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Paratleta Califa Abud Cury conquista ouro inédito para o Brasil no Mundial de Canoagem Oceânica
Foto: ICF Ocean Racing
“Quando eu percebi que tinha conquistado o Mundial, tive uma crise de felicidade incontrolável.” Esse foi o sentimento que Califa Abud Cury Filho teve ao conquistar o ouro no Mundial de Canoagem Oceânica, disputado nas Ilhas Canárias (Espanha). No último dia 4 de julho, ele entrou no mar competindo na categoria paracanoagem masculina e saiu com um resultado inédito para o Brasil.
Há cinco anos praticando a paracanoagem, ele já coleciona 14 troféus, 36 medalhas e um total de 27 vitórias. Mas, para chegar à conquista do Mundial, Califa teve que enfrentar e superar alguns obstáculos inesperados. Formado em educação física, com mestrado em fisiologia do exercício, o brasiliense era lutador de judô e jiu-jitsu, além de personal trainer. Até que um acidente de trânsito, em 2007, mudou a sua vida.
“Eu estava muito bem profissionalmente e, de repente, estava em coma, numa maca, com o risco de amputação. Os médicos deixaram claro que eu tinha que começar a estudar porque eu não poderia mais trabalhar da mesma forma, utilizando meu corpo”, recordou.
No acidente, Califa perdeu parte dos movimentos do joelho direito. Ele ficou internado durante 11 meses e decidiu seguir o conselho médico. Ainda em reabilitação no Hospital Sarah Kubistcheck, em Brasília, focou nos estudos. Passou nos concursos do Ministério do Esporte (hoje Secretaria Especial dentro da estrutura do Ministério da Cidadania), da Secretaria de Educação do Distrito Federal e do Departamento Nacional de Trânsito (Detran).
Mas, mesmo com o sucesso nos estudos, ele tinha vontade de fazer algo diferente. “Meu corpo sentia falta da endorfina, da adrenalina.” Foi então que o esporte entrou novamente em sua vida. Em 2016, um amigo o convidou a conhecer o surfski, praticado no Lago Paranoá, em Brasília.
“O conhecimento que eu tinha de caiaque era diferente, uma coisa monótona, parada... Quando fui conhecer o surfski, vi que o barco é extremamente desafiador, um barco instável, um cavalo bravo. Então, isso me desafiou a dominar o equipamento. Comecei a gostar, porque eu gosto de desafios, sou uma pessoa competitiva.”
O surfski é um caiaque de cockpit aberto (sit-on-top), longo, estreito e leve, geralmente com pedais controlando o leme. Mede entre cinco e 6,5 metros de comprimento e apenas de 40 a 50 centímetros de largura. O remo utilizado é o de caiaque, com pás duplas e cerca de 2,10 metros de comprimento. As características do barco deixa o surfiski extremamente rápido.
Nova rotina
Ao se apaixonar pela modalidade, acordar diariamente às 4h da manhã para treinar no Lago Paranoá passou a ser rotina. Uma atividade que Califa concilia junto ao trabalho como servidor público do Ministério da Cidadania e ao de professor de educação física no período noturno. Nos feriados e finais de semana, o treino é maior, de quatro a cinco horas consecutivas.
No Ministério, Califa ocupa cargo de técnico de nível superior, tendo trabalhado por dez anos na Secretaria Nacional de Alto Rendimento (SNEAR). Atualmente, integra a equipe da Coordenação Geral de Gestão de Pessoas, na área de saúde e benefícios. Ele afirma ter escolhido esse concurso dentre todos que passou, para continuar trabalhando com o esporte, mesmo que em outra vertente. “O fato de ser servidor efetivo no Ministério da Cidadania me dá uma segurança financeira para custear os campeonatos e a Lei 8.112 nos garante o direito de participar de eventos de representação nacional”.
E todo o esforço valeu a pena. Com apenas alguns meses de treinamento já vieram os primeiros bons resultados em competições. A coroação veio neste mês de julho, quando Califa venceu o Mundial de Canoagem Oceânica e trouxe o ouro inédito para o Brasil.
“Passou um filme na minha cabeça. Entrei na canoagem com o único intuito de buscar algum exercício no qual eu sentisse prazer em praticar e para a questão de qualidade de vida. Queria achar um esporte em que eu me sentisse competitivo e em que eu me sentisse igual, que a minha limitação não me jogasse para baixo”, afirma.
A paixão pelo esporte Califa herdou da família. O pai, Califa Cury, foi atleta amador e apaixonado por esportes e a mãe, Márcia Machado, foi tricampeã brasileira de automobilismo. Além disso, o tio paterno, Nafez Abud Cury, foi campeão pan-americano de judô e atualmente é professor da modalidade e o tio materno, Dalton Machado, é multicampeão de rali.
Mesmo com a recente conquista, Califa não pensou em férias e já voltou a treinar. Em agosto, ele tem o desafio “Do Leme ao Pontal”, no Rio de Janeiro, com 33 quilômetros de canoagem oceânica. No mês seguinte, terá a Copa Brasil e a seletiva para o Mundial de 2022. “Acabei de chegar do Mundial e continuo treinando. Não dá para parar, foi só um passo de muitos que virão”, conclui.
Diretoria de Comunicação – Ministério da Cidadania