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Premiação
Conheça as trajetórias das vencedoras do 1º Prêmio Mulheres e Ciência
Um agradecimento às muitas gerações de mulheres cientistas que existiram antes e um incentivo para meninas e mulheres ingressarem e persistirem na ciência. Essa é a importância do 1º Prêmio Mulheres e Ciência, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inivação e pelo CNPq, com apoio do Ministério das Mulheres, British Council e CAF, na visão das suas vencedoras.
As agraciadas também salientaram a necessidade de valorização do trabalho de mulheres que estão na área científica e as dificuldades em conciliar a vida profissional com a pessoal, como mães. E destacaram a importância da coletividade: “Na ciência, há prêmios que são individuais e nominais, mas seus sentidos são sempre coletivos. Esse prêmio é um exemplo. O que fiz até aqui para receber o prêmio na categoria Trajetória é parte de um esforço coletivo em que gerações de pesquisadoras construíram o que foi reconhecido como importante contribuição das mulheres à ciência brasileira”, resume a professora da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), Débora Diniz Rodrigues, agraciada da área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes.
Conheça mais sobre as premiadas
Contemplada da área de Ciências da Vida na categoria Estímulo, Mariana Emerenciano de Sá, comemora o resultado e o reconhecimento pelo seu trabalho. “Estou especialmente animada com a possibilidade de inspirar outras meninas e mulheres a ingressarem e persistirem na ciência”, afirma. Pesquisadora titular do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, ela é co-fundadora e atual coordenadora da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão do Inca, dedica-se à divulgação científica e coordena eventos científicos que promovem a disseminação do conhecimento.
O trabalho de pesquisa de Mariana envolve o estudo das causas genéticas do câncer, em especial das leucemias pediátricas. “Meu grupo busca entender os fatores genéticos que modificam a chance de uma criança ser diagnosticada com câncer, bem como compreender como as alterações genéticas impactam as escolhas de tratamento e as chances de cura de cada criança”, explica.
Para Patrícia Takako Endo, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Computação da Universidade de Pernambuco (UPE), bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e agraciada na categoria Estímulo, na área de Ciências Exatas, da Terra e Engenharias, o reconhecimento de seu trabalho, comprovado pelo resultado do prêmio, vai muito além de uma conquista acadêmica e profissional. É uma afirmação de que a mulher pode estar em qualquer lugar que ela quiser. “Especialmente para mim, que trabalho na área de computação, que ainda é majoritariamente masculina, por muitas vezes me senti desconfortável, chegando a me perguntar ‘o que eu estou fazendo aqui?’ ou ‘será que isso é para mim mesmo?’, confessa. Ela afirma ser muito representativo ter mulheres que podem ser referências e inspiração para outras meninas que também queiram trilhar o caminho acadêmico e de pesquisa. “Esse prêmio veio como um afago, que me incentiva a continuar e a entender que eu realmente preciso estar nesses lugares”, conclui.
Patrícia estuda a aplicação da inteligência artificial (IA) para auxiliar na prevenção, no diagnóstico, no acompanhamento e no monitoramento de doenças tropicais negligenciadas (DTNs), que predominam no Brasil. Sua pesquisa também visa utilizar a IA para auxiliar na melhoria da qualidade da saúde materna e neonatal. “Acredito que a IA deve ser uma ferramenta para nos auxiliar a tomar melhores decisões e promover uma vida saudável e bem-estar para todos, em todas as idades”, completa.
Contemplada da área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, na categoria Estímulo, a historiadora e pesquisadora da Fundação João Pinheiro (FJP), Marina Alves Amorim, por sua vez, considera o prêmio um incentivo e um reconhecimento não apenas do trabalho dela, mas de outras mulheres que atuaram em sua formação acadêmica. “Na medida em que reconhecemos as mulheres que fazem ciência, incentivamos outras a se tornarem cientistas”, afirma a pesquisadora do campo de estudos feministas.
No momento, Amorim desenvolve pesquisas com mulheres no âmbito do Grupo de Pesquisa Estado, Gênero e Diversidade (Egedi), da FJP, instituição de pesquisa e ensino que faz parte do sistema de planejamento do governo do estado de Minas Gerais. “Trabalhamos pela institucionalização das políticas públicas para as mulheres e pela transversalidade de gênero nas políticas públicas, e procuramos envolver as mulheres como sujeitos e não como objetos em nossas pesquisas e construções com o Poder Executivo estadual, lançando mão da epistemologia feminista e de metodologias participativas”, diz.
Amorim é a coordenadora e pesquisadora responsável pelo Observa Minas, Observatório Interseccional de Gênero e Raça de Minas Gerais, projeto desenvolvido em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese-MG). Ela salienta que a aliança com mulheres em postos de liderança e tomada de decisão no governo estadual tem sido fundamental para a interação com políticas públicas. “Algo que está no DNA do meu trabalho e do trabalho das colegas do Egedi/FJP”, completa. A pesquisadora acredita que sua dedicação e esforço para que seu trabalho científico seja apropriado pelo poder público e impacte a vida das mulheres foi o diferencial para a escolha como premiada. No último dia 8 de março, data em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres, ocorreu o lançamento do produto de seu último trabalho: o mapeamento das estruturas que compõem o ecossistema de políticas públicas para as mulheres do estado de Minas Gerais e de todos os seus 853 municípios.
