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Histórias que atravessam fronteiras: a feira do MICBR+Ibero-América pelos olhos de seus expositores
Foto: Carol Lando/ MinC
Entre cores, texturas, sotaques e trajetórias, mais de 100 expositores ocuparam a feira do MICBR+Ibero-América 2025, realizada em Fortaleza (CE), com aquilo que têm de mais precioso: sua arte e suas histórias. Cada banca representava um país, um território, um tempo e, sobretudo, uma vida inteira dedicada à criação.
Logo na entrada, o visitante era recebido por um corredor vibrante, marcado pela diversidade das técnicas que atravessam o continente. Rendas tradicionais como o bilro e o filé, bordados em labirinto, trançados de palha transformados em chapéus e bolsas, peças de cerâmica moldadas em figuras humanas e utilidades domésticas, artigos em couro, esculturas em madeira, xilogravuras, copos com areia colorida e uma infinidade de expressões que dialogavam entre o ancestral e o contemporâneo. Entre elas, também se destacavam roupas africanas, peças chilenas e objetos que revelavam o caminho do artesanato latino rumo ao futuro.
No centro da feira, as joias de pedra criadas pelo designer e produtor Antônio Rabelo pareciam carregar a força do sertão. Ele conta que tudo nasce dentro da sua oficina, em Quixeramobim, da lapidação das rochas à concepção das coleções. “É uma grande oportunidade de negócio e de encontro. Aqui surgem conversas que podem levar nossas peças para outros lugares do mundo”, diz. Participando pela primeira vez do MICBR, Antônio celebra as vendas, as conexões e a energia do evento.
Sua trajetória é longa, começou com pintura, escultura e desenho, até encontrar na joalheria o caminho principal. Hoje, seu ateliê transformado em museu, o Museu Orgânico Antônio Rabelo, recebe pessoas interessadas na produção artesanal e na mística das pedras.
Ele trabalha com prata, couro, palha, espinho de mandacaru e minerais do sertão. Mas afirma que, mais do que materiais, suas peças carregam poesia. “São joias que falam de uma cultura, de um povo. Eu vejo o desenho como algo atemporal”.
Antônio costuma dizer que aprendeu o que é economia criativa vendendo sanduíche na rua, quando percebeu que criatividade e autonomia andam juntas. “Economia criativa é liberdade e possibilidade. É agregar valor ao que está ao nosso redor”.
Máscaras e marionetes coloridas chamavam atenção de quem passava por outros estandes. Eram obras da costarriquenha Zeneida Briceño, que pela primeira vez saiu do seu país para apresentar o artesanato da cultura Chorotega, um legado pouco conhecido até mesmo dentro da Costa Rica. “Estou muito feliz. É tudo muito incrível: o ambiente, a participação dos artesãos, a organização”, conta, emocionada.
Zeneida trouxe máscaras tradicionais e marionetes usadas em festas religiosas, celebrações folclóricas e até cerimônias fúnebres em sua comunidade. As peças são feitas à mão com materiais reciclados, um trabalho de sustentabilidade que atravessa gerações. Durante as rodadas de negócios, Zeneida conseguiu contatos, abriu portas e aprendeu novas maneiras de apresentar seu produto ao mundo. “Já recebi interesse de pessoas do México. Aprendi muito aqui”.
Na feira, quem se aproximava das rendas finas e delicadas de Raimunda Rubinete não imaginava a dimensão de história que cada peça carregava. Filha, neta e sobrinha de rendeiras, ela traz nos dedos o gesto aprendido ainda criança no interior do Ceará. “Voltei para o artesanato porque é o que eu sei fazer, o que eu domino e onde me sinto bem”, conta. Depois de trabalhar na educação por sete anos, decidiu retornar às origens e desde então vive exclusivamente do artesanato.
Raimunda é rendeira de bilro, mas também borda, costura, cria e inova todos os dias. “Procuro fazer a diferença no meu artesanato para que minhas peças sejam aceitas e eu possa sustentar a minha casa. Tudo que tenho é fruto do meu trabalho”.
Das pedras do sertão às máscaras ancestrais da Costa Rica, das rendas de bilro às roupas africanas, das cerâmicas chilenas aos trançados de palha brasileiros, o evento celebrou um continente que cria, reinventa e resiste.
Saiba mais sobre o MICBR+Ibero-América 2025 aqui.
MICBR+Ibero-América
A edição 2025 é uma realização do Ministério da Cultura, correalização da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), do Governo do Estado, por meio da Secult Ceará, e Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secultfor.
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