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TRANSFORMAÇÃO ECOLÓGICA
Na ONU, Brasil defende nova arquitetura financeira para enfrentar a crise climática
A secretária extraordinária do Mercado de Carbono do Ministério da Fazenda, Cristina Reis, representou o Brasil na sétima Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-7). O evento terminou nesta sexta-feira (12/12), em Nairóbi, no Quênia. Durante o painel "A Questão Fundamental: Por que combater a degradação ambiental é crítico para o futuro do sistema financeiro global", ela apresentou a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB) como instrumento estratégico para o desenvolvimento sustentável e também defendeu uma nova arquitetura financeira para enfrentar a crise climática com justiça social.
O debate dialogou diretamente com o Plano de Transformação Ecológica, iniciativa do governo brasileiro liderada pelo Ministério da Fazenda. O plano concilia desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental, promovendo a neoindustrialização verde e a descarbonização da economia. Nesse cenário, o Brasil levou ao fórum internacional a experiência de um país do Sul Global que, por meio de políticas públicas integradas, financia seu desenvolvimento articulando emprego, produtividade, justiça social e sustentabilidade ambiental.
Cristina Reis questionou o conceito de "resiliência" aplicado aos países em desenvolvimento. Para ela, não basta que essas nações tenham capacidade de se recuperar de crises: é preciso ir além. A secretária explicou que o problema da resiliência é não considerar a falta de tecnologia avançada nem os desafios históricos e estruturais que impedem esses países de se recuperarem após um choque econômico ou ambiental.
O Brasil propõe uma mudança de perspectiva: em vez de resiliência, Reis recomendou considerar os conceitos de "robustez" e "prontidão". Na prática, isso significa fazer mudanças estruturais profundas na economia, capazes de desenvolver cadeias produtivas mais completas no próprio país, além de criar empregos de qualidade. Para Cristina Reis, esse caminho exige que o governo atue diretamente para transformar a estrutura econômica, permitindo que o país avance nas cadeias de valor e conquiste um desenvolvimento verdadeiramente autônomo e sustentável.
“A taxonomia é, para o Brasil, uma ferramenta que espelha todos os desafios da economia política relacionados à tarefa de promover mudanças estruturais”, disse a secretária extraordinária. Reis explicou que a taxonomia brasileira não é apenas "verde", visando apenas à descarbonização, mas também é "sustentável", uma vez que incorpora três objetivos estratégicos principais: promover o desenvolvimento sustentável, melhorar a densidade tecnológica das cadeias de valor e garantir um fluxo de informações financeiras transparente com integridade.
Para alcançar essas metas, a taxonomia integra objetivos ambientais e climáticos, como mitigação, adaptação, uso da terra e biodiversidade, metas econômicas e sociais, incluindo geração de empregos decentes e redução de desigualdades regionais, de gênero e étnico-raciais. Reis explicou que essa abordagem multidimensional posiciona a taxonomia brasileira como uma das mais modernas do mundo.
“O processo de elaboração da taxonomia exigiu uma enorme governança no Brasil, envolvendo 350 pessoas e um comitê com a participação da sociedade civil, incluindo o setor privado, sindicatos, Ongs, academia e think tanks. Essa participação confere legitimidade à ferramenta, permitindo que ela se torne um instrumento de Estado e não apenas um instrumento de governo”, explicou. Lançada em agosto, a taxonomia é amparada por um decreto que orienta sua aplicação em instrumentos-chave de política pública, como compras governamentais e estruturação de financiamentos. A adoção pelo setor privado é, neste momento, voluntária.
Aprendizado com o Brasil
A diretora de Sustentabilidade do Banco Central das Filipinas, Pia Bernadette Roman Tayag, compôs a mesa do painel ao lado da secretária Reis. Durante sua participação, Tayag apresentou a realidade de um país altamente exposto a desastres naturais, provocados pelas mudanças climáticas. Segundo Tayag, essa vulnerabilidade se traduz em riscos financeiros concretos: riscos de crédito, de mercado e operacionais, que afetam todo o sistema financeiro do país. Em resposta, o país criou regulações, incentivos e uma taxonomia própria.
A representante filipina mencionou que seu país está "aprendendo com o Brasil" para aprimorar sua ferramenta, evidenciando o reconhecimento internacional da abordagem brasileira, que combina rigor técnico com inclusão social. “Nossa taxonomia é baseada em princípios gerais, de alto nível. Estamos aprendendo com o Brasil porque queremos complementá-la com um catálogo mais detalhado, com base científica, focado em adaptação e resiliência. O objetivo é deixar tudo muito transparente para os bancos e permitir que eles direcionem investimentos e recursos para as prioridades do nosso plano nacional de adaptação”, afirmou a executiva do Banco Central filipino.
UNEA
A sétima Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente reuniu em torno de 6 mil participantes de 186 países na sede do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em Nairóbi. O evento começou na segunda-feira (08/12) e aprovou 11 resoluções, três decisões e uma Declaração Ministerial sobre temas que incluem proteção de recifes de corais, gestão de minerais essenciais para a transição energética, uso sustentável de inteligência artificial e combate a incêndios florestais. A próxima assembleia (UNEA-8) ocorrerá entre 6 e 10 de dezembro de 2027, também em Nairobi.
