundo.