Premiada da área de Ciências da Vida, na categoria Trajetória, a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, Camila Cherem Ribas, ressalta a valorização das mulheres na área científica. “É uma oportunidade de mostrar o trabalho de mulheres pesquisadoras, conquistado apesar de tantos desafios no contexto de uma sociedade essencialmente masculina. Prêmios como esse são muito bem-vindos e devem colaborar para refletirmos e atuarmos no sentido de buscar mudanças mais profundas na sociedade”, afirma.
Curadora da coleção de recursos genéticos do INPA, Camila estuda a biodiversidade e biogeografia da Amazônia, com foco nas aves e nas paisagens. Ela investiga a história evolutiva, os impactos e ameaças aos diferentes ambientes amazônicos. “A colaboração com pesquisadoras e pesquisadores de diversas áreas de conhecimento e a parceria e colaboração com comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia têm sido muito importantes para o meu trabalho”, comenta.
Também contemplada na categoria Trajetória, na área de Ciências Exatas, da Terra e Engenharias a pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa de Soja (Embrapa/CNPSo) e coordenadora geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) MPCPAgro, Mariângela Hungria, relembra como equilibrou vida profissional com a pessoal, como mãe, uma medida que é uma das grandes discussões quando se trata da trajetória acadêmica de mulheres. “Ganhar esse prêmio tem um enorme significado para mim, como mulher, mãe e como cientista”, afirma. Rememorando o esforço para galgar cada degrau das categorias relativas a bolsistas de Produtividade em Pesquisa, até se tornar pesquisadora 1A, Hungria diz que o CNPq teve impacto significativo nesse caminho. “Eu só pude seguir minha carreira científica graças ao CNPq porque, na grande maioria dos estados, essa é a única possibilidade de recursos para a pesquisa. Consegui unir grupos de pesquisa do Amazonas ao Rio Grande do Sul, incríveis e solidários, em um INCT extremamente produtivo, novamente graças ao CNPq”, diz Hungria, que considera o prêmio um agradecimento ao conselho por ter acreditado em seu trabalho. “Jamais tive dúvidas de que, como mãe, a prioridade tinha que ser minha filha, mas somente graças ao CNPq eu pude seguir com o sonho de ser cientista. Ser mãe e ser cientista são essenciais para mim, me completam”, observa. “Nesses últimos anos também tenho me dedicado à divulgação de minha trajetória de mãe com uma filha com necessidades especiais, mostrando que é possível superar barreiras e conciliar carreira e maternidade”, completa.
A pesquisadora agora diz que, nos próximos anos, planeja concentrar esforços na coordenação do INCT criado em 2014 e na continuidade dos estudos com biológicos, com ênfase no desenvolvimento de tecnologias para a recuperação de pastagens degradadas. Segundo ela, existe demanda global por aumento na produção e qualidade dos alimentos, com sustentabilidade, redução na poluição do solo e das águas e nas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Essa abordagem requer o uso racional de insumos químicos e as bactérias promotoras do crescimento de plantas (BPCP) permitem a produção de alimentos com substituição parcial ou total de fertilizantes químicos. “Dediquei minha vida científica à ciência básica e desenvolvimento tecnológico com essas bactérias, incluindo a formação de recursos humanos e atividades de divulgação científica, popularização da ciência e extensão. Iniciando a carreira nos anos 1980, quando trabalhar com biológicos era considerado ‘excentricidade’, nunca duvidei da vocação do Brasil como líder no uso de bioinsumos”, diz. A pesquisadora já lançou mais de 30 tecnologias e bioinsumos. As estimativas para a adoção anual dessas tecnologias chegam a mais de 30 milhões de hectares no Brasil, o que permite economia para o agricultor e para o país, que economizará bilhões de dólares em importação de fertilizantes químicos. Além disso, eles reduzem a poluição e emissão de gases de efeito estufa.
Professora da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), antropóloga, etnógrafa, escritora e documentarista, a agraciada da área de Ciências Humanas e Sociais, Letras e Artes, na categoria Trajetória, Débora Diniz Rodrigues afirma que o prêmio convoca a se pensar melhor sobre como estimular a pesquisa para novas gerações de pesquisadoras e como compartilhar conhecimento e oportunidades. A criminalização do aborto é um tema recorrente de estudo para a professora, que tem pesquisas na área de saúde pública e direitos humanos. Em 2020, ela recebeu o Prêmio Dan David pelo conjunto de sua obra, em prol da justiça de gênero. A premiação é financiada pela Fundação Dan David e Universidade de Tel Aviv e concedida a pessoas que contribuíram de forma relevante nos campos da ciência, tecnologia, cultura e assistência social. “Fiz etnografia em instituições totais como presídios ou hospitais psiquiátricos. Na última década, percorro o sertão de Alagoas para acompanhar o impacto das emergências sanitárias de zika e covid-19 no mundo vivido pelas mulheres”, afirma Diniz, nomeada pela revista Foreign Policy uma das 100 pensadoras globais por sua atuação em defesa de direitos durante os efeitos da epidemia de zika no Brasil.
Além das entrevistadas, receberam o prêmio na categoria Mérito Institucional a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).





